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Rigor da Espanha afeta cidade que mais "exporta" mulheres
Garotas que supostamente se prostituem na Espanha dão fama a Uruaçu (GO)
Todos na cidade conhecem alguma "moça" que foi para o país; segundo a prefeitura, número de mulheres que viaja para se prostituir caiu
JOHANNA NUBLAT
LULA MARQUES
ENVIADOS ESPECIAIS A URUAÇU (GO)
Conhecida como grande exportadora de pessoas para a Espanha, principalmente mulheres que supostamente se prostituem, a pequena Uruaçu (GO)
já sente os efeitos do maior rigor para a entrada em território
espanhol e do grande número
de brasileiros deportados.
"Eu ia pra lá, mas vou esperar
passar essa crise" foi uma das
frases ouvidas pela Folha. Como na maioria das conversas, a
moça se negou a dizer o nome.
O município de 33 mil habitantes é, segundo estimativa de
Luciano Dornelas, delegado da
Polícia Federal em Goiás, o terceiro do Estado que mais manda mulheres para prostituição
na Europa -principalmente
para Espanha e Portugal. O primeiro, segundo ele, é Anápolis
(população de 300 mil) e o segundo, Goiânia (1,2 milhão).
Os goianos são maioria na
Europa, diz o governo do Estado -cerca de 250 mil.
Não é apenas a prostituição
que atrai as uruaçuenses. Uma
outra mulher que também pediu para não ser identificada
disse que morou parte do ano
passado na Espanha trabalhando como babá. Em dezembro,
quando tentou voltar à Europa
a passeio, via Portugal, foi barrada. "Eles acham que tudo
quanto é brasileiro é para prostituição mesmo, não pode ser
uma viagem para passear."
Em Uruaçu é difícil conseguir detalhes de histórias de
quem foi para a Espanha e de
quem quer ir. Mas todos dizem
conhecer pelo menos uma "espanhola" -moça que se aventurou pela Europa.
Os casos de uruaçuenses que
voltaram "ricas" do exterior começaram a agitar o município
no início da década. Nas portas
do comércio fala-se que as
"pioneiras" hoje têm carros caros e mais de uma casa.
O ganho econômico é acompanhado de perto pelos vizinhos. "É só você olhar um muro melhorzinho pra saber que
tem alguma "espanhola'", diz o
garçom Cleyton Tavares, 19.
Ele acabou de perder uma
namorada para a Espanha. O
que ela foi fazer? "Ela diz que
foi olhar neném, mas não sei,
né? Já ligou dizendo que comprou um celular novinho e que
está cheia de ouro no pescoço."
"Só "espanhola" pode comprar jóia? Amigas me perguntaram se tinha ido para a Espanha por causa do meu cordão
de ouro", diz outra "anônima".
Para a secretária de Promoção Social do município, Estela
Galvão, "o número de "espanholas" é insignificante e está
diminuindo por causa das conseqüências ruins que algumas
trazem de volta, como doenças
e maus tratos".
Sonho
Melhorar de vida era o sonho
da família Barbosa, que mora
numa casa cor-de-rosa no alto
de Uruaçu. Não deu certo. Uma
das duas filhas de Creusa Barbosa, 49, que foram se prostituir na Espanha morreu afogada em 2005. A mãe acredita que
ela foi perseguida e drogada.
A filha que morreu saiu aliciada de Uruaçu aos 18 anos
com o nome de Ellizanggilla e
deixando dois bebês com a
mãe. Em Madri, viveu até os 22
anos, teve o terceiro filho e adotou o nome de Lorena.
"Foi o pessoal de Goiânia que
a levou. Ela não foi enganada.
Chegou lá e não gostou, ela não
gostava de se prostituir. Tentou
voltar, mas tinha que pagar
R$ 4.000", conta a mãe.
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