São Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 2009

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Empresa usa sertaneja como laranja em golpe imobiliário

Mulher no sertão da Bahia é diretora de companhia que vende lotes irregularmente

Terrenos estão em área de mananciais; ex-patrão dela, empreendedor a colocou como dirigente da empresa, segundo apuração da polícia

Divulgação/Polícia Civil
Dilma Oliveira, usada como laranja em esquema imobiliário

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A sertaneja Dilma Dias de Oliveira, 59, mora em Bate Pé, arraial com 200 moradores perto de Vitória da Conquista (BA). Para se sustentar, Dilma depende da ajuda de parentes. Na sua casa, nem banheiro há.
Apesar disso, Dilma apareceu recentemente em uma investigação da Polícia Civil de São Paulo como diretora-executiva da Urban Institute Limited, empresa com sede na Inglaterra, e investigada por vender irregularmente terrenos que somam R$ 27,27 milhões numa área de manancial no extremo sul da Grande SP.
Para a polícia, Dilma foi transformada em diretora-executiva da empresa pelo seu ex-patrão, o empreendedor imobiliário Armando Vasone Filho, 65. É ele, segundo a polícia, o principal investigado pela venda de terrenos dentro do Residencial Paulista, condomínio na entrada de Itapecerica da Serra, às margens da rodovia Régis Bittencourt.
Vasone, diz a polícia, usou Dilma para evitar ser responsabilizado judicialmente. Em entrevista à Folha ontem, ele negou todas as acusações.
Em depoimento, Dilma afirmou que foi levada a inúmeros cartórios quando ainda estava em São Paulo para assinar documentos, sem saber para que finalidade. Dilma disse que assinava os papéis porque tinha a promessa de ganhar um terreno do então patrão Vasone, coisa que não aconteceu.
Segundo o delegado Pedro Forli, da Delegacia do Meio Ambiente da Seccional de Taboão da Serra, Dilma foi empregada doméstica de Vasone Filho durante 15 anos. Ela deixou a cidade no ano passado.
Para negociar um terreno em uma área de manancial, toda incorporadora imobiliária precisa cumprir várias exigências legais de ocupação e parcelamento do solo. Segundo Forli, os lotes comercializados por Vasone desobedecem à lei.
Ontem o corretor de imóveis Renato Ribeiro Alves, 34, foi preso acusado de negociar lotes no condomínio. Ele responderá por crime ambiental.
O residencial tem 606 lotes. Cada um mede 250 m2 e está à venda por R$ 45 mil.
Duas fontes de água que ajudam a formar a represa de Guarapiranga estão no condomínio e, disse o delegado, ameaçadas.
Hoje, 66 famílias vivem no conjunto residencial, mas todas elas têm dificuldade para ter acesso aos serviços mais simples -como a instalação de uma linha telefônica ou a entrega de algum móvel comprado. Como as ruas do Residencial Paulista não foram regularizadas pelo poder público, nenhuma tem CEP e isso inviabiliza até mesmo a criação de uma associação de moradores.

Endereço inexistente
"A gente não consegue instalar um telefone, uma TV por assinatura ou receber uma carta porque o endereço das nossas casas é considerado inexistente. Ninguém consegue tirar a escritura do imóvel porque a área não está regulamentada", diz o gerente de supermercado Alexandre Martins, 32.


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