São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NOVO ÊXODO
Colégio Renascença, maior escola judaica do país, vai encerrar as atividades no bairro, que agora virou reduto coreano
Fim de escola deixa Bom Retiro menos judeu


DA REPORTAGEM LOCAL

Em seis meses, quando os 230 estudantes da sede do Colégio Renascença do Bom Retiro, centro de São Paulo, forem transferidos para a unidade de Higienópolis, bairro de classe média na mesma região, estará simbolicamente encerrado um período de 80 anos de ocupação judaica naquele bairro.
Na capital, o Bom Retiro já foi um dos principais redutos da comunidade judaica. Já o Renascença, fundado há 80 anos, é a maior escola judaica do Brasil, com 1.252 alunos, e uma das cinco maiores da América Latina.
"É triste, mas a realidade é que o Bom Retiro deixou de ser um bairro judaico", diz o presidente da escola, Max Waintraub, 36, que, assim como a maior parte da sua geração, foi criado no "Bonra", diminutivo que identifica o bairro entre os membros da comunidade judaica paulistana.
Segundo a Federação Israelita de São Paulo, há 60 mil judeus no Estado, sendo 54 mil na capital. Desses, 40% vivem em Higienópolis, onde começaram a chegar em meados de 70. Os outros estão espalhados entre Perdizes, Itaim-Bibi, Pinheiros e Jardins.
O colégio é considerado tradicional -ensina história judaica, religião e hebraico. Mas, segundo Waintraub, está "longe de ser ortodoxo". O Renascença atende principalmente alunos de famílias de classe média chefiadas por profissionais liberais e empresários que respeitam apenas parte das tradições religiosas.
Foram justamente essas famílias que começaram a abandonar o "Bonra" nos anos 70, cedendo lugar aos coreanos.
Ao longo das décadas, o Bom Retiro perdeu população também fora da colônia judaica. O Censo de 1981 contou 47.588 moradores. O de 2000, 26.598. O cadastro da federação mostra que, em 1968, 15 mil judeus moravam lá. Em 2001, o número caiu para 7.200.
Com o encerramento das atividades do Renascença no Bom Retiro -motivadas pela falta de alunos e o consequente déficit financeiro-, ficam no bairro dois pequenos colégios ortodoxos, que atendem, principalmente, estudantes de outros bairros. A referência escolar do local, diz Waintraub, passa a ser a Polilogos, a escola coreana, com 270 alunos.
O prédio de 7.500 metros quadrados, na rua Prates, será colocado à venda. Mas Waintraub prefere ver o local, onde funciona o arquivo histórico da comunidade, ser transformado em uma central judaica, que abrigaria instituições que não possuem sede própria.
Waintraub receia que cerca de 50% dos alunos da sede do Bom Retiro desistam de estudar no Renascença após a transferência.
Ele teme que os alunos das regiões carentes -como conjuntos habitacionais da periferia da Grande São Paulo e de cortiços da região central- , hoje atendidos no Bom Retiro, sintam-se desconfortáveis na nova sede.
"É muito difícil adaptar alunos que moram nas coberturas de Higienópolis com os que vivem na Cohab de Carapicuíba", diz.
A imigração judaica no bairro começou de forma tímida na década de 20 e teve seu pico entre 1947 e 1950.
(GABRIELA ATHIAS)




Texto Anterior: Memória: Arquiteto Sérgio Bernardes morre aos 84 anos de falência dos órgãos
Próximo Texto: Coreano moderniza comércio local
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.