São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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análise

Índice é arma nas mãos do cidadão

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

O principal valor desse Idesp é ajudar a tirar a educação apenas da mão dos educadores. Até agora, a escola pública é um assunto essencialmente dos burocratas, dos pedagogos, dos professores e dos sindicatos, numa aliança que, muitas vezes, tem assegurado o pacto da mediocridade. O cidadão comum terá uma arma nas mãos para pressionar o poder público.
O novo índice reafirma, com maiores requintes metodológicos, o que todos sabemos: a qualidade sofrível da rede de ensino na região mais rica do país. A novidade é o estabelecimento de metas de longo prazo (até 2030) para cada escola. Os resultados servirão para aprimorar diagnóstico, concentrar esforços, além de estabelecer remuneração diferenciada.
Jamais se conseguirá atingir metas de longo prazo sem pressão contínua da opinião pública -e sem que pais e mães conheçam os números das escolas de seus filhos, podendo compará-los com o desempenho dos demais colégios do bairro e da cidade.
Isso vai significar uma busca pelas escolas com melhor desempenho. Como são poucas as que estão no topo da lista, é inevitável a maior pressão contra os governantes para melhorar o nível de ensino.
Haverá até mesmo pressões ao ensino particular. Esse tipo de lista mostra que, em alguns casos (não muitos, diga-se), é melhor matricular a criança na rede pública; além de economizar dinheiro, aprende-se mais.
Nessas comparações, o cidadão vai aprender, aos poucos, como uma boa diretora faz a diferença e como professores engajados e criativos, interessados nos alunos, são capazes de atingir bons resultados, mesmo em situações adversas. Será possível medir como a participação dos pais e da comunidade invariavelmente acompanha as boas notas. Também se vai descobrir o custo das interrupções de políticas públicas e de muito investimento em prédio e pouco em formação de capital humano. Meta de longo prazo implica necessariamente fiscalização de longo prazo, a exemplo do que ocorre, por exemplo, com as oscilações da balança comercial ou da inflação.
Chama a atenção, no Idesp, assim como em demais indicadores, o fato de que escolas próximas geograficamente, lidando com estudantes de nível socioeconômico semelhante, conseguem demonstrar desempenho tão diferente. Algumas estão com um pé, sem exagero, na Europa; mas a maioria está na África.
Há uma chance desse tipo de índice, atrelando os rendimentos dos docentes e dos funcionários, ao desempenho dos alunos, inverter o pacto da mediocridade -os pais tratariam de apoiar os bons professores que, por sua vez, tratariam de estimular os pais na educação de seus filhos.


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