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Chance de divórcio sobe se mulher ganha mais, diz FGV
Essa tendência é mais comum entre as classes sociais que têm renda mais baixa
A partir de uma faixa de renda masculina de R$ 700, a "tolerância" com relação a rendimentos das mulheres tende a aumentar
DA SUCURSAL DO RIO
Estudo divulgado ontem pela
FGV (Fundação Getúlio Vargas) afirma que o aumento da
renda feminina pode prejudicar o casamento. De acordo
com o estudo elaborado por
Maurício Canêdo, nos casais de
renda mais baixa há uma tendência maior de o casamento
acabar em divórcio quando a
mulher passa a ganhar mais.
"Os resultados indicam que
se o marido tem uma renda baixa, quando a mulher passa a ganhar mais, aumenta a chance
de acabar em separação", afirma Canêdo. Segundo ele, na faixa de renda masculina de até
R$ 700, esse comportamento é
mais freqüente. A partir daí, a
"tolerância" com relação aos
rendimentos femininos tende a
ser maior.
Canêdo destaca que o aumento da renda da mulher está
relacionado também ao aumento do bem-estar para o casal, a medida que, com mais
renda, é possível consumir
mais. Por outro lado, a alta do
rendimento rompe com o papel
tradicional do casamento, em
que o homem atua como provedor e a mulher, como a responsável por cuidar da casa e dos filhos. Nem sempre, o homem
aceita compartilhar os papéis.
"Quando o homem é mais
pobre, o efeito negativo do aumento da renda no casamento
predomina", disse. O estudo
abrange 21 Estados e usa dados
do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) referentes ao período de 1992 a
2004. Nesse intervalo, a renda
das mulheres casadas cresceu
58% em termos reais. Segundo
Canêdo, a renda dos homens
casados teve alta pouco expressiva. Ao mesmo tempo, a taxa
de divórcios aumentou 17% (de
três divórcios por mil casais para 3,5 por mil casais).
Para Bernardo Jablonski,
psicólogo social e professor da
PUC-Rio, uma das possíveis explicações é o fato de que as classes C, D e E costumam apresentar uma visão mais tradicional
do papel de gênero.
"Nessas faixas de renda, é
mais comum a visão de que o
homem é o provedor, tem o papel de sustentar. Nos casais de
renda mais alta, a mulher ganhar mais pode até gerar desconforto, mas não a ponto de
resultar numa separação", diz.
Para ele, a diferença de renda
em si não é fator de separação,
mas está dentro do "caldeirão
de causas que podem levar ao
fim de um relacionamento".
Outros fatores também contribuem para o divórcio, como
o desemprego masculino e o fato de morar em grandes centros urbanos. De outro lado, filhos pequenos ajudam a manter as uniões.
Segundo Jablonski, o desemprego masculino costuma ter
efeito devastador sobre o casamento por interferir na auto-estima, na capacidade de prover o sustento e na imagem dele
em relação à família.
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