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Abandonada, escola faz rodízio de alunos
Escola municipal de SP sofre com falta de funcionários e seis salas de aula interditadas; alunos perdem até metade das aulas
Cerca de 140 estudantes já pediram transferência; outras escolas públicas do bairro estão superlotadas, diz conselho tutelar
Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem
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Muro quebrado na escola municipal Flávio Augusto Rosa, no bairro do Itaim Paulista; pais de alunos reclamam das más condições
EVANDRO SPINELLI
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Salas de aula interditadas por
falta de condições de uso. Alunos obrigados a estudar em "rodízio". Pais limpando banheiros e distribuindo merendas.
Lixo acumulado no pátio.
A descrição acima retrata a
situação da escola municipal
Flávio Augusto Rosa, no Itaim
Paulista, extremo leste de São
Paulo, um símbolo da crise do
ensino público paulistano evidenciada pelos péssimos resultados que os colégios municipais e estaduais da cidade obtiveram nas recentes avaliações
de desempenho no país.
A condição da escola, que
pertence à administração Gilberto Kassab (PFL), é de quase
completo abandono. O colégio
até anteontem não tinha nem
diretor -o novo assumiu ontem, após dois meses.
Localizada num dos bairros
mais pobres da periferia de São
Paulo, a escola fica ao lado do
rio Tietê, na divisa com Guarulhos e Itaquaquecetuba.
Um buraco no muro da quadra de esportes serve de abrigo
para moradores de uma favela
vizinha quando chove na região
e o rio Tietê enche.
A situação da Flávio Augusto
Rosa é tão ruim que muitos pais
tiraram seus filhos da unidade a
fim de matriculá-los em outros
colégios públicos da região que,
conseqüentemente, acabaram
superlotados -com até 40 alunos por sala. Só neste ano houve pelo menos 140 transferências -a escola tem 1.475 alunos.
A precariedade do colégio se
refletiu na Prova Brasil, exame
que avalia o grau de aprendizado dos alunos de 4ª e 8ª séries.
Os alunos do colégio obtiveram
notas inferiores à média das demais escolas municipais.
Rodízio
O fim do terceiro turno na escola, o chamado "turno da fome", porque era na hora do almoço, das 11h às 15h, foi um desastre, segundo pais que se reuniram anteontem na porta da
unidade para relatar os problemas à Folha.
Até o ano passado, os alunos
assistiam aulas em três períodos de quatro horas cada um.
Para este ano, a prefeitura
anunciou o fim do terceiro turno em toda a rede. Com isso, os
estudantes ficariam cinco horas por dia na escola.
Só que a interdição de 6 das
20 salas não deixou que isso
ocorresse. Em vez de três, a escola tem agora quatro turnos.
O horário de aulas, no período da manhã, vai das 7h às 12h.
Para os alunos de 5ª a 8ª séries,
quem entra às 7h sai às 9h30
para a entrada da outra metade. À tarde, a situação se repete. Perde-se metade das aulas
todos os dias.
De 1ª a 4ª séries, todos os
dias uma turma é levada para
outras atividades para que uma
outra possa usar a mesma sala.
Cada turma perde 2h30min de
aula por semana.
A escola sofre também com
falta de funcionários, segundo
os pais, que fazem a limpeza e
ajudam a cuidar dos alunos.
Nivalda Francisca da Silva
Pereira, 45, tem um filho na 7ª
série e vai todos os dias ajudar
na limpeza. Sirléia Aparecida
da Costa todos os dias limpa a
sala de aula de sua filha, que está na 2ª série.
A manicure Ingrid Roberta
de Andrade, 23, mãe de um aluno da 2ª série, e a dona-de-casa
Leila Patrícia Fontes de Carvalho, 28, com um filho na 3ª série, fazem o papel de inspetoras
de ensino e organizam a distribuição da merenda.
"Como é que nós, mães, temos de deixar a nossa casa para
limpar a escola sendo que a
prefeitura tem verba para isso?", disse Nivalda.
Da segurança, ninguém cuida. A escola é aberta -entra e
sai quem quer, na hora que
quer. A Folha constatou isso
nas duas visitas à escola.
Também há reclamação com
relação à merenda. Nesta semana, a merenda foi distribuída normalmente, mas o peixe
servido na terça-feira só foi
temperado porque uma das
mães providenciou.
No ano passado, disse Sirléia,
os alunos comeram apenas o
biscoito doce "goiabinha" durante quase todo o ano.
O secretário municipal da
Educação, Alexandre Schneider, deve ir hoje à escola para
conversar com pais, professores e funcionários. Ele promete
resolver todos os problemas.
O conselho tutelar da região
investiga o caso. "Estamos cobrando a transformação da escola", disse o conselheiro tutelar Adenilson Lima Souza.
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