São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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SEGURANÇA

General agora nega que descobriu fuzis após denúncia e não detalha localização nem quantos soldados participaram da ação

Exército muda versão sobre armas roubadas

Flávio Florido/Folha Imagem
Construção abandonada onde, de acordo com a versão apresentada pelo Exército, fuzis e pistola foram encontrados anteontem


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O Exército se contradisse, mudou sua versão para o encontro de armas roubadas e voltou a negar ontem acordo com a facção criminosa Comando Vermelho, como a Folha revelou ontem.
Designado pelo Exército para falar sobre o caso, o general Hélio Chagas de Macedo Júnior desmentiu o que ele próprio divulgara anteontem após a suposta localização dos dez fuzis e de uma pistola roubados há duas semanas de um quartel no Rio.
Em entrevista, o general, chefe do Estado-Maior do CML (Comando Militar do Leste), negou a frase que dissera na noite anterior: "Houve uma denúncia no local de um elemento que passou, fez a denúncia e se evadiu". Ontem, disse que o informante não existiu. "Dei como exemplo. Isso, em determinadas ações, pode acontecer", disse ele, que não explicou a razão de ter mudado a versão dada 12 horas antes. Ontem, só repetiu que "dados de inteligência informaram o local."
As armas estavam em poder do CML desde domingo, segundo a Folha apurou. Mesmo assim, uma megaoperação na Rocinha foi montada na segunda-feira.
As armas foram entregues pelos ladrões após acordo entre integrantes do Exército e líderes do CV. Em troca, os militares concordaram em retirar as tropas das favelas; em apresentar as armas como se tivessem sido achadas em uma favela sob o domínio da facção inimiga, a ADA (Amigos dos Amigos), e em transferir um líder do CV de presídio.
O chefe do Estado-Maior negou ter havido negociação com o CV. "Nós não negociamos com criminosos e com gente fora-da-lei. (...) De maneira nenhuma houve contato, acordo ou negociação."
Macedo Júnior foi reticente ao falar de como as armas foram achadas. Não divulgou em que ponto da trilha elas estariam nem quantos homens do Exército participaram da ação. Recusou-se ainda a dizer em quais batalhões esses militares trabalham.
O comandante militar do Leste, general Domingos Curado, não participou da entrevista. Procurados pela Folha, o ministro da Defesa, o vice-presidente José Alencar, e o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, não quiseram falar sobre o caso.
Apesar de o general ter dito ontem que o "elemento" não existia, o secretário estadual de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, chegou a dizer, na mesma entrevista, que o tal homem indicara uma casa onde eram guardadas uma pistola e uma farda do Exército. A informação se confirmou, afirmou o secretário. "Tenho a obrigação de preservar a nossa fonte."
As armas foram roubadas no último dia 3, por um bando armado, do Estabelecimento Central de Transporte, em São Cristóvão. Na noite de anteontem, o CML informou tê-las localizado em uma trilha em São Conrado, zona sul, onde fica a favela da Rocinha.
O prefeito do Rio, Cesar Maia, disse saber, desde segunda-feira à noite, que o Exército já havia recuperado as armas. Ele fez a afirmação na manhã de ontem.
"Trabalho com as informações que tenho. Minha informação é que as armas tinham sido localizadas e que se encontrou o melhor momento. Acho que foi o melhor momento para serem apresentadas", disse. Ele assegurou que suas fontes eram seguras.

Colaborou RAPHAEL GOMIDE, da Sucursal do Rio


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