São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007

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No quarto dia de buscas, bombeiros acham duas vítimas da cratera do metrô

Primeira a ser localizada foi a aposentada Abigail de Azevedo; segunda vítima foi avistada dentro da van, mas ainda não identificada

No início da madrugada de hoje, foi anunciada a suspensão das buscas por 3 a 4 dias, devido ao risco; há outros cinco desaparecidos


DA REPORTAGEM LOCAL

No quarto dia de buscas por vítimas da cratera que se abriu nas obras do metrô em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), dois corpos foram encontrados em meio aos escombros.
O primeiro a ser achado, às 4h50, foi o da aposentada Abigail Rossi de Azevedo, 75, que passava pela rua Capri quando o buraco tragou a via. Ela foi identificada pelas digitais.
A segunda vítima foi avistada, por volta das 17h, dentro da van também engolida pela cratera. Até a conclusão desta edição, não havia sido identificada. Esse corpo não pôde ser retirado. "É uma mulher. Mas eu recomendo que nenhum familiar desça para ver. A cena é muito forte", disse o capitão Minori, que atua nas buscas.
Minutos depois, o comandante do Corpo de Bombeiros da região metropolitana, João dos Santos Souza, afirmou que nem era possível identificar se era homem ou mulher.
No início da madrugada de hoje, o Consórcio Via Amarela anunciou a suspensão das buscas por três a quatro dias, devido ao risco de novos deslizamentos. "A nossa grande preocupação é que a gente não aumente a dimensão do acidente", disse Márcio Pellegrini, responsável pelo consórcio.
Em nota lida pelo assessor de imprensa do consórcio, Mauro Bastos, a empresa informa que os esforços agora serão concentrados na realização de obras para evitar desabamentos.
Pellegrini e Bastos se recusaram a falar sobre causas do acidente, alegando respeito às vítimas que ainda se encontram soterradas. "Todas as questões sobre as obras serão respondidas com argumentos técnicos após o resgate das vítimas", disse Bastos. Diante da insistência dos jornalistas, Bastos e Pellegrini se retiraram.
O comandante dos bombeiros participou da entrevista, realizada no local do acidente. Ele afirmou que seus homens são voltarão a atuar após o consórcio deixar a área segura.
Durante o dia, os trabalhos foram acompanhados por parentes dos desaparecidos. Após saberem que foi vista uma vítima na van, eles se abraçaram e choraram. "Não temos mais esperanças. Já passou muito tempo e estamos muito desgastados", disse Meg Araújo, tia do cobrador da van Wescley Adriano da Silva, 22.
O secretário estadual da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, afirmou que ainda não é possível identificar a causa do desabamento do canteiro de obras. "Temos de esperar os laudos. Mas, agora, a prioridade é encontrar as vítimas."
Até a noite de ontem, cinco pessoas permaneciam desaparecidas: um pedestre, um motorista de um caminhão da obra e outros três ocupantes da van.

As vítimas
A aposentada estava soterrada a cerca de 20 m do solo. Foram cães farejadores que apontaram anteontem à noite onde estava o corpo. Ela foi encontrada às 4h50, após escavações manuais. O trabalho demorou devido à instabilidade da área.
A Secretaria da Segurança informou que o corpo da aposentada foi encontrado partido ao meio, na altura do tórax. Ele teria se rompido durante o soterramento. Parente de um dos desaparecidos e um motorista da obra, porém, dizem que foi a escavadeira que o partiu.
Segundo a Folha apurou, um braço da aposentada foi achado no aterro em Carapicuíba (Grande SP), onde é depositada a terra retirada da cratera.
Encontrado o corpo da aposentada, os trabalhos voltaram a ter como prioridade a retirada da van -que havia sido localizada anteontem às 8h.
Por mais de cinco horas, as equipes de resgate ficaram a cerca de dois metros do veículo. A distância permanecia inalterada porque, quando se retirava a terra de cima, uma outra porção que estava no entorno rolava em direção à van.
Só às 17h25 os bombeiros conseguiram ter um contato visual claro com o veículo. Um corpo foi visto pela janela quebrada do último banco da van, que estava enterrada de bico.
Trinta bombeiros revezaram-se durante todo o dia na operação.
Os trabalhos durante a maior parte do dia foram concentrados na parte superior da cratera, com a retirada de terra pelas retroescavadeiras. Até o início da noite, já haviam sido retirados 450 caminhões de entulho.
No final do dia, porém, a ação teve de ser interrompida, pois uma rocha ameaçava rolar. O resgate precisou colocar concreto na área.
Os bombeiros voltaram então a atuar pela parte inferior, por meio de um túnel, até que os trabalhos foram suspensos, por volta das 22h. (ANDRÉ CARAMANTE, FÁBIO TAKAHASHI, FABIANE LEITE E KLEBER TOMAZ)

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