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MORTALIDADE INFANTIL
A região da cidade que tinha o melhor índice só melhorou, enquanto a que estava ruim, teve piora
Em São Paulo, desigualdade cresce na saúde
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A desigualdade da saúde de pobres e ricos foi ampliada nos primeiros anos da gestão Marta Suplicy (PT) em São Paulo. É o que
mostra a avaliação do principal
indicador da área feita pela própria prefeitura.
A região da cidade que já tinha o
melhor índice só melhorou. A que
já estava ruim, piorou ainda mais.
A diferença entre o melhor e o
pior coeficiente de mortalidade
infantil, que estima o risco de um
nascido vivo morrer em seu primeiro ano de vida, passou de 10,6
mortes por 1.000 nascidos vivos
em 2001 para 15,5/1.000 em 2002.
O pior índice do primeiro ano,
da área da atual Subprefeitura de
Perus (zona norte), era 2,1 vezes o
da de Pinheiros (zona oeste), com
a melhor marca. Em 2002, passa a
corresponder a 2,8 vezes o de Pinheiros, ainda na melhor posição
-valor próximo ao dos suecos e
japoneses. Cidade Tiradentes, na
zona leste, tem o pior da capital,
23,9/1.000 nascidos vivos.
Enquanto Pinheiros manteve o
menor índice, Cidade Tiradentes
teve um aumento de 29,1%. Em
outras 11 das 31 subprefeituras, a
mortalidade também cresceu -o
pico foi de 45,1%, no Itaim Paulista (zona leste).
No município, também não foi
atingida a meta geral de mortalidade infantil, pactuada entre a
União, o Estado e a capital. O objetivo era chegar a um índice de
14,4 já em 2002 -a prefeitura obteve 15,08. O valor é melhor do
que o de 2001, 15,35, confirmando
a tendência consolidada de queda. Ficou acima do resultado do
Estado, 15,04, mas bem abaixo da
média brasileira: 28,3 em 2000. A
diminuição na cidade, porém,
nunca foi de forma homogênea.
Meta otimista
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera alta a taxa
acima de 40 óbitos de menores de
1 ano de idade por 1.000 nascidos
vivos. A Cúpula Mundial da
Criança fixou como meta para o
Brasil em 2000 a taxa de 30 óbitos
infantis por 1.000 nascidos vivos.
"Achamos os 14,4 [da meta assumida pelo município] excessivamente otimista. Não tínhamos
controle para reduzir nesse grau",
avalia Marcos Drumond Junior,
assistente-técnico da coordenação de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde, responsável pela avaliação desde a gestão
anterior -houve troca de secretários no início de 2003.
Para Drumond Junior, a cidade
é complexa e muito polarizada.
"Nesta cidade, já é um ganho conseguir reduzir."
A prefeitura destaca, em seu relatório, que a mortalidade infantil
depende da ação dos serviços de
saúde, mas também das condições de vida gerais da população,
como educação e trabalho.
Segundo o documento, no entanto, 70% dos óbitos infantis no
município se concentram no período neonatal (dos 0 aos 28 dias
de vida). "Essa característica do
indicador amplia a capacidade de
avaliar os serviços [de saúde] e
marca sua relação com a qualidade do pré-natal e do parto, além
da assistência das crianças no
pós-parto", diz o documento.
"O resultado tem tudo a ver
[com a assistência]. Do pré-natal
até o número de consultas", completa Ana Maria Bara, coordenadora do Programa de Saúde da
Criança do município.
No relatório de gestão de 2002, a
prefeitura apontava que os principais problemas na atenção ao recém-nascido são a falta de assistência ao nascimento, falhas no
atendimento do berçário e no alojamento conjunto, prematuridade e baixo peso, infecção neonatal, insuficiência de leitos para
atendimento ao recém-nascido
doente e falhas na identificação
daqueles que precisam de melhor
acompanhamento.
Ali, a presença do pediatra na
hora do parto era apontada como
fator decisivo na redução das
complicações, assim como a investigação dos óbitos infantis.
"Longe"
O coeficiente de mortalidade infantil compõe o chamado Índice
de Saúde (IS), um indicador construído pela secretaria com a metodologia do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para que
fosse possível um "ranqueamento" de áreas administrativas segundo suas condições de saúde.
O IS é uma "média da média"
em que entram ainda outros três
indicadores: a mortalidade precoce (antes dos 60 anos) por doenças crônicas não-transmissíveis,
como o diabetes; o coeficiente de
mortes por causas externas (homicídios, acidentes); e o coeficiente de incidência de tuberculose por 100 mil habitantes.
Quatro subprefeituras subiram
no ranking (Santo Amaro, Perus,
Aricanduva e Sé/Santa Cecília)
entre 2001 e 2002. Caíram três:
Itaim Paulista, Ipiranga e Ermelino Matarazzo. Pinheiros, Vila
Mariana, Lapa, Mooca, Vila Prudente e Campo Limpo se mantiveram na mesma posição.
Os rankings de 2001 e 2002 mostram o imobilismo nos seus extremos. Pinheiros sempre no topo,
Campo Limpo, periferia da zona
sul, na base. "O índice demora para cair. E é preciso lembrar que estamos longe, no final do município", diz Judith Frank, assistente-técnica da coordenadoria de saúde de Campo Limpo.
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