São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

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Design em mutação

Tons escuros e ambientes fechados dominaram os estandes, mas, em Milão, essa hegemonia pode prenunciar mudança

VERA GUIMARÃES MARTINS
DA REVISTA DA FOLHA

"Todo homem tem o direito de ser o que ele quiser ser, desde que nunca pare de mudar", decreta a frase em inglês estampada numa das paredes do Salão do Móvel de Milão, a mais importante mostra mundial do setor. Embaixo, a identificação do autor: Augusto Wagner, ator, São Paulo, Brasil. O nome, até onde foi possível apurar, é desconhecido no meio teatral paulistano e fica difícil saber como o seu texto foi parar ali, com tanto destaque.
Mas é fácil imaginar por quê. Nunca parar de mudar é o desafio que fabricantes e designers enfrentam ano após ano, em uma eterna tentativa de reinventar a roda e buscar novidades que mantenham em movimento a engrenagem do mercado. Nem sempre dá para ganhar o jogo, como comprova o encolhimento de 3% que o setor de mobiliário italiano viveu no ano passado.
Se foi o dinheiro curto que inibiu a criatividade nas pranchetas é impossível saber, mas é certo que, neste ano, o "novo" mesmo estava lá fora. Mais que algum móvel ou acessório, a estrela da 45ª edição do Salão foi o recém-inaugurado complexo de aço e vidro de Rho-Pero, obra com silhueta sinuosa e ar futurista do arquiteto Massimiliano Fuksas.
Dentro dos estandes vigorou o mais do mesmo -ainda que, é bom ressalvar, em Milão, até o mais do mesmo mereça ser conferido. Na maioria das marcas, predominaram os designers e padrões de cores e materiais de anos passados, com mudanças cosméticas em peças bem-sucedidas -o que, no caso, pode significar até vestir a cadeira de design arrojado com uma roupinha frufru.
Só que essa hegemonia pode ser enganadora. Questão de mercado e de semântica: predomínio diz respeito ao presente, tendência é conceito que mira o futuro.
Assim como no mundo da moda, os rumos da arquitetura de interiores são definidos por algumas poucas grifes, marcas que investem em pesquisa de novos materiais e técnicas industriais capazes de dar asas à imaginação dos criadores. São nomes como Cappellini (que trazia a frase do ator brasileiro), Moroso, Sawaya & Moroni, Edra, B&B, Driade, Kartell que capitaneiam as inovações. A imensa maioria restante apenas segue o cortejo.
Como as duas situações são conviventes, definir "a" tendência é questão que desconcerta até arquitetos mais experientes, como Brunette Fraccaroli e João Armentano.
"Em 90% dos estandes, predominaram ambientes mais escuros, com paredes e tetos em cores mais fechadas. Preto, grafite e cinzas nos móveis, detalhes bordôs, azuis-escuros ou roxos nos tecidos. A madeira também continuou escura, do tipo wenge ou ebonizada", diz Armentano.
"Já, em algumas que sinalizam o que vai acontecer, aparecem as peças limpas. As cores são claras, do azul-"anjinho" aos tons claros de verde, numa versão mais light do psicodelismo dos anos 70."


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