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Senha guiava fraude em concurso policial
Corregedoria descobriu que código anotado no prontuário dos candidatos indicava quem deveria ser aprovado em seleção para perito
Cerca de 17 mil pessoas participaram do concurso; um dos aprovados é primo do diretor do Instituto
de Criminalística de SP
ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo encontrou códigos anotados nos prontuários
dos 415 candidatos selecionados para a prova oral do concurso para fotógrafo do IC (Instituto de Criminalística).
Os códigos, segundo a Folha
apurou, serviam para avisar a
banca examinadora sobre
quais candidatos deveriam ser
beneficiados com perguntas fáceis e aprovados mesmo que tivessem desempenho pífio.
Minutos antes da prova oral,
os candidatos passavam por rápida entrevista na qual seus dados pessoais (idade, endereço
etc.) eram checados. Era nesse
momento que o prontuário do
candidato recebia no verso da
última folha uma senha que variava de "A" a "D".
A letra "A" significava que o
candidato deveria receber tratamento VIP da banca examinadora. Já a letra "D" era a senha para barrar o concorrente.
Primo do diretor
Reportagem publicada pela
Folha no fim de novembro
mostrou que alguns candidatos
foram aprovados mesmo sem
responder a grande parte das
questões. André das Eiras
Braiani, por exemplo, passou
mesmo tendo errado a localização da Bahia e sem saber definir o que é um quadrado.
A Corregedoria achou agora
uma letra "A+" anotada em seu
prontuário. Coincidência ou
não, André é primo em terceiro
grau do diretor do IC, José Domingo Moreira das Eiras.
O diretor, que integrava a
banca, também aparece como o
responsável pela indicação de
Cristiane Hiroishi e Alessandro
Furtado Pecchia. Além de uma
nota "A++" para ambos, há um
recado na ficha deles: "Recomendado pelo Moreira".
Os nomes de André, Cristiane e Alessandro estão numa lista registrada pela Folha em
cartório oito dias antes de o
"Diário Oficial" apontar que os
três foram aprovados.
Até essa data, nem mesmo os
candidatos sabiam (ou não deveriam saber) se haviam sido
aprovados. Participaram do
concurso 17.621 pessoas.
Além do trio, outro que chegou "altamente recomendado"
à prova para fotógrafo pericial
foi Rogério Veras Vianello. Ele
também ganhou um "A+" e
conseguiu ser aprovado mesmo após conjugar "vós troçais"
como sendo no pretérito do
verbo trazer e dizer que quem
nasce em Fortaleza é cearense.
O concurso para fotógrafo foi
suspenso no dia 27 de novembro pelo secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira
Pinto. Os candidatos aguardavam convocação para iniciar o
curso da Academia de Polícia.
De acordo com funcionários
ligados ao concurso ouvidos
pela Folha, se uma nota "A"
significava uma aprovação certa, por outro lado, uma "D" significava a reprovação.
Essa nota mínima era dada
quando o entrevistador desconfiava do candidato: se
achasse que era "bandido"
mesmo com uma ficha limpa,
dava a senha para que as perguntas fossem implacáveis. "B"
era para tratamento normal e
"C" para cuidado extra.
Em outubro, na apuração da
primeira reportagem sobre o
caso, a Folha questionou a
Academia sobre a existência
dos código. Houve negativa por
escrito. Ontem, após a comprovação feita pela Corregedoria, a
Folha voltou a procurá-la, mas
não houve resposta.
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