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"Cabeleira do Zezé" é a música mais executada no Carnaval
Canção de João Roberto Kelly feita para zombar de garçom é a campeão da folia
Sete das dez músicas mais populares do período de Carnaval nos últimos oito anos são marchinhas, segundo números do Ecad
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Qual música será a mais tocada neste Carnaval? Antes de
apostar em um samba-enredo
ou num hit de Ivete Sangalo,
consulte as listas do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).
Elas apontam que "Cabeleira
do Zezé", maior sucesso do
Carnaval de 1964, na voz de
Jorge Goulart, lidera as paradas
do período de folia desde 2001
-o órgão afirma não dispor de
dados mais antigos.
A relação de músicas mais tocadas nos Carnavais desta década foi feita pela Folha a partir de listas do Ecad que elencam as músicas mais cantadas
no Carnaval, de 2001 a 2008.
Como o órgão não fornece o
número de execuções de cada
uma, a reportagem atribuiu dez
pontos à música mais tocada de
cada ano, nove à segunda, oito à
terceira e assim por diante até
a décima, que levou um ponto.
A soma indicou as vencedoras.
O autor da música campeã,
João Roberto Kelly, 71, é responsável também por "Mulata,
Yê, Yê, Yê", outra das sete marchinhas que estão entre as dez
mais do Carnaval na década.
A história de "Cabeleira do
Zezé" começou em 1963 no bar
São Jorge, em Copacabana (zona sul do Rio). Logo que chegou
com a namorada, o compositor,
então com 25 anos, notou um
garçom de cabelos compridos.
Naquela época eram raros os
cabeludos. Kelly chegou a desconfiar de José Antônio, o Zezé
-não por conta de sua opção
sexual, mas pela ousadia. "Ele
ficou piscando para a moça que
estava comigo". Mas Kelly não
reagiu -apenas guardou a fisionomia de Zezé.
Dias depois, após trocar
ideias com o amigo Roberto
Faissal, ator, que também assina a parceria, Kelly concluía o
sucesso "Cabeleira do Zezé".
As marchinhas que são campeãs do Carnaval até hoje foram compostas entre 1931 e
1964. Como explicar tanto sucesso? "Esse tipo de música dá
uma injeção de ânimo quando
o salão está se esvaziando", diz
o pesquisador musical Jairo
Severiano, que considera "Bandeira Branca", de 1970, a última grande representante da
vertente. "Nos anos 70, o samba-enredo passou a concentrar
as atenções", afirma.
"Sorte Grande"
"Poeiraaa-a-a, poeiraaa-a-a,
levantou poeira!" Quem nunca
ouviu essa canção, na voz de
Ivete Sangalo ou de torcidas de
futebol? "Sorte Grande" é uma
das duas músicas lançadas nesta década entre as dez mais tocadas no Carnaval neste período. Seu autor, Lourenço Olegário dos Santos Filho, demorou
quatro anos para encontrar um
cantor disposto a gravá-la.
Ele conta que compôs "Sorte
Grande" em 1999 e ofereceu a
canção ao grupo Molejo, que a
recusou. No ano seguinte, apresentou a composição ao grupo
As Meninas. "Adaptei a música,
colocando um ritmo que lembrava "Xibom Bombom", sucesso do grupo. Mas elas também
não quiseram", diz o autor.
Só em 2003 a música foi
apresentada a Ivete Sangalo e
ganhou uma intérprete. Foi a
mais cantada no Carnaval de
2004, vice-campeã em 2005,
oitava em 2006, décima em
2007 e 16ª em 2008.
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