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JUSTIÇA
Serviço registrou 803 casos no país em 2 meses e meio
Maioria das denúncias de tortura envolve policiais civis e militares
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O SOS Tortura, serviço implantado há cerca de dois meses e
meio para receber denúncias, já
registrou 803 casos de tortura em
todo o país, 57% dos quais teriam
sido praticados por policiais civis
e militares. Esse é o primeiro balanço divulgado desde que o serviço começou a funcionar.
O trabalho servirá para mapear
a tortura no Brasil. Antes, o governo federal recebia denúncias esporádicas desse tipo de crime.
A tortura é crime tipificado desde 1997, mas um levantamento do
Ministério Público Federal mostra que, das 509 denúncias feitas
até o fim de 2001, apenas 46 chegaram a julgamento. Em pelo menos 12 casos houve condenação.
Apesar da definição brasileira
de tortura incluir agressões no
âmbito familiar e não só as praticadas por agentes do Estado, como é na maioria dos países, as denúncias revelam que a tortura
brasileira é geralmente praticada
pela polícia, em uma delegacia,
para castigar ou obter confissão.
Os policiais civis são os agressores em 30,6% das denúncias. Os
policiais militares seriam os torturados em 26,7% dos casos.
"É um método de investigação
que a sociedade aceita, porque geralmente é praticada contra criminosos e produz um resultado
eficiente, uma confissão", disse
Olmar Klich, coordenador do
MNDH (Movimento Nacional de
Direitos Humanos), organização
que administra o SOS Tortura.
Segundo ele, os instrumentos
mais usados são o cassetete, aparelhos de choque, gás pimenta,
sacos plásticos e paus-de-arara.
As 803 denúncias serão encaminhadas a comitês estaduais para
apuração e providências.
A tortura familiar, que é muitas
vezes caracterizada como agressão ou abuso, também está sendo
analisada por meio das denúncias. Mais de cem vítimas registradas têm menos de 18 anos.
Outras 15 são idosas. O agressor
é alguém da família em 16% dos
casos contabilizados e a tortura
ocorre em casa em 22% dos casos.
No Rio, essa modalidade foi mais
denunciada que a praticada pela
polícia. Mais da metade dos 43 casos no Estado teriam sido praticados por familiares ou outras pessoas que não sejam policiais.
Em São Paulo -Estado com o
maior número de denúncias, 15%
do total- a Polícia Civil é a mais
denunciada, com 32 casos.
De acordo com Maria Eliane
Menezes, procuradora federal
dos Direitos do Cidadão, o fato de
os tribunais brasileiros aceitarem
os depoimentos colhidos sob tortura incentiva a prática desse crime. "O castigo de criminosos
dentro da prisão também é bem
tolerado pela sociedade, que não
aceita penas alternativas", disse a
procuradora.
Governo
O secretário nacional dos Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, disse que o governo federal pretende denunciar e responsabilizar os Estados pelos crimes
contra os direitos humanos que
serão julgados em cortes internacionais especializadas.
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