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Relatório aponta caos em presídio federal
Problemas são resultado da queda-de-braço entre agentes penitenciários e a direção do superpresídio de Catanduvas (PR)
Documento reservado da Polícia Federal aponta agentes com antecedentes criminais, desvio de conduta e falhas na segurança
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATANDUVAS
Inaugurada em junho de
2006 com estardalhaço pelo
governo Luiz Inácio Lula da Silva, a penitenciária federal de
Catanduvas (PR) vive uma situação de caos, motivada por
uma queda-de-braço entre os
agentes penitenciários e a direção da unidade.
Esse quadro é descrito em relatório interno do serviço de inteligência da Polícia Federal, a
cuja cópia a Folha teve acesso.
O documento expõe uma
unidade bem diferente do superpresídio alardeado pelo governo. Mostra agentes com antecedentes criminais e desvios de conduta, falhas graves de segurança e influência de presos
-como o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, o primeiro a
ocupar a cadeia.
A disputa interna, aponta o
relatório, é motivada pela decisão do Ministério da Justiça de
vincular os agentes ao Depen
(Departamento Penitenciário
Nacional) e colocar homens da
Polícia Federal nos dois principais cargos de chefia da cadeia
-chefe de segurança e diretor.
O clima de competição entre
os órgãos -ambos subordinados ao ministério- se refletiu
na insubordinação dos agentes
contra o delegado aposentado
da PF Ronaldo Urbano, que dirige a unidade.
Em novembro passado, após
medidas de Urbano, os agentes
exigiram a presença do diretor-geral do Depen, Maurício
Kuehne, que revogou os atos
-que incluíam o desmonte de
uma equipe de trabalho- e enfraqueceu ainda mais a administração do delegado.
Beira-Mar
A falta de normas e o enfraquecimento da chefia fortaleceram os presos, a maioria integrantes de facções criminosas, notadamente o PCC (Primeiro
Comando da Capital). Beira-Mar, diz o relatório, já assumiu
a condição de chefe dos demais
detentos. São 141 presos na unidade -a capacidade é para 208
pessoas.
O traficante carioca tem ajudado presos mais pobres com a
contratação de advogados e já
alugou dois apartamentos em
Catanduvas "para que sirvam
de albergue para familiares de
presos", cita o documento.
A Folha apurou que Beira-Mar comprou um táxi em Cascavel (PR), cidade a 48 km de
Catanduvas, que é usado para
levar seus parentes ao presídio.
O objetivo seria evitar que a
presença de carros de luxo chamasse a atenção.
A Folha apurou que no acordo fechado entre advogados de
Beira-Mar e o taxista, o traficante ficou responsável pelo
pagamento das prestações
mensais de R$ 827 do Siena 0
km, financiado em 60 meses.
Em troca, o taxista tem a
obrigação de não deixar sem
condução parentes ou advogados de Beira-Mar na região.
Segundo taxistas de Catanduvas, "Pé de Boi" faz, em média, quatro viagens mensais entre Cascavel e Catanduvas.
O relatório aponta também que um agente da unidade declarou a colegas ter sido consumidor habitual de cocaína e ter "admiração" pelo traficante.
Segundo o documento, mesmo
depois de a direção ser informada do fato, o agente continuou trabalhando na ala de
Beira-Mar, "tendo o hábito de
"bater papo" com o detento".
Segurança
Ao divulgar a inauguração do
presídio, o governo informou
que a comunicação entre agentes e presos só seria permitida
"em caso de extrema necessidade" e que as conversas seriam gravadas. O relatório da
PF informa que parte das câmeras de vigilância e microfones de lapela ainda não entrou
em funcionamento.
Entre outras falhas de segurança apontadas, estão a ausência de plano de contingência
para rebeliões e incêndios e registro de atendimento de celulares em áreas cuja entrada
desses aparelhos é proibida.
O presídio teve falhas já na
contratação dos agentes. Os
aprovados só passaram por capacitação após a admissão e
não tiveram seus passados investigados. Resultado: dos 239
agentes contratados, 11 são
réus em inquéritos ou processos criminais. Entre os delitos,
há tráfico de drogas, homicídio
e atentado violento ao pudor.
Colaborou BRUNO MIRANDA , repórter-fotográfico
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