São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Atentados na madrugada e onda de boatos fazem lojas, escolas e repartições públicas fecharem as portas

Medo de ataques pára São Paulo

DA REDAÇÃO

Uma onda de pânico fez parar ontem a maior e mais rica cidade do país e espalhou choque e medo pelo Estado de São Paulo.
No quarto dia de terror provocado pela facção criminosa PCC, refluíram os atentados contra bases policiais, assassinatos e rebeliões. Mas ataques a ônibus, fóruns e agências bancárias durante a madrugada foram amplificados ao longo do dia por rumores e trotes e fizeram escolas, lojas e repartições públicas fechar em cascata.
O clima de medo perdurou até a noite, quando bares, restaurantes e até supermercados 24 horas deixaram de funcionar.
Parte da capital paulista já havia parado desde a madrugada devido à falta de ônibus -17 veículos foram queimados e cerca de 5,5 milhões de pessoas ficaram sem transporte porque empresas, motoristas e cobradores temiam sair às ruas. Foram atacados pelo menos 18 agências e 8 fóruns no Estado na madrugada, e os conflitos deixaram 20 mortos -3 policiais.
Com os ônibus nas garagens, o rodízio de veículos foi suspenso. Sem transporte público, 3 em cada 10 alunos faltaram e a ausência de funcionários e professores prejudicou 40% das escolas, mas as aulas matutinas foram mantidas.
Foi por volta do meio-dia que o pavor começou a tomar conta dos paulistanos. Enquanto o governo do Estado garantia que a situação estava sob controle, moradores se descontrolavam com notícias de tiros em Higienópolis, boatos de novos atentados e imagens de TV que repetiam cenas de ataques.
As próprias escolas passaram a suspender aulas e mandar estudantes para casa. Particulares que permaneceram abertas reforçaram a segurança, mas, no meio da tarde, mães apavoradas iam buscar seus filhos. Dezenas de universidades, dentre as quais algumas das maiores do país, como USP e Unip, interrompiam atividades e avisavam que não abririam à noite.
A onda de medo atingiu o comércio depois do almoço, fazendo baixar portas da rua 25 de Março ao shopping Iguatemi. Comerciários que saíam mais cedo despediam-se com um "boa sorte". Antes das 17h, ruas comerciais, cadeias de lojas e shopping centers estavam fechados em várias cidades do Estado.
Pela internet, nas empresas, corriam e-mails assustados sobre toque de recolher. No meio da tarde, enquanto o PCC encerrava todas as 55 rebeliões em curso após negociações com o governo, teatros, galerias e centros de convenções anunciaram cancelamento de espetáculos. Fóruns e repartições públicas fecharam mais cedo e o aeroporto de Congonhas teve seu saguão interditado durante duas horas e meia, por uma ameaça de bomba.
As ruas da cidade se encheram conforme escolas e empresas se esvaziavam. Motoristas que tentavam voltar para casa provocaram o maior congestionamento do ano: 195 km às 17h30, quatro vezes a média para o horário. A CET disse acreditar que o recorde histórico foi quebrado por volta de 18h, quando uma pane interrompeu as medições.
Paulistanos que se encontravam no centro desistiam do transporte público e passavam a fazer trajetos a pé. Estações de metrô, já cheias com o esvaziamento dos terminais de ônibus, ficaram superlotadas de passageiros amedrontados -na madrugada, a estação Artur Alvim (zona leste) havia sido alvejada, sem feridos.
O governo de São Paulo atribuiu o pânico a uma onda de boatos. O governador Cláudio Lembo (PFL), que voltou a descartar a ajuda do Exército e da Força de Segurança Nacional no combate ao crime organizado no Estado, recomendou que a população volte à "vida normal" hoje.
Segundo a polícia, seria garantida a circulação de 50% dos ônibus -até as 23h30, só quatro empresas confirmaram funcionamento. O rodízio continua suspenso.


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