São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

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CARNAVAL/COMENTÁRIO

As rainhas da folia estão no alto do trio elétrico

Depois dos trios, uma nova linhagem de cantoras invadiu a cena musical brasileira

Além de beleza, energia e gostosura, todas cantam muito e se tornaram a mais completa tradução do Carnaval do terceiro milênio

NELSON MOTTA
COLUNISTA DA FOLHA

Da fubica de Dodô e Osmar e seus paus elétricos até os gigantescos palcos móveis e as megabandas de hoje, os trios elétricos se transformaram numa tecnologia de ponta do entretenimento de massa: um hardware móvel com todas as condições técnicas para abrigar softwares como uma banda de rock, um DJ, um grupo de axé ou um conjunto de música clássica. E enlouquecer o povo em volta, sempre de graça, porque mesmo os que estão sem o abadá e fora da corda ouvem e dançam o mesmo som. Mais democrático é impossível. Só agora o U2 descobriu e usou um trio elétrico, muito inferior aos grandes baianos, nas ruas de Nova York, com sucesso estrondoso.
O desenvolvimento tecnológico do trio elétrico abriu espaço e meios para que surgissem vários novos gêneros musicais afro-brasileiros, que têm como objetivo comum fazer o povo cantar e dançar no Carnaval, arrastando as multidões pelas ruas ancestrais de Salvador como rios de alegria. E, com eles, veio um novo estilo de cantores, formado na dura escola dos trios: para cantar e dançar e animar a massa durante oito horas seguidas, nos seis dias de carnaval baiano, há que ser uma mistura explosiva de atleta e artista.
Com o devido respeito por mestres como Carlinhos Brown, Bel do Chiclete com Banana, Durval Lélis do Asa de Águia, Gerônimo, Tatau do Araketu e tantos outros que cantam e criam as canções do Carnaval do terceiro milênio, são elas, as cantoras, as sereias, as musas da alegria, os frutos mais saborosos da era do trio elétrico. Bonitas, gostosas, poderosas, enérgicas e sedutoras, uma nova linhagem de cantoras invadiu e tomou conta da cena musical brasileira depois dos trios.
A primeira foi Daniela Mercury, que fez do trio o seu palco principal e levou para o disco, as televisões, os teatros e ginásios a festa de ritmo e alegria do samba-reggae, que depois foi chamado, pejorativamente, por um baiano ressentido, de axé-music. Até para sacanear eles são criativos, o nome, o label, o brand, é ótimo! Em Carnaval e marketing os baianos são mestres.
Além de grande cantora, Daniela criou o papel de "estrela de trio elétrico", em que não basta cantar muito bem, exige força e sex appeal, potência e resistência, sedução e energia. E eficiência máxima. Se o povo não dançar, não há marketing que dê jeito: a fila anda, o trio não pode parar. Fã de Elis Regina, Daniela criou, desenvolveu e enobreceu esse novo estilo na terra das cantoras e se tornou uma das maiores vendedoras de discos do Brasil e um sucesso cada vez maior no exterior.
De Daniela a Claudinha Leite do Babado Novo, de Margareth Menezes a Emanuele Araújo, de Gil Melania a Carla Cristina, até a atual soberana Ivete Sangalo, além de beleza, energia e gostosura, todas têm em comum um excepcional preparo vocal, uma técnica assombrosa, todas cantam muito, muito mesmo. Senão nem teriam sobrevivido no alto dos trios. São elas que arrastam as multidões com sua música e sua alegria e se tornaram a mais completa tradução do Carnaval do terceiro milênio. Axé, meninas!


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