São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010

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ANÁLISE

Cidade precisa melhorar a qualidade de seus dados do clima para decidir melhor

Quando alguém decide comprar um imóvel, será que fecha o negócio sem consultar a própria conta bancária? Ou sem analisar qual o melhor bairro? Ou ainda sem analisar os possíveis cenários de mercado futuro para a venda deste imóvel?
No caso do efeito das mudanças climáticas sobre a cidade, decidir o que fazer para diminuir seus impactos segue os mesmos passos. Decisões importantes como a de alterar frotas de veículos, a matriz energética da cidade, entre outras, têm que ser tomadas com o menor nível de incerteza possível. Isso se faz com base em todos os dados confiáveis que se puder conseguir.
O primeiro passo a Prefeitura de São Paulo já deu. Determinou uma política pública em relação às mudanças climáticas globais. Aprovou a lei 14.993 de junho de 2009 e formou grupos de trabalho.
Mas a prefeitura precisa dar o próximo passo. É preciso avaliar cientificamente os impactos das mudanças climáticas sobre a cidade. As universidades são fontes de alguns dados. Porém, eles estão espalhados em relatórios e livros. É preciso organizar essa informação em algum lugar, depois avaliar o que falta para dar mais solidez às decisões políticas. O próximo e imediato passo passa pela compilação e produção de dados novos.
Sem isso, o processo decisório ficará prejudicado. O resultado é uma loteria. Para dar seguimento ao que já foi iniciado, a prefeitura poderia criar um centro de pesquisa científica sobre mudança do clima dedicado exclusivamente a estudar a cidade de São Paulo. Um centro com seis pesquisadores, um por foco da lei 14.993, contando técnicos e estrutura computacional.
É papel da cidade fazer pesquisa científica? Como cidadão e como cientista, creio que sim. A prefeitura já conecta a política à ação nas áreas de educação e saúde, por exemplo, por meio da manutenção de escolas e hospitais.
É preciso agir antes e com segurança para evitar custos financeiros e principalmente pôr em risco a vida de cidadãos que vivem em áreas inadequadas, de risco. Pode-se argumentar que isso custará dinheiro, mas qual será o tamanho da fortuna que iremos gastar por não estarmos preparados para lidar com os efeitos das mudanças climáticas? Pelas previsões, os prejuízos poderão ser muito maiores do que gastaríamos para fazer pesquisa científica.

MARCOS BUCKERIDGE é professor do Departamento de Botânica da USP e será um dos redatores do próximo relatório sobre as mudanças climáticas globais.



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