São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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VIOLÊNCIA

Governo prende 26 PMs suspeitos de participação na morte das três vítimas, atingidas na cabeça com tiros a curta distância

Jovens foram "executados" no Rio, diz laudo

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Laudo cadavérico do IML (Instituto Médico Legal) confirma que três jovens entre 15 anos e 19 anos, encontrados mortos no último fim de semana em Inhaúma (zona norte do Rio), levaram cada um pelo menos dois tiros na cabeça disparados a curta distância.
Testemunhas disseram que eles foram vistos pela última vez em um carro do Grupamento Especial Tático-Móvel da Polícia Militar em Rio Comprido, na zona norte, na noite do último sábado.
Por determinação do secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho, 26 policiais militares suspeitos de terem praticado o crime foram afastados ontem do serviço e ficarão presos por um período de 72 horas.
Os PMs integravam duas equipes que, na noite de sábado, atuavam no Rio Comprido. Até a conclusão desta edição, seis deles já haviam prestado depoimento à polícia. Eles negaram envolvimento nos assassinatos.
Responsável pelas investigações, o delegado Ricardo Dias Teixeira disse que vai investigar se os policiais teriam cometido o crime com armas particulares.
Segundo ele, foram recolhidos 11 fuzis e 24 pistolas que estavam com os PMs na noite dos crimes.
Segundo testemunhas, os jovens, que moravam no Rio Comprido, voltavam de uma festa junina quando foram abordados por PMs que estavam em três Blazers e em um Gol.
Em depoimento, um taxista afirmou que viu os três rapazes sendo agredidos pelos PMs. A seguir, teriam sido colocados dentro de uma Blazer. A PM informou que os três jovens eram suspeitos de ter assaltado uma padaria no bairro na noite de sábado.
O delegado afirmou que os carros serão periciados porque há a suspeita de que os jovens tenham sido mortos dentro deles.
Os mortos foram Thiago de Souza Marques, 15, Leandro Celestino Rodrigues, 16, e Vladir Borges Furtado Barbosa, 19. Apenas Barbosa tinha passagem pela polícia. Ele havia sido condenado a cinco anos e quatro meses de prisão por furto e cumpria pena em regime semi-aberto.
Para o delegado, os PMs, se forem considerados culpados, serão indiciados por triplo homicídio.
Policiais do grupamento também são investigados pela morte de três adolescentes de 16 anos. O caso ocorreu no dia 18 de setembro do ano passado. Os corpos foram encontrados na estrada do Sumaré (zona sul).
Segundo depoimentos de testemunhas, os três rapazes estavam passeando de bicicleta no Méier (zona norte) quando foram abordados por PMs e colocados em um carro. Depois, não foram mais vistos. O caso não foi concluído porque nenhum PM foi reconhecido até agora por testemunhas.

Associação de PMs
A Associação dos Policiais Militares do Brasil criticou, em nota oficial, a determinação do secretário Anthony Garotinho de afastar 26 policiais suspeitos de envolvimento na morte dos três rapazes de Rio Comprido.
Segundo a nota, o caso está sendo tratado de forma política, "procurando aferir dividendos eleitorais". A entidade diz, no documento, que a decisão de Garotinho fere a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para a associação, a "legalidade", o "respeito aos direitos humanos" e a "moralidade são colocados de lado" pela decisão do secretário. A nota diz que não há unidade da PM com capacidade para abrigar os 26 policiais.


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