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CARNAVAL/COMENTÁRIO
As rainhas da folia estão no alto do trio elétrico
Depois dos trios, uma nova linhagem de cantoras invadiu a cena musical brasileira
Além de beleza, energia e gostosura, todas cantam muito e se tornaram a mais completa tradução do Carnaval do terceiro milênio
NELSON MOTTA
COLUNISTA DA FOLHA
Da fubica de Dodô e Osmar e
seus paus elétricos até os gigantescos palcos móveis e as megabandas de hoje, os trios elétricos se transformaram numa
tecnologia de ponta do entretenimento de massa: um hardware móvel com todas as condições técnicas para abrigar softwares como uma banda de
rock, um DJ, um grupo de axé
ou um conjunto de música clássica. E enlouquecer o povo em
volta, sempre de graça, porque
mesmo os que estão sem o abadá e fora da corda ouvem e dançam o mesmo som. Mais democrático é impossível. Só agora o
U2 descobriu e usou um trio
elétrico, muito inferior aos
grandes baianos, nas ruas
de Nova York, com sucesso
estrondoso.
O desenvolvimento tecnológico do trio elétrico abriu espaço e meios para que surgissem
vários novos gêneros musicais
afro-brasileiros, que têm como
objetivo comum fazer o povo
cantar e dançar no Carnaval,
arrastando as multidões pelas
ruas ancestrais de Salvador como rios de alegria. E, com eles,
veio um novo estilo de cantores, formado na dura escola dos
trios: para cantar e dançar e
animar a massa durante oito
horas seguidas, nos seis dias de
carnaval baiano, há que ser
uma mistura explosiva de atleta e artista.
Com o devido respeito por
mestres como Carlinhos
Brown, Bel do Chiclete com Banana, Durval Lélis do Asa de
Águia, Gerônimo, Tatau do
Araketu e tantos outros que
cantam e criam as canções do
Carnaval do terceiro milênio,
são elas, as cantoras, as sereias,
as musas da alegria, os frutos
mais saborosos da era do trio
elétrico. Bonitas, gostosas, poderosas, enérgicas e sedutoras,
uma nova linhagem de cantoras invadiu e tomou conta da
cena musical brasileira depois
dos trios.
A primeira foi Daniela Mercury, que fez do trio o seu palco
principal e levou para o disco,
as televisões, os teatros e ginásios a festa de ritmo e alegria do
samba-reggae, que depois foi
chamado, pejorativamente, por
um baiano ressentido, de axé-music. Até para sacanear eles
são criativos, o nome, o label,
o brand, é ótimo! Em Carnaval
e marketing os baianos são
mestres.
Além de grande cantora, Daniela criou o papel de "estrela
de trio elétrico", em que não
basta cantar muito bem, exige
força e sex appeal, potência e
resistência, sedução e energia.
E eficiência máxima. Se o povo
não dançar, não há marketing
que dê jeito: a fila anda, o trio
não pode parar. Fã de Elis Regina, Daniela criou, desenvolveu
e enobreceu esse novo estilo na
terra das cantoras e se tornou
uma das maiores vendedoras
de discos do Brasil e um sucesso cada vez maior no exterior.
De Daniela a Claudinha Leite
do Babado Novo, de Margareth
Menezes a Emanuele Araújo,
de Gil Melania a Carla Cristina,
até a atual soberana Ivete Sangalo, além de beleza, energia e
gostosura, todas têm em comum um excepcional preparo
vocal, uma técnica assombrosa,
todas cantam muito, muito
mesmo. Senão nem teriam sobrevivido no alto dos trios. São
elas que arrastam as multidões
com sua música e sua alegria e
se tornaram a mais completa
tradução do Carnaval do terceiro milênio. Axé, meninas!
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