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carnaval 2010
Samba lateral
Escolas de samba da Bahia e de Pernambuco tentam sobreviver
em meio a Carnavais regados a axé e frevo
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
São Paulo pode ser o túmulo
do samba, como dizia Vinicius
de Moraes, mas difícil mesmo é
esquentar o pandeiro nos Carnavais da Bahia e de Pernambuco, berços do axé e do frevo.
O ritmo resiste a duras penas
nas capitais dos dois Estados.
Em Recife, agremiações com
baterias, alas e porta-bandeiras
até desfilam em concursos. Dependem, no entanto, do dinheiro de "vaquinhas", bingos e festas para colocar o bloco na rua.
Em Salvador, a situação é
muito pior. Única escola de
samba em atividade por lá, a Lira Imperial não tem nem sambódromo para se apresentar.
Os 80 integrantes da bateria
baiana acabam em outros blocos, e o presidente da escola,
Alaor Macedo, sai às ruas como
folião-pipoca, que brinca fora
dos blocos ou dos camarotes.
Os outros sambistas da cidade foram incorporados ao típico Carnaval do Estado e sobem
em trios elétricos para participar da festa. Quem fica no chão,
como a Lira, fica sem palco.
Fundada em 2006, a agremiação tem barracão, bateria,
mestre-sala, bandeira nas cores
laranja, verde e branca e até
samba-enredo. Mas ainda busca meios para se manter.
"O dinheiro deve vir da iniciativa privada", diz Macedo.
"Precisamos pensar o samba
como empresários, como fizeram com o axé, mas o governo
tem outras prioridades, como
saúde e educação", afirma.
O sambista sonha em resgatar a fase áurea das escolas de
samba baianas das décadas de
1960 e 1970, quando a folia chegava a reunir 14 escolas em dois
grupos. O último desfile na capital baiana foi em 1976 - dez
anos antes da ascensão do Axé.
Macedo atribui a decadência
à falta de estrutura das escolas
de samba da época, que não
conseguiram criar um modelo
econômico de sucesso, como os
atuais blocos de trio elétrico.
Percussionistas e passistas
migraram para os blocos afros e
afoxés, como Ilê Aiyê e Filhos
de Gandhy. Macedo acredita
num caminho inverso e enxerga nele o ressurgimento das escolas de samba na Bahia.
"Blocos como o Muzenza já
estão saindo com alas, carros
alegóricos e temas. Além da
busca pelo sustento financeiro,
só falta um passo: é só acelerar
o ritmo e mudar a batida que o
samba está de volta", disse.
Em Pernambuco, apesar de
as escolas de samba terem surgido ainda na época da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945),
até hoje elas não conseguiram
rivalizar com os ritmos e manifestações tradicionais do Estado, como o frevo e o maracatu.
Em Recife, existem cerca de
20 agremiações, divididas em
três grupos. Elas desfilam nas
noites da segunda de Carnaval,
em uma avenida na região central, de graça para o público.
Padrão
O modelo adotado no concurso pernambucano segue o
padrão consagrado no Rio e em
São Paulo. As agremiações desfilam, uma comissão julgadora
avalia e, na quinta pós-cinzas,
anuncia-se os vencedores.
A maior escola de Pernambuco é a Gigantes do Samba. Com
1.500 integrantes, ostenta 44
títulos em 67 anos de existência. Mas esse currículo não a
tornou conhecida por turistas.
"Nossa luta é grande, porque
Pernambuco é a terra do frevo,
e o samba fica em terceiro plano", lamenta o presidente da
agremiação, o policial civil Rivaldo Figueiredo Lacerda, 51.
Este ano, afirmou, para realizar o seu desfile, a Gigantes recebeu da prefeitura R$ 12 mil. A
escola gastou R$ 90 mil. "Tivemos que fazer churrasco, bingo,
festa, e pedir ajuda no comércio
para arrumar todo o dinheiro."
Lacerda diz que perdeu dez
kg em 45 dias. "Estou com a
pressão alta, fiquei depressivo,
e não dei atenção para a família
para ver a escola sair", disse.
Nos últimos anos, os sambistas acharam um meio de se infiltrar no roteiro do frevo. Com
uma pequena bateria, desfilam
no centro histórico de Olinda,
arrastando foliões pelas ladeiras, como fazem os maracatus.
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