São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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"Cabeleira do Zezé" é a música mais executada no Carnaval

Canção de João Roberto Kelly feita para zombar de garçom é a campeão da folia

Sete das dez músicas mais populares do período de Carnaval nos últimos oito anos são marchinhas, segundo números do Ecad


FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Qual música será a mais tocada neste Carnaval? Antes de apostar em um samba-enredo ou num hit de Ivete Sangalo, consulte as listas do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).
Elas apontam que "Cabeleira do Zezé", maior sucesso do Carnaval de 1964, na voz de Jorge Goulart, lidera as paradas do período de folia desde 2001 -o órgão afirma não dispor de dados mais antigos.
A relação de músicas mais tocadas nos Carnavais desta década foi feita pela Folha a partir de listas do Ecad que elencam as músicas mais cantadas no Carnaval, de 2001 a 2008.
Como o órgão não fornece o número de execuções de cada uma, a reportagem atribuiu dez pontos à música mais tocada de cada ano, nove à segunda, oito à terceira e assim por diante até a décima, que levou um ponto. A soma indicou as vencedoras.
O autor da música campeã, João Roberto Kelly, 71, é responsável também por "Mulata, Yê, Yê, Yê", outra das sete marchinhas que estão entre as dez mais do Carnaval na década.
A história de "Cabeleira do Zezé" começou em 1963 no bar São Jorge, em Copacabana (zona sul do Rio). Logo que chegou com a namorada, o compositor, então com 25 anos, notou um garçom de cabelos compridos.
Naquela época eram raros os cabeludos. Kelly chegou a desconfiar de José Antônio, o Zezé -não por conta de sua opção sexual, mas pela ousadia. "Ele ficou piscando para a moça que estava comigo". Mas Kelly não reagiu -apenas guardou a fisionomia de Zezé.
Dias depois, após trocar ideias com o amigo Roberto Faissal, ator, que também assina a parceria, Kelly concluía o sucesso "Cabeleira do Zezé".
As marchinhas que são campeãs do Carnaval até hoje foram compostas entre 1931 e 1964. Como explicar tanto sucesso? "Esse tipo de música dá uma injeção de ânimo quando o salão está se esvaziando", diz o pesquisador musical Jairo Severiano, que considera "Bandeira Branca", de 1970, a última grande representante da vertente. "Nos anos 70, o samba-enredo passou a concentrar as atenções", afirma.

"Sorte Grande"
"Poeiraaa-a-a, poeiraaa-a-a, levantou poeira!" Quem nunca ouviu essa canção, na voz de Ivete Sangalo ou de torcidas de futebol? "Sorte Grande" é uma das duas músicas lançadas nesta década entre as dez mais tocadas no Carnaval neste período. Seu autor, Lourenço Olegário dos Santos Filho, demorou quatro anos para encontrar um cantor disposto a gravá-la.
Ele conta que compôs "Sorte Grande" em 1999 e ofereceu a canção ao grupo Molejo, que a recusou. No ano seguinte, apresentou a composição ao grupo As Meninas. "Adaptei a música, colocando um ritmo que lembrava "Xibom Bombom", sucesso do grupo. Mas elas também não quiseram", diz o autor.
Só em 2003 a música foi apresentada a Ivete Sangalo e ganhou uma intérprete. Foi a mais cantada no Carnaval de 2004, vice-campeã em 2005, oitava em 2006, décima em 2007 e 16ª em 2008.


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