São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2008

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Chance de divórcio sobe se mulher ganha mais, diz FGV

Essa tendência é mais comum entre as classes sociais que têm renda mais baixa

A partir de uma faixa de renda masculina de R$ 700, a "tolerância" com relação a rendimentos das mulheres tende a aumentar

DA SUCURSAL DO RIO

Estudo divulgado ontem pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) afirma que o aumento da renda feminina pode prejudicar o casamento. De acordo com o estudo elaborado por Maurício Canêdo, nos casais de renda mais baixa há uma tendência maior de o casamento acabar em divórcio quando a mulher passa a ganhar mais.
"Os resultados indicam que se o marido tem uma renda baixa, quando a mulher passa a ganhar mais, aumenta a chance de acabar em separação", afirma Canêdo. Segundo ele, na faixa de renda masculina de até R$ 700, esse comportamento é mais freqüente. A partir daí, a "tolerância" com relação aos rendimentos femininos tende a ser maior.
Canêdo destaca que o aumento da renda da mulher está relacionado também ao aumento do bem-estar para o casal, a medida que, com mais renda, é possível consumir mais. Por outro lado, a alta do rendimento rompe com o papel tradicional do casamento, em que o homem atua como provedor e a mulher, como a responsável por cuidar da casa e dos filhos. Nem sempre, o homem aceita compartilhar os papéis.
"Quando o homem é mais pobre, o efeito negativo do aumento da renda no casamento predomina", disse. O estudo abrange 21 Estados e usa dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes ao período de 1992 a 2004. Nesse intervalo, a renda das mulheres casadas cresceu 58% em termos reais. Segundo Canêdo, a renda dos homens casados teve alta pouco expressiva. Ao mesmo tempo, a taxa de divórcios aumentou 17% (de três divórcios por mil casais para 3,5 por mil casais).
Para Bernardo Jablonski, psicólogo social e professor da PUC-Rio, uma das possíveis explicações é o fato de que as classes C, D e E costumam apresentar uma visão mais tradicional do papel de gênero.
"Nessas faixas de renda, é mais comum a visão de que o homem é o provedor, tem o papel de sustentar. Nos casais de renda mais alta, a mulher ganhar mais pode até gerar desconforto, mas não a ponto de resultar numa separação", diz.
Para ele, a diferença de renda em si não é fator de separação, mas está dentro do "caldeirão de causas que podem levar ao fim de um relacionamento".
Outros fatores também contribuem para o divórcio, como o desemprego masculino e o fato de morar em grandes centros urbanos. De outro lado, filhos pequenos ajudam a manter as uniões.
Segundo Jablonski, o desemprego masculino costuma ter efeito devastador sobre o casamento por interferir na auto-estima, na capacidade de prover o sustento e na imagem dele em relação à família.


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