|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Índice é arma nas mãos do cidadão
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
O principal valor desse
Idesp é ajudar a tirar a
educação apenas da mão
dos educadores. Até agora, a escola pública é um
assunto essencialmente
dos burocratas, dos pedagogos, dos professores e
dos sindicatos, numa
aliança que, muitas vezes,
tem assegurado o pacto
da mediocridade. O cidadão comum terá uma arma nas mãos para pressionar o poder público.
O novo índice reafirma,
com maiores requintes
metodológicos, o que todos sabemos: a qualidade
sofrível da rede de ensino
na região mais rica do
país. A novidade é o estabelecimento de metas de
longo prazo (até 2030)
para cada escola. Os resultados servirão para
aprimorar diagnóstico,
concentrar esforços,
além de estabelecer remuneração diferenciada.
Jamais se conseguirá
atingir metas de longo
prazo sem pressão contínua da opinião pública
-e sem que pais e mães
conheçam os números
das escolas de seus filhos,
podendo compará-los
com o desempenho dos
demais colégios do bairro
e da cidade.
Isso vai significar uma
busca pelas escolas com
melhor desempenho. Como são poucas as que estão no topo da lista, é inevitável a maior pressão
contra os governantes
para melhorar o nível de
ensino.
Haverá até mesmo
pressões ao ensino particular. Esse tipo de lista
mostra que, em alguns
casos (não muitos, diga-se), é melhor matricular a
criança na rede pública;
além de economizar dinheiro, aprende-se mais.
Nessas comparações, o
cidadão vai aprender, aos
poucos, como uma boa
diretora faz a diferença e
como professores engajados e criativos, interessados nos alunos, são capazes de atingir bons resultados, mesmo em situações adversas. Será possível medir como a participação dos pais e da comunidade invariavelmente
acompanha as boas notas. Também se vai descobrir o custo das interrupções de políticas públicas e de muito investimento em prédio e pouco
em formação de capital
humano. Meta de longo
prazo implica necessariamente fiscalização de
longo prazo, a exemplo
do que ocorre, por exemplo, com as oscilações da
balança comercial ou da
inflação.
Chama a atenção, no
Idesp, assim como em demais indicadores, o fato
de que escolas próximas
geograficamente, lidando
com estudantes de nível
socioeconômico semelhante, conseguem demonstrar desempenho
tão diferente. Algumas
estão com um pé, sem
exagero, na Europa; mas
a maioria está na África.
Há uma chance desse
tipo de índice, atrelando
os rendimentos dos docentes e dos funcionários,
ao desempenho dos alunos, inverter o pacto da
mediocridade -os pais
tratariam de apoiar os
bons professores que, por
sua vez, tratariam de estimular os pais na educação de seus filhos.
Texto Anterior: Só 7 escolas estaduais são de 1º mundo Próximo Texto: MEC mantém universidades no conselho da educação Índice
|