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Consórcio premiou economia de material
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Consórcio Via Amarela,
que constrói a estação de metrô
que ruiu em São Paulo, pagava
prêmios para as empresas de
projetos de engenharia que
conseguissem reduzir o uso de
materiais, como concreto, cimento ou vergalhões de ferro.
A informação é de dois engenheiros que participaram do
projeto da Via Amarela e não
querem ver seus nomes divulgados por acreditarem que sofreriam retaliações.
O consórcio que faz a Via
Amarela é integrado pelas empresas CBPO Engenharia,
Queiroz Galvão, OAS, Camargo
Corrêa e Andrade Gutierrez. A
CBPO, uma subsidiária da Odebrecht, lidera o consórcio.
O assunto é tão tabu que o
Instituto de Engenharia de São
Paulo e o Sindicato Nacional
das Empresas de Arquitetura e
Engenharia Consultiva não
quiseram comentar a questão.
Pagamento de prêmios é
uma prática usual em contratos
do tipo "turn key" (vire a chave,
em tradução literal, ou chave
nas mãos, numa versão livre).
"Turn key" é uma espécie de
terceirização total -a empresa
ou consórcio contratado devem entregar a obra com tudo
pronto, tem o poder de subcontratar quem bem entender e é
responsável, inclusive, pela fiscalização.
Segundo a política de prêmios adotada pelas empreiteiras, se o projeto de uma estação
resultasse na economia de R$ 5
milhões em concreto, a empresa que o criou podia ganhar R$
500 mil a mais, num exemplo
hipotético.
Oscilações
As normas técnicas tinham
de ser respeitadas nos projetos.
O problema é que o grau de redundância, decisivo para a segurança de obras públicas, podia sofrer oscilações, de acordo
com os dois engenheiros.
Essas pequenas oscilações
dentro da norma técnica podem resultar em uma grande
economia para as empreiteiras.
Um professor de engenharia
civil da Politécnica da USP, que
também não quer ver seu nome
publicado, disse que em certas
obras essa prática pode ser absurda. Empresas de projetos,
segundo ele, têm de ser contratadas como se fossem um cardiologista -o preço não é o fator mais importante, mas sim o
nível de especialização.
Num paralelo irônico, ele comenta que o prêmio para a economia de concreto seria como
pedir ao cardiologista para colocar não três pontes de safena
num paciente que sofreu infarto, mas duas.
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