São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2001

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NARCOTRÁFICO

Detento falsificaria carta, dizendo ir a culto

Ex-mulher de detento cita em CPI esquema para saída do Carandiru

DA REPORTAGEM LOCAL

A auxiliar de enfermagem Regina Merquiades de Oliveira, ex-mulher de um preso da Casa de Detenção do Carandiru (zona norte), disse ontem à CPI do Narcotráfico da Assembléia Legislativa que pedidos de saída de detentos para participar de cultos de evangelização eram falsificados na instituição. A irregularidade teria conivência de funcionários.
A CPI descobriu, no final do ano passado, que o preso José Moisés da Silva, ex-marido de Regina -que está preso por estupro-, saía várias vezes por semana do Carandiru com a desculpa de que ia participar de cultos em uma casa de repouso.
Regina afirmou que o ex-marido fazia os ofícios em um computador da prisão e imprimia o pedido em uma impressora de um obreiro -religioso que entra na cadeia para evangelizar.
No pedido, o preso sempre iria participar de um culto na casa de repouso Oliver -local inexistente. O ofício era levado por um advogado do preso à Justiça.
Segundo Regina, Silva ia para a casa de repouso Nova Vida, em Cotia, de propriedade da família dela, e ficava o dia na piscina ou na sauna. "Isso mostra a conivência dos agentes da escolta, que viam as irregularidades", disse Rosmary Corrêa (PMDB), subrelatora da investigação sobre movimentação irregular de presos.
Silva deixou de frequentar a casa depois que a CPI denunciou o caso. Uma cópia do depoimento será encaminhada à Secretaria de Administração Penitenciária.
A CPI também ouviu ontem dois acusados de participar da conexão Atibaia -esquema de transporte aéreo de drogas a partir do Aeroclube de Atibaia (65 km de São Paulo)-, presos no último dia 8. O empresário Odarício Quirino Ribeiro Neto, dono de um hangar, se recusou a falar com os deputados.
Wilson Martins da Silva, o Wilson Boy, acusado de chefiar o tráfico na zona leste de São Paulo, negou conhecer envolvidos no esquema, mas disse que a defesa de todos era feita em conjunto por um grupo de advogados.
"A relação entre eles fica caracterizada pela estratégia conjunta de defesa", disse o deputado Renato Simões (PT), subrelator da investigação do transporte aéreo. A CPI pretende concluir o relatório final até o dia 25 de fevereiro. (GILMAR PENTEADO)


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