São Paulo, terça-feira, 15 de dezembro de 2009

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Senha guiava fraude em concurso policial

Corregedoria descobriu que código anotado no prontuário dos candidatos indicava quem deveria ser aprovado em seleção para perito

Cerca de 17 mil pessoas participaram do concurso; um dos aprovados é primo do diretor do Instituto de Criminalística de SP

ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo encontrou códigos anotados nos prontuários dos 415 candidatos selecionados para a prova oral do concurso para fotógrafo do IC (Instituto de Criminalística).
Os códigos, segundo a Folha apurou, serviam para avisar a banca examinadora sobre quais candidatos deveriam ser beneficiados com perguntas fáceis e aprovados mesmo que tivessem desempenho pífio.
Minutos antes da prova oral, os candidatos passavam por rápida entrevista na qual seus dados pessoais (idade, endereço etc.) eram checados. Era nesse momento que o prontuário do candidato recebia no verso da última folha uma senha que variava de "A" a "D".
A letra "A" significava que o candidato deveria receber tratamento VIP da banca examinadora. Já a letra "D" era a senha para barrar o concorrente.

Primo do diretor
Reportagem publicada pela Folha no fim de novembro mostrou que alguns candidatos foram aprovados mesmo sem responder a grande parte das questões. André das Eiras Braiani, por exemplo, passou mesmo tendo errado a localização da Bahia e sem saber definir o que é um quadrado.
A Corregedoria achou agora uma letra "A+" anotada em seu prontuário. Coincidência ou não, André é primo em terceiro grau do diretor do IC, José Domingo Moreira das Eiras.
O diretor, que integrava a banca, também aparece como o responsável pela indicação de Cristiane Hiroishi e Alessandro Furtado Pecchia. Além de uma nota "A++" para ambos, há um recado na ficha deles: "Recomendado pelo Moreira".
Os nomes de André, Cristiane e Alessandro estão numa lista registrada pela Folha em cartório oito dias antes de o "Diário Oficial" apontar que os três foram aprovados.
Até essa data, nem mesmo os candidatos sabiam (ou não deveriam saber) se haviam sido aprovados. Participaram do concurso 17.621 pessoas.
Além do trio, outro que chegou "altamente recomendado" à prova para fotógrafo pericial foi Rogério Veras Vianello. Ele também ganhou um "A+" e conseguiu ser aprovado mesmo após conjugar "vós troçais" como sendo no pretérito do verbo trazer e dizer que quem nasce em Fortaleza é cearense.
O concurso para fotógrafo foi suspenso no dia 27 de novembro pelo secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto. Os candidatos aguardavam convocação para iniciar o curso da Academia de Polícia.
De acordo com funcionários ligados ao concurso ouvidos pela Folha, se uma nota "A" significava uma aprovação certa, por outro lado, uma "D" significava a reprovação.
Essa nota mínima era dada quando o entrevistador desconfiava do candidato: se achasse que era "bandido" mesmo com uma ficha limpa, dava a senha para que as perguntas fossem implacáveis. "B" era para tratamento normal e "C" para cuidado extra.
Em outubro, na apuração da primeira reportagem sobre o caso, a Folha questionou a Academia sobre a existência dos código. Houve negativa por escrito. Ontem, após a comprovação feita pela Corregedoria, a Folha voltou a procurá-la, mas não houve resposta.


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