|
Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Prefeitura não repassou verba para 65% das classes do Mova, projeto de alfabetização de adultos do município
Marta atrasa pagamento de alfabetizador
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo deve
até dois meses de pagamento a
382 dos 587 monitores do Mova, o
projeto de alfabetização de adultos que foi uma das bandeiras de
campanha da prefeita Marta Suplicy (PT).
Os "sem-remuneração" dão aulas em 65% das classes do programa. A maioria começou a trabalhar "oficialmente" em fevereiro
último, apesar de o programa ter
começado no ano passado.
O Mova é executado por organizações não-governamentais
(ONGs), que são responsáveis por
contratar monitores e coordenar
o funcionamento das classes.
O dinheiro (R$ 600 por sala,
com lotação de 15 a 20 alunos) é
repassado mensalmente pela prefeitura às ONGs. Os recursos servem para pagar professores
-que recebem de R$ 300 a R$
360 por oito horas de aula semanais-, materiais didáticos e a
manutenção das salas de aula.
Para fazer parte do programa, a
instituição precisa assinar um
contrato com a prefeitura. A previsão inicial da prefeitura, divulgada entre as lideranças do movimento popular de educação, era
assinar contratos e repassar dinheiro às instituições ainda em
julho do ano passado.
A consequência é que as ONGs,
que trabalharam de forma voluntária entre 1993 e 2000, ampliaram
suas classes de alfabetização e
contrataram monitores.
Só que os convênios começaram a ser assinados apenas em fevereiro deste ano. Nos últimos 12
meses, os monitores permaneceram trabalhando sem receber e
participando de reuniões semanais para discutir o projeto.
Apesar de tanta discussão, das
53 ONGs que assinaram o contrato, apenas 38 apareciam até anteontem na tabela oficial da Secretaria Municipal da Educação, que
controla as despesas do projeto.
Dessas 38, somente 22 já receberam algum dinheiro. A maioria
está com pagamento "previsto",
segundo o documento.
Há fiscais do Mova que não têm
carro oficial para visitar as classes
de alfabetização. Sem a aprovação
dos fiscais, as entidades não recebem. "Visito as classes com meu
carro e pago a gasolina. É uma
questão de ideal", diz Agostinho
Souza Ferreira, responsável pela
fiscalização de 137 classes.
Dificuldades
Jailton Santos de Lima, coordenador do Conselho de Educação
de São Miguel Paulista (zona leste), montou 38 salas de aula em fevereiro. Até agora não recebeu.
Lima já pensa em mudar do programa municipal de alfabetização
para o estadual, que, segundo ele,
é menos burocrático. No dia 25,
haverá uma reunião entre técnicos da Secretaria do Estado da
Educação e líderes do movimento
de educação popular da região.
Muitos monitores dependem
da remuneração do Mova para
sustentar suas famílias. No início
do ano, alguns abandonaram outros programas de alfabetização,
com salário garantido, na expectativa de receber do Mova.
Entre as ONGs que não estão
sendo pagas há clubes de mães e
associações de moradores que
têm dívidas a pagar. É o caso do
Centro Comunitário Castro Alves, em Cidade Tiradentes (zona
leste), que anteontem teve o telefone cortado por inadimplência.
Antes do Mova, esse centro alfabetizava de forma voluntária 20
adultos. Com o anúncio do programa, ampliou para 60, e agora
está com dificuldades para arcar
com os custos.
Gilberto dos Reis, coordenador
do centro, diz que a alfabetização
de adultos continuaria mesmo
sem o dinheiro da prefeitura. A
diferença, segundo ele, é que as
classes seriam menores e que os
monitores estariam conscientes
do trabalho voluntário.
"Não sei se vamos ter fôlego para arcar com tantas turmas", diz
Haroldo Coutinho, coordenador
do Centro de Educação Professor
Paulo Freire, que mantém 21 classes desde fevereiro e nunca recebeu os pagamentos da prefeitura.
Segundo o Censo 2000, há
385.814 analfabetos com mais de
14 anos na cidade de São Paulo.
Próximo Texto: Para Mova, atraso se deve à fiscalização Índice
|