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São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

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FEBEM

Motim em unidade de Franco da Rocha ocorreu quando 12 conselheiros tutelares faziam visita para avaliar situação

Menores se rebelam durante inspeção

João Wainer/Folha Imagem
Adolescentes no telhado da unidade da Febem de Franco da Rocha durante a rebelião de ontem


ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 85 internos da Febem de Franco da Rocha (Grande São Paulo) fizeram ontem à tarde a quarta rebelião do ano na unidade. Seis conselheiros tutelares que faziam visita de inspeção ficaram voluntariamente no local. A rebelião começou às 15h e foi controlada por volta de 18h30.
Segundo os conselheiros e a OAB, 14 menores foram feridos pela Polícia Militar -quatro em estado grave. Para a Febem e a PM, houve dez feridos leves. A assessoria da polícia diz que os ferimentos foram causados por brigas entre os próprios rebelados. Os conselheiros não se feriram.
Segundo uma das conselheiras que ficou na unidade, Marina de Lourdes Onofre, todos estavam livres para sair. "Não éramos reféns, ficamos porque quisemos."
Ela disse que houve quatro menores feridos com "gravidade". O advogado Ariel de Castro Alves, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP (Ordem dos Advogados do Brasil) -que esteve no local, após o início do tumulto, para acompanhar as negociações-, disse que viu os feridos.
"Eu vi três internos ensanguentados e estirados no chão. Já tinham sido medicados. Um tinha uma faixa na cabeça. Todos estavam com fraturas graves. Um quarto interno estava com hematomas pelo corpo."
Alves afirmou que a OAB pedirá à Corregedoria da PM a apuração da ação da polícia. A Comissão de Direitos Humanos da OAB deve se reunir hoje à tarde com a presidência da Febem para avaliar as causas da rebelião.
Segundo Marina Onofre, os menores disseram que a rebelião teria sido facilitada pelos funcionários da Febem. O presidente do sindicato dos trabalhadores, Antonio Gilberto da Silva, nega.
Os conselheiros -quatro mulheres e dois homens- faziam parte de um grupo de 12 visitantes que foram verificar as condições em que os menores estão vivendo.
O Conselho Tutelar recebera denúncias, feitas por mães de internos, de que estaria havendo maus-tratos por parte dos funcionários. Os visitantes chegaram à Febem por volta das 12h, mas só entraram às 14h30.
De acordo com outra das conselheiras, Florentina Maria de Jesus Moraes, já havia tensão no ar. "Eles [os internos" estavam batendo nas grades antes mesmo de saber que estávamos lá."
Moraes, que não ficou retida, afirmou que o grupo de conselheiros se dividira em três para entrar nas três alas da unidade 31, que tem 198 adolescentes no total.
A presença dos visitantes aumentou o tumulto que já estaria ocorrendo antes. Funcionários sugeriram que os conselheiros saíssem. Do grupo de 12, seis saíram e seis decidiram ficar.
Os menores pediam transferência da unidade. "O lugar ficou inabitável desde a última rebelião", afirmou Alves.
No final do dia, os rebelados entraram em acordo com a direção da Febem e se concentraram na ala G para serem revistados.
Foi a quinta rebelião em Franco da Rocha em menos de 30 dias, segundo a Febem. Em 2002, houve apenas uma rebelião no local.


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