São Paulo, domingo, 16 de março de 2008

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Rigor da Espanha afeta cidade que mais "exporta" mulheres

Garotas que supostamente se prostituem na Espanha dão fama a Uruaçu (GO)

Todos na cidade conhecem alguma "moça" que foi para o país; segundo a prefeitura, número de mulheres que viaja para se prostituir caiu

JOHANNA NUBLAT
LULA MARQUES

ENVIADOS ESPECIAIS A URUAÇU (GO)

Conhecida como grande exportadora de pessoas para a Espanha, principalmente mulheres que supostamente se prostituem, a pequena Uruaçu (GO) já sente os efeitos do maior rigor para a entrada em território espanhol e do grande número de brasileiros deportados.
"Eu ia pra lá, mas vou esperar passar essa crise" foi uma das frases ouvidas pela Folha. Como na maioria das conversas, a moça se negou a dizer o nome.
O município de 33 mil habitantes é, segundo estimativa de Luciano Dornelas, delegado da Polícia Federal em Goiás, o terceiro do Estado que mais manda mulheres para prostituição na Europa -principalmente para Espanha e Portugal. O primeiro, segundo ele, é Anápolis (população de 300 mil) e o segundo, Goiânia (1,2 milhão).
Os goianos são maioria na Europa, diz o governo do Estado -cerca de 250 mil.
Não é apenas a prostituição que atrai as uruaçuenses. Uma outra mulher que também pediu para não ser identificada disse que morou parte do ano passado na Espanha trabalhando como babá. Em dezembro, quando tentou voltar à Europa a passeio, via Portugal, foi barrada. "Eles acham que tudo quanto é brasileiro é para prostituição mesmo, não pode ser uma viagem para passear."
Em Uruaçu é difícil conseguir detalhes de histórias de quem foi para a Espanha e de quem quer ir. Mas todos dizem conhecer pelo menos uma "espanhola" -moça que se aventurou pela Europa.
Os casos de uruaçuenses que voltaram "ricas" do exterior começaram a agitar o município no início da década. Nas portas do comércio fala-se que as "pioneiras" hoje têm carros caros e mais de uma casa.
O ganho econômico é acompanhado de perto pelos vizinhos. "É só você olhar um muro melhorzinho pra saber que tem alguma "espanhola'", diz o garçom Cleyton Tavares, 19.
Ele acabou de perder uma namorada para a Espanha. O que ela foi fazer? "Ela diz que foi olhar neném, mas não sei, né? Já ligou dizendo que comprou um celular novinho e que está cheia de ouro no pescoço."
"Só "espanhola" pode comprar jóia? Amigas me perguntaram se tinha ido para a Espanha por causa do meu cordão de ouro", diz outra "anônima".
Para a secretária de Promoção Social do município, Estela Galvão, "o número de "espanholas" é insignificante e está diminuindo por causa das conseqüências ruins que algumas trazem de volta, como doenças e maus tratos".

Sonho
Melhorar de vida era o sonho da família Barbosa, que mora numa casa cor-de-rosa no alto de Uruaçu. Não deu certo. Uma das duas filhas de Creusa Barbosa, 49, que foram se prostituir na Espanha morreu afogada em 2005. A mãe acredita que ela foi perseguida e drogada.
A filha que morreu saiu aliciada de Uruaçu aos 18 anos com o nome de Ellizanggilla e deixando dois bebês com a mãe. Em Madri, viveu até os 22 anos, teve o terceiro filho e adotou o nome de Lorena.
"Foi o pessoal de Goiânia que a levou. Ela não foi enganada. Chegou lá e não gostou, ela não gostava de se prostituir. Tentou voltar, mas tinha que pagar R$ 4.000", conta a mãe.


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