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URBANIDADE
Metro mais caro do mundo é aqui
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Num dos maiores escândalos imobiliários de São
Paulo, o governador Geraldo
Alckmin pode ser forçado pela
Justiça a desembolsar R$ 2 bilhões pela área do parque Villa-Lobos -a decisão sobre o valor
depende ainda de checagem
contábil a ser feita pelo Tribunal
de Justiça. Peritos asseguram
que o terreno valeria 10% disso,
quando foi desapropriado, em
1989 -desde então se avolumaram dívidas e multas. "É um absurdo", reconhece o governador.
Mas o próprio governo estadual é beneficiário desse efeito
perverso de dívidas em áreas desapropriadas. Ganhou, na Justiça, o direito de receber da Prefeitura de São Paulo uma indenização de R$ 60 milhões por 300
metros quadrados na avenida
Paulista -o que faz dali o metro
quadrado mais caro do mundo.
Em 1973, a Emurb (Empresa
Municipal de Urbanização) realizou o alargamento da avenida
Paulista, incorporando os 300
metros quadrados da Cesp
(Companhia de Eletricidade de
São Paulo), próximo à rua Augusta. Em 1990, a Cesp entrou na
Justiça para ganhar uma indenização e venceu.
O juiz determinou o leilão dos
bens da Emurb, entre os quais os
seis andares no Edifício Martinelli, onde está sua sede. A batalha agora é evitar o leilão. "Será
que vou ter de disputar espaço
entre os camelôs para despachar?", ironiza Maurício Farias,
presidente da Emurb.
Criou-se a situação -entre
exótica e inusitada- de que a
empresa municipal encarregada
de planejar e organizar a cidade
não sabe nem sequer onde vai ficar, caso perca a ação. "É injusto", reclama Farias, lembrando
que o banco Itaú tentou vender
um imóvel na av. Paulista, avaliado em R$ 5.000 o metro quadrado; o terreno da Cesp sai por
R$ 177 mil o metro quadrado.
Se, porém, a prefeitura é vítima no caso da avenida Paulista,
faz o papel de algoz no caso Villa-Lobos. Sentindo-se prejudicada na desapropriação daquele
terreno -existia o plano de fazer um loteamento-, a prefeitura entrou com ação contra o governo estadual. Venceu e agora
tem direito a R$ 450 milhões dos
R$ 2 bilhões a serem desembolsados por Alckmin.
Na guerra dos metros quadrados mais caros -que fariam inveja ao Central Park, de Nova
York-, Farias propõe um acerto: o governador esqueceria a dívida da Cesp, empresa à espera
da privatização, e a prefeitura se
disporia a reduzir a cobrança da
indenização do parque.
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