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O PRIMEIRO GOLE
Para reduzir danos, universidade paulista desenvolve atividades com estudantes que bebem em excesso
Em SP, programa ensina jovem a beber
DA REPORTAGEM LOCAL
Beber, os adolescentes vão beber sempre. O importante é ajudá-los a não perder aulas, a não se
envolver em violência, a não dirigir embriagados, a não transar
sem camisinha. Se possível, fazer
com que não caiam sobre seus
próprios vômitos no banheiro.
São lições que, por envolverem
segurança e saúde dos adolescentes, deveriam constar do currículo
das escolas e universidades.
De forma simples, esse é o conceito de redução de danos aplicado ao álcool, idéia ainda polêmica
que vem se espalhando no mundo e que no ano passado mereceu
o 1º encontro internacional, justamente no Brasil. A prática teve
início com usuários de drogas injetáveis, quando se descobriu que
dar a eles seringas novas não os tirava da dependência, mas evitava
que morressem de Aids.
"Uma vez que o beber está presente na sociedade, é melhor que
se comece a ensiná-lo na escola",
afirma Florence Kerr-Corrêa, titular de psiquiatria da Unesp
(Universidade Estadual Paulista).
A professora coordena um programa inédito com estudantes do
campus de Botucatu que bebem
em excesso.
Seu trabalho tem parceria com
o professor Alan Marlatt, psicólogo clínico e diretor do Centro de
Estudos do Comportamento Aditivo da Universidade de Washington (Seattle, EUA), onde iniciou e
vem colocando em prática suas
idéias sobre redução de danos.
Ensinar a beber na escola pode
fazer pensar em drinques na hora
do recreio. Nada disso, lembram
esses especialistas. Trata-se de ensinar que não se deve beber de estômago vazio, que se deve beber
aos poucos, sempre misturando
líquidos, que se deve evitar a mistura de bebidas e que os destilados devem ser evitados. O consumo de três drinques já aumenta o
risco na direção, e quatro ou cinco, tomados em minutos, podem
levar a acidentes graves e à perda
da carta de motorista. Antes de
tudo, o "curso" dirá que, podendo
ficar sem beber, não beba.
O sucesso da estratégia de redução de danos é que ela não implica, necessariamente, parar de beber. Ela é destinada especialmente
a jovens que não bebem todos os
dias, mas que se embriagam a
ponto de perder o controle pelo
menos uma vez por semana. "Os
excessos acontecem principalmente nas chamadas "bocas-livres", nas festas de calouros, e nas
noites "dos colegiais", comuns em
cidades do interior", diz Florence
Kerr-Corrêa. Trabalho semelhante está sendo iniciado na USP e na
Unicamp.
(FABIANE LEITE E AURELIANO BIANCARELLI)
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