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GUERRA URBANA/ GOVERNO
Enquanto secretário da Segurança, delegado e coronel defendem linha-dura, secretário da Administração Penitenciária pede moderação
Divergência de autoridades retarda reação
DA REPORTAGEM LOCAL
Os quatro homens que hoje comandam a reação do governo estadual aos ataques do PCC estão
divididos. Não há um consenso
nem sobre a melhor forma de reagir nem sobre até que ponto a polícia deve endurecer.
No comando deles, está o governador Cláudio Lembo (PFL), 71,
que assumiu o cargo em março
deste ano e tem pouca experiência
no gerenciamento de crises.
Os homens da cúpula do governo paulista são os secretários Nagashi Furukawa (Administração
Penitenciária) e Saulo de Castro
Abreu Filho (Segurança Pública),
o delegado Godofredo Bittencourt Filho, diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), e o coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, comandante-geral da Polícia
Militar.
A principal divergência está na
postura de cada um diante do
problema da criminalidade. Enquanto Saulo, Bittencourt e Borges defendem uma resposta dura
e implacável aos criminosos, e
não descartam a possibilidade de
os criminosos serem mortos, Nagashi tem uma visão mais moderada e defende uma reação forte
do Estado, porém ponderada.
A discordância entre eles mina
uma tomada de decisão definitiva
por parte do governo estadual,
que mantém o discurso oficial de
que a situação está sob controle,
apesar dos novos ataques ocorridos ontem.
Histórico
As diferenças entre Nagashi e a
polícia ficaram explícitas em 2001,
quando houve rebeliões simultâneas em 29 penitenciárias do Estado de São Paulo, que deixaram
um saldo de 16 detentos mortos.
À época, o secretário foi acusado
de ter negociado o fim da crise diretamente com os criminosos -o
que ele nega.
Foi o coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, que acumula uma
maior experiência de campo entre os quatro, que acabou negociando a retomada dos presídios.
Quando veio a questão da desativação do Carandiru, surgiu uma
nova polêmica. Nagashi, defensor
dos minipresídios -segundo ele,
mais fáceis de controlar-, colidiu com Saulo, para quem não tinha cabimento destruir um presídio diante do grande número de
prisões feitas no Estado.
O Carandiru acabou sendo desativado no ano passado.
Nagashi, apesar de defender
uma posição não compartilhada
pelos colegas, tem o respaldo do
ex-governador Geraldo Alckmin.
O secretário, que já foi advogado,
delegado, promotor de Justiça e se
aposentou como juiz, após 20
anos de trabalho, é ligado a grupos de direitos humanos e defende o tratamento digno dos presos.
Criador da Apac (Associação de
Proteção e Assistência Carcerária), que tinha como objetivo integrar a sociedade na administração penitenciária, Nagashi visita
cadeias e conversa diretamente
com os presos.
Para ele, se endurecer de forma
exagerada, o governo estaria expondo a sociedade a novas ações
terroristas.
Não é o que pensa Saulo, que se
afastou do Ministério Público em
1995, quando foi convidado pelo
então governador Mário Covas a
assumir a Corregedoria Geral da
administração paulista. Em 2001,
presidiu a Febem e, em 2002, assumiu a secretaria, quando chegou a ser cotado como um dos
candidatos a sucessão de Alckmin
no governo.
No cargo, foi pivô de situações
polêmicas. Brigou no trânsito
com uma idosa, chamou a polícia
para desbloquear uma rua perto
do restaurante em que iria e foi
denunciado pelo "caso Castelinho" -quando 12 supostos
membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) foram mortos
em um ônibus na região de Sorocaba (100 km de SP). O inquérito
foi arquivado.
Ao contrário de Nagashi, é um
secretário mais de gabinete. Comparece em entrevistas coletivas,
mas não tem o costume de visitar
presídios. A eventual candidatura
dele ao governo foi esquecida, e
Saulo foi isolado no governo.
O secretário da Segurança é crítico feroz dos grupos de direitos
humanos. Costuma usar palavrões quando se refere aos criminosos e prega uma reação dura do
governo do Estado.
O diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o
Crime Organizado), Godofredo
Bittencourt Filho, por sua vez, é
adepto das frases de efeito.
O delegado disse ter chorado na
sexta-feira, quando soube dos
ataques contra policiais feitos pelo PCC. O mesmo PCC que, em
2001, ele chamou de "organização
falida e desmantelada".
Aliás, as frases de efeito são o
forte de Bittencourt. Ainda em
2001, disse: "Se o PCC tinha uma
boca cheia de dentes, agora tem
um dentinho ali e outro lá".
No gabinete, Bittencourt ostenta com orgulho uma placa de
identificação em que se lê: "Doutor Fudêncio", numa menção ao
caráter duro e intransigente do
ocupante do cargo. Com 42 anos
de carreira, o delegado tem uma
filha que é seccional de polícia.
Em entrevista anteontem, Bittencourt criticou duramente a sociedade que, segundo ele, não
apóia e respeita o policial.
Dos quatro, o mais operacional
é o coronel Elizeu Eclair Teixeira
Borges, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo desde
dezembro de 2004. Ele é também
o mais emocional. Na noite de anteontem, participou da entrevista
coletiva com lágrimas nos olhos.
De perfil discreto, Borges também prega uma reação forte dos
policiais contra os criminosos. Ele
acredita que o Estado só sairá vitorioso se conseguir demonstrar
sua força ao reprimir as ações criminosas.
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