São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2010

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"Foi eu", afirma o acusado de matar a tiros Glauco e Raoni

Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, foi detido na madrugada de ontem ao tentar atravessar a ponte da Amizade rumo ao Paraguai

Segundo a PF, o acusado contou no depoimento que ficou escondido de sexta até domingo no meio do mato no pico do Jaraguá

Christian Rizzi/Agência de Noticias Gazeta do Povo
O jovem Nunes é acompanhado por policiais em Foz do Iguaçu (PR), onde prestou depoimento ontem

COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM FOZ DO IGUAÇU (PR)
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, confessou ontem à Polícia Federal de Foz do Iguaçu (PR) ter matado a tiros o cartunista e líder religioso Glauco Vilas Boas, 53, e seu filho, Raoni, 25, por volta da 0h de sexta-feira. "Foi eu" [sic], disse o rapaz a uma emissora de TV.
"Tô com uma arma na mão, no meio do mato, apontando a arma para um cara famoso. Os caras vão me condenar à morte aqui no Brasil. Vão me foder com a vida. Aí eu peguei e falei: "Você fodeu com a minha, demorou, vou foder com a sua também". Aí atirei nele", disse à TV Bandeirantes.
Gustavo Badaró, advogado do acusado, questionou a validade da declaração à TV. "Ele não aparentava estado de normalidade. [Por isso,] A confissão não tem valor jurídico." Ele não diz se, na conversa que teve com o cliente, este admitiu ou não ser o autor do crime.
Nunes foi preso anteontem, por volta das 23h, quando tentava fugir para o Paraguai. Antes, ele havia sido abordado pela polícia por estar com um carro roubado. Fugiu e, na perseguição, atirou, ferindo um agente federal. Só foi detido do outro lado da ponte da Amizade, pela Marinha paraguaia.
Segundo a PF, Nunes contou que ficou escondido de sexta a domingo no pico do Jaraguá (zona norte de São Paulo). De lá, diz o relato, foi até a zona oeste, onde roubou, por volta das 9h, o Fiesta Sedan com o qual dirigiu até o Paraguai.
O dono do carro, que pediu para não ser identificado, disse à Folha que não é capaz de dizer se Nunes é quem o roubou. O assaltante, conta, o abordou fingindo ser entregador de jornais, com a pistola enrolada em um exemplar. Levou itens como cartões e dinheiro.
O delegado-chefe da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, José Alberto Iegas, disse que, "depois da troca de tiros, ele logo saiu do carro gritando que era o assassino do Glauco".
A PF encontrou com ele três gramas de maconha e uma pistola calibre 7.65 (supostamente a mesma usada nos homicídios) e tenta agora rastrear a origem da arma.

Motorista
Ontem, a Polícia Civil de Osasco disse que deverá indiciar Felipe de Oliveira Iasi, 23, sob acusação de envolvimento no crime -por contribuição ou coautoria. Foi Iasi quem levou Nunes de carro à casa de Glauco. À polícia ele disse que foi forçado a fazer isso e que deixou o local sozinho.
O depoimento de João Pedro Corrêa da Costa, 32, vizinho de Glauco, dá outra versão. Ele diz ter visto Iasi partir com Nunes, que atirava para cima, como em comemoração.
"Se o rapaz [Iasi] tivesse fugido, eu nem o teria visto", disse após depor. Também relatou que Nunes chegou a atirar duas vezes contra ele, sem acertar.
Beatriz Galvão, viúva do cartunista, havia dito em entrevista que Iasi fugiu com Nunes, mas à polícia afirmou que não presenciou a fuga.
A polícia afirma que tem informações de que Nunes esteve no centro de Osasco cerca de dez minutos após o crime. Se isso se confirmar, reforçará a tese de que os dois fugiram juntos, já que só de carro ele poderia chegar até o local em tão pouco tempo.
A definição sobre a forma do indiciamento será tomada após a polícia ouvir Nunes, o que deve acontecer hoje em Foz do Iguaçu, onde ele está preso.
Já Nunes deve ser indiciado sob acusação de duplo homicídio, agressão às pessoas dentro da casa de Glauco, tentativas de homicídio a Costa e a um policial e roubo. (ALEXANDRE PALMAR, AFONSO BENITES, ROGÉRIO PAGNAN e GRACILIANO ROCHA)


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