São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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Homem é morto a pauladas em Carapicuíba

Corpo foi encontrado em matagal próximo ao parque dos Paturis, local de uma série de 13 assassinatos em 2007 e 2008

Crimes ocorridos no parque foram atribuídos pela polícia ao "maníaco do arco-íris'; relação entre os assassinatos é investigada

TALIS MAURICIO
DO "AGORA"

Um homem de 25 anos foi encontrado morto, ontem de madrugada, em um matagal a cerca de 200 metros de distância do parque dos Paturis, em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo.
Ivanildo Francisco de Sales Neto foi morto a pauladas e encontrado com as calças arriadas. Ninguém foi preso.
Segundo o ajudante de cozinha Paulo Cesar Ferraz de Oliveira, 31, amigo da vítima, Sales Neto era homossexual assumido. O parque, que à noite é ponto de encontro de homossexuais, é o mesmo onde, entre julho de 2007 e agosto de 2008, ocorreram 13 assassinatos.
O sargento reformado da Polícia Militar Jairo Francisco Franco, suspeito pelos crimes, chegou a ser preso em dezembro do ano passado, mas foi solto após os 30 dias de prisão temporária. Franco nega os crimes. Segundo o delegado seccional de Carapicuíba, Paulo Fernando Fortunato, o sargento será intimado a depor ainda hoje sobre a morte de ontem.
A Polícia Civil de São Paulo não confirma se a morte de ontem está relacionada aos crimes que são atribuídos ao chamado "maníaco do arco-íris" -uma alusão à bandeira colorida da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).
"É um crime que teve características diferentes das demais. Mas não descartamos a hipótese [de haver ligação entre eles]", disse Fortunato.
Dos 13 mortos até então, disse o policial, apenas um foi a pauladas, como o caso de ontem. As outras 12 vítimas foram assassinadas a tiro.
De acordo com a polícia, o corpo de Sales Neto foi encontrado por policiais militares em uma área de muito mato que, pela falta de grades no contorno do parque, se confunde com os fundos da área de lazer.
Um morador da rua Alvinópolis, próxima ao matagal, disse que a vítima estava com o rosto desfigurado. "Ele tinha a pele morena, cabelo comprido e unhas pintadas. Mas o que chamou a atenção foi o rosto. Estava irreconhecível", afirmou o porteiro de 37 anos que pediu para não ser identificado.
Nenhuma testemunha foi localizada pela polícia para prestar depoimento.
Na busca a familiares e amigos da vítima, a única pessoa encontrada foi Oliveira, com quem Sales Neto morava no bairro São Daniel, em Carapicuíba, desde novembro do ano passado -os seus familiares estão todos em Pernambuco.
"Nunca tive conhecimento de nenhum tipo de ameaça que ele vinha sofrendo", disse o amigo. "Era uma pessoa normal, de confiança. Sempre respeitou minha mulher e meus cinco filhos."
Oliveira afirmou que Sales Neto procurava emprego diariamente. "Acredito que possa ter sido um assalto, não sei."
Ainda segundo o amigo, a vítima costumava frequentar o parque e era constantemente orientada por ele a não ficar na região. "Eu avisava do perigo, mas não adiantava."
Aos 17 anos, Sales Neto saiu de Jaboatão dos Guararapes (PE) rumo a São Paulo. Ele ficou cinco anos na casa de Oliveira, em Carapicuíba, tentou retornar para a cidade natal, mas, dois anos depois, voltou para São Paulo. "Os tios não aceitavam o fato de ele ser gay, por isso brigavam muito. Já em São Paulo, ele tinha o nosso carinho", disse Oliveira.
Em Pernambuco, o jovem quase não teve contato com os pais, segundo o ajudante de cozinha. A avó foi quem o criou.


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