São Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 2009

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PASQUALE CIPRO NETO

Diário da reforma ortográfica


"A presente petição (contra o Acordo Ortográfico) deve ser apreciada em Plenário da Assembleia da República"


NAS ÚLTIMAS COLUNAS, fiz diversas referências ao "Volp" ("Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa"), peça fundamental depois que foi imposta a reforma ortográfica no Brasil (a bandeira do "Acordo" -a unificação da grafia em todos os países lusófonos- ainda não se materializou). A última edição do "Volp", lançada em meados de março, é a "bíblia" da grafia pós-reforma. Lá se encontra o que (ao menos por enquanto) está sacramentado como "oficial". E por que "ao menos por enquanto"? Porque não se sabe: a) se Portugal vai aderir; b) se, caso adira, Portugal vai exigir o cumprimento integral do que diz o artigo 2º do "Acordo". O tal artigo diz o seguinte: "Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração (...) de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas". O "vocabulário ortográfico comum" (preconizado pelo texto oficial do Acordo) foi atropelado pelo "Volp" brasileiro, que, por sinal, foi apresentado anteontem ao presidente da República Portuguesa. Se Portugal aderir e fizer questão de participar da elaboração do vocabulário ortográfico, o recém-lançado "Volp" deverá ser aposentado. Deve-se levar em conta também o que informou o jornal português "O Público", na última segunda-feira: "O relatório da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura, hoje divulgado, recomenda que o plenário deve "apreciar" a petição contra o Acordo Ortográfico e que algumas das preocupações e sugestões ali referidas devem ser tomadas em conta. "A presente petição deve ser apreciada em Plenário da Assembleia da República", lê-se no relatório final, elaborado pelo deputado social-democrata Feliciano Barreiras Duarte e aprovado por unanimidade pela comissão. A iniciativa do escritor Vasco Graça Moura foi subscrita por 33.053 pessoas". Como o leitor pôde deduzir, estamos longe de um "final feliz" para esse grande embrulho, o que significa que não é desprezível a probabilidade de se transformar em cinzas o dinheiro gasto com a compra do recém-lançado "Volp". Talvez seja melhor esperar que a ABL ponha o "novo" "Volp" em seu site, o que (espera-se) deve ocorrer em breve. Posto em dia o "diário da reforma", vamos a uma pergunta que muitos leitores fizeram nas últimas semanas: "Como ficaram os casos das palavras em que se usa o elemento "socio-'?". O caro leitor certamente notou que pus hífen depois do elemento e não pus acendo agudo no primeiro "o". Por que isso? Porque não se trata do substantivo ou do adjetivo "sócio" ("membro de uma sociedade", "associado"). Trata-se do elemento de composição "socio-", que se prende à ideia de "social", "sociedade", "fenômeno social". Segue-se a regra imposta pela reforma, ou seja, só se empregaria o hífen se esse elemento fosse agregado a palavras iniciadas por "o" ou por "h" (o "Volp" não registra nenhum exemplo). De resto, nada de hífen e de agudo no primeiro "o": "socioeconômico", "sociogeográfico", "sociocultural", "sociopolítico" etc. E "sócio-gerente"? Com hífen e acento (esse "sócio" é outro). É isso.
inculta@uol.com.br


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