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Design em mutação
Tons escuros e ambientes fechados dominaram os estandes,
mas, em Milão, essa hegemonia pode prenunciar mudança
VERA GUIMARÃES MARTINS
DA REVISTA DA FOLHA
"Todo homem tem o direito de
ser o que ele quiser ser, desde que
nunca pare de mudar", decreta a
frase em inglês estampada numa
das paredes do Salão do Móvel de
Milão, a mais importante mostra
mundial do setor. Embaixo, a
identificação do autor: Augusto
Wagner, ator, São Paulo, Brasil. O
nome, até onde foi possível apurar, é desconhecido no meio teatral paulistano e fica difícil saber
como o seu texto foi parar ali, com
tanto destaque.
Mas é fácil imaginar por quê.
Nunca parar de mudar é o desafio
que fabricantes e designers enfrentam ano após ano, em uma
eterna tentativa de reinventar a
roda e buscar novidades que
mantenham em movimento a engrenagem do mercado. Nem sempre dá para ganhar o jogo, como
comprova o encolhimento de 3%
que o setor de mobiliário italiano
viveu no ano passado.
Se foi o dinheiro curto que inibiu a criatividade nas pranchetas
é impossível saber, mas é certo
que, neste ano, o "novo" mesmo
estava lá fora. Mais que algum
móvel ou acessório, a estrela da
45ª edição do Salão foi o recém-inaugurado complexo de aço e vidro de Rho-Pero, obra com silhueta sinuosa e ar futurista do arquiteto Massimiliano Fuksas.
Dentro dos estandes vigorou o
mais do mesmo -ainda que, é
bom ressalvar, em Milão, até o
mais do mesmo mereça ser conferido. Na maioria das marcas, predominaram os designers e padrões de cores e materiais de anos
passados, com mudanças cosméticas em peças bem-sucedidas
-o que, no caso, pode significar
até vestir a cadeira de design arrojado com uma roupinha frufru.
Só que essa hegemonia pode ser
enganadora. Questão de mercado
e de semântica: predomínio diz
respeito ao presente, tendência é
conceito que mira o futuro.
Assim como no mundo da moda, os rumos da arquitetura de interiores são definidos por algumas poucas grifes, marcas que investem em pesquisa de novos materiais e técnicas industriais capazes de dar asas à imaginação dos
criadores. São nomes como Cappellini (que trazia a frase do ator
brasileiro), Moroso, Sawaya &
Moroni, Edra, B&B, Driade, Kartell que capitaneiam as inovações.
A imensa maioria restante apenas
segue o cortejo.
Como as duas situações são
conviventes, definir "a" tendência
é questão que desconcerta até arquitetos mais experientes, como
Brunette Fraccaroli e João Armentano.
"Em 90% dos estandes, predominaram ambientes mais escuros, com paredes e tetos em cores
mais fechadas. Preto, grafite e cinzas nos móveis, detalhes bordôs,
azuis-escuros ou roxos nos tecidos. A madeira também continuou escura, do tipo wenge ou
ebonizada", diz Armentano.
"Já, em algumas que sinalizam o
que vai acontecer, aparecem as
peças limpas. As cores são claras,
do azul-"anjinho" aos tons claros
de verde, numa versão mais light
do psicodelismo dos anos 70."
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