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GUERRA URBANA
Atentados na madrugada e onda de boatos fazem lojas, escolas e repartições públicas fecharem as portas
Medo de ataques pára São Paulo
DA REDAÇÃO
Uma onda de pânico fez parar
ontem a maior e mais rica cidade
do país e espalhou choque e medo
pelo Estado de São Paulo.
No quarto dia de terror provocado pela facção criminosa PCC,
refluíram os atentados contra bases policiais, assassinatos e rebeliões. Mas ataques a ônibus, fóruns e agências bancárias durante
a madrugada foram amplificados
ao longo do dia por rumores e trotes e fizeram escolas, lojas e repartições públicas fechar em cascata.
O clima de medo perdurou até a
noite, quando bares, restaurantes
e até supermercados 24 horas deixaram de funcionar.
Parte da capital paulista já havia
parado desde a madrugada devido à falta de ônibus -17 veículos
foram queimados e cerca de 5,5
milhões de pessoas ficaram sem
transporte porque empresas, motoristas e cobradores temiam sair
às ruas. Foram atacados pelo menos 18 agências e 8 fóruns no Estado na madrugada, e os conflitos
deixaram 20 mortos -3 policiais.
Com os ônibus nas garagens, o
rodízio de veículos foi suspenso.
Sem transporte público, 3 em cada 10 alunos faltaram e a ausência
de funcionários e professores prejudicou 40% das escolas, mas as
aulas matutinas foram mantidas.
Foi por volta do meio-dia que o
pavor começou a tomar conta dos
paulistanos. Enquanto o governo
do Estado garantia que a situação
estava sob controle, moradores se
descontrolavam com notícias de
tiros em Higienópolis, boatos de
novos atentados e imagens de TV
que repetiam cenas de ataques.
As próprias escolas passaram a
suspender aulas e mandar estudantes para casa. Particulares que
permaneceram abertas reforçaram a segurança, mas, no meio da
tarde, mães apavoradas iam buscar seus filhos. Dezenas de universidades, dentre as quais algumas das maiores do país, como
USP e Unip, interrompiam atividades e avisavam que não abririam à noite.
A onda de medo atingiu o comércio depois do almoço, fazendo baixar portas da rua 25 de
Março ao shopping Iguatemi. Comerciários que saíam mais cedo
despediam-se com um "boa sorte". Antes das 17h, ruas comerciais, cadeias de lojas e shopping
centers estavam fechados em várias cidades do Estado.
Pela internet, nas empresas,
corriam e-mails assustados sobre
toque de recolher. No meio da tarde, enquanto o PCC encerrava todas as 55 rebeliões em curso após
negociações com o governo, teatros, galerias e centros de convenções anunciaram cancelamento
de espetáculos. Fóruns e repartições públicas fecharam mais cedo
e o aeroporto de Congonhas teve
seu saguão interditado durante
duas horas e meia, por uma
ameaça de bomba.
As ruas da cidade se encheram
conforme escolas e empresas se
esvaziavam. Motoristas que tentavam voltar para casa provocaram o maior congestionamento
do ano: 195 km às 17h30, quatro
vezes a média para o horário. A
CET disse acreditar que o recorde
histórico foi quebrado por volta
de 18h, quando uma pane interrompeu as medições.
Paulistanos que se encontravam
no centro desistiam do transporte
público e passavam a fazer trajetos a pé. Estações de metrô, já
cheias com o esvaziamento dos
terminais de ônibus, ficaram superlotadas de passageiros amedrontados -na madrugada, a estação Artur Alvim (zona leste) havia sido alvejada, sem feridos.
O governo de São Paulo atribuiu o pânico a uma onda de boatos. O governador Cláudio Lembo
(PFL), que voltou a descartar a
ajuda do Exército e da Força de
Segurança Nacional no combate
ao crime organizado no Estado,
recomendou que a população
volte à "vida normal" hoje.
Segundo a polícia, seria garantida a circulação de 50% dos ônibus
-até as 23h30, só quatro empresas confirmaram funcionamento.
O rodízio continua suspenso.
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