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ANÁLISE
Cidade precisa melhorar a qualidade de seus dados do clima para decidir melhor
Quando alguém decide
comprar um imóvel, será que
fecha o negócio sem consultar a própria conta bancária?
Ou sem analisar qual o melhor bairro? Ou ainda sem
analisar os possíveis cenários de mercado futuro para a
venda deste imóvel?
No caso do efeito das mudanças climáticas sobre a cidade, decidir o que fazer para
diminuir seus impactos segue os mesmos passos.
Decisões importantes como a de alterar frotas de veículos, a matriz energética da
cidade, entre outras, têm que
ser tomadas com o menor nível de incerteza possível.
Isso se faz com base em todos os dados confiáveis que
se puder conseguir.
O primeiro passo a Prefeitura de São Paulo já deu. Determinou uma política pública em relação às mudanças
climáticas globais. Aprovou
a lei 14.993 de junho de 2009
e formou grupos de trabalho.
Mas a prefeitura precisa
dar o próximo passo. É preciso avaliar cientificamente os
impactos das mudanças climáticas sobre a cidade.
As universidades são fontes de alguns dados. Porém,
eles estão espalhados em relatórios e livros. É preciso organizar essa informação em
algum lugar, depois avaliar o
que falta para dar mais solidez às decisões políticas.
O próximo e imediato passo passa pela compilação e
produção de dados novos.
Sem isso, o processo decisório ficará prejudicado. O resultado é uma loteria.
Para dar seguimento ao
que já foi iniciado, a prefeitura poderia criar um centro de
pesquisa científica sobre mudança do clima dedicado exclusivamente a estudar a cidade de São Paulo.
Um centro com seis pesquisadores, um por foco da
lei 14.993, contando técnicos
e estrutura computacional.
É papel da cidade fazer
pesquisa científica?
Como cidadão e como
cientista, creio que sim.
A prefeitura já conecta a
política à ação nas áreas de
educação e saúde, por exemplo, por meio da manutenção
de escolas e hospitais.
É preciso agir antes e com
segurança para evitar custos
financeiros e principalmente
pôr em risco a vida de cidadãos que vivem em áreas inadequadas, de risco.
Pode-se argumentar que
isso custará dinheiro, mas
qual será o tamanho da fortuna que iremos gastar por não
estarmos preparados para lidar com os efeitos das mudanças climáticas?
Pelas previsões, os prejuízos poderão ser muito maiores do que gastaríamos para
fazer pesquisa científica.
MARCOS BUCKERIDGE é professor do
Departamento de Botânica da USP e será
um dos redatores do próximo relatório
sobre as mudanças climáticas globais.
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