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Escuta aponta corrupção em subprefeitura
Em gravações, empresário de bingo discute propina para servidores da Subprefeitura da Sé para favorecer casa irregular
Diálogo ocorreu em fevereiro, quando o Sampa Bingo estava lacrado; lacre definitivo só ocorreu em 27 de abril, 77 dias após diálogo
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de descobrir indícios
de pagamento de propina a juízes federais e a policiais civis, a
Polícia Federal encontrou
menção de que funcionários de
um órgão da Prefeitura de São
Paulo receberam dinheiro para
que um bingo irregular continuasse aberto. O órgão citado é
a Subprefeitura da Sé, que administra a região central da cidade. Quem dirige a subprefeitura é Andrea Matarazzo, a
principal voz do PSDB dentro
da administração municipal.
A menção à propina aparece
em uma conversa telefônica interceptada pela PF com autorização judicial na Operação Têmis, que investiga a venda de
decisões judiciais -Têmis é a
deusa grega da Justiça.
O diálogo ocorreu em 9 de fevereiro deste ano, às 15h51, como mostra um dos 14 volumes
do inquérito da operação obtido pela Folha.
De um lado da linha está
Marco Antonio Tobal, vice-presidente da Associação Brasileira de Bingos e dono de
duas casas de jogos na cidade
(os bingos Jardins e Tatuapé),
que teriam sido vendidos no
ano passado, segundo ele.
Do outro lado, Jaques, o intermediário da suposta propina, sobre quem a PF não descobriu mais detalhes até agora.
"Manda vir pegar"
"E o tiule para dar pra esses
putos?", pergunta Jaques -tiule é a gíria de cadeia e de travesti para designar dinheiro.
"Ah! Manda vir pegar, né?",
responde Tobal. Ele diz que o
pagamento era para o despachante Jaques.
Na conversa, Jaques avisa
Tobal que um determinado
bingo pode voltar a operar -a
Folha apurou que se trata do
Sampa Bingo, na avenida Ipiranga, área sob a jurisdição da
Subprefeitura da Sé: "O que foi
conversado foi a nível de subprefeitura. Você derruba as paredes, eles não vão mais te incomodar", conta Jaques.
A parede derrubada era a que
havia sido erguida pela subprefeitura em 8 de fevereiro porque o bingo desrespeitara a ordem de fechamento. A conversa gravada pela PF foi no dia seguinte. O lacre definitivo do
bingo só ocorreu em 27 de abril,
77 dias depois da conversa.
Logo em seguida, ele cita o
preço do negócio: "Ficou 30
cruzeiros!", um valor que policiais acreditam ser R$ 30 mil.
"Puta vida! É muito! Duas de
dez eu topo", propõe Tobal.
"Eles tinham pedido 50, bicho,
nós que quebramos para 30",
rebate Jaques.
Tobal quer saber quem autorizaria a abertura: "Reginaldo",
responde Jaques.
Há pelo menos três Reginaldos na Subprefeitura da Sé. O
mais graduado na hierarquia
do órgão é Reginaldo José Fazzion, supervisor de fiscalização.
"Vai lá e pega os valores"
Como não seria recomendável aparecer na subprefeitura,
Tobal indica uma pessoa para
fechar o negócio -Willian Rossi. "Esteja lá na subprefeitura
do centro e aí você vai encontrar com o rapaz, depois você
vai com o Willian lá no bingo e
pega os valores, tá bom?", ordena. Segundo Tobal, Rossi é o
dono daquele bingo.
A Operação Têmis foi desencadeada no dia 20 de abril, depois de sete meses de investigações. Foram realizadas operações de busca e apreensão na
casa de juízes federais, advogados e em gabinetes do Tribunal
Regional Federal da 3ª Região.
A principal suspeita da PF é
que o advogado Luis Roberto
Pardo, o Beto, comandasse um
grupo que comprava decisões
favoráveis a bingos.
Tobal -dono da Villa
Country, complexo de 12 mil
metros quadrados que imita o
velho oeste- não é o único dirigente da associação dos bingos
que está sob investigação.
O presidente do conselho da
Abrabin, Olavo Sales da Silveira, e a presidente-executiva, a
advogada Danielle Chiorino Figueiredo, também são investigados pela polícia.
A PF suspeita que eles arrecadavam recursos dos donos de
bingos para pagar propina -o
que eles negam.
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