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31ª SÃO PAULO FASHION WEEK - ÚLTIMA MODA
Negro drama
GRIFES DEIXAM COTA DE LADO E REACENDEM POLÊMICA SOBRE A INCLUSÃO RACIAL NA SPFW
NINA LEMOS
VITOR ANGELO
DE SÃO PAULO
Deu branco na São Paulo
Fashion Week. O regime de
cotas apoiado pelo evento,
que recomenda 10% de modelos negros e indígenas nas
passarelas, parece ter sido
esquecido por parte das marcas.
Nas passarelas de estilistas consagrados, como Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço, a única representante
da cota era a top Bruna Tenório, que se inclui na porcentagem como descendente de
índios. Procurados pela reportagem, os estilistas não
responderam os pedidos de
entrevistas.
Outras marcas, como Cori,
Iódice e Movimento, botaram
negros na passarela, mas
ainda assim não cumpriram
a meta recomendada.
A assessoria da SPFW disse que o evento continua seguindo as diretrizes do acordo firmado em 2009 com o
Ministério Público do Estado
de São Paulo.
O termo obrigava a organização a sugerir às grifes a
adoção da cota de 10%. Porém não previa penalidades
às marcas que não seguissem
a recomendação.
Já o evento poderia ser
multado em até R$ 250 mil se
não comprovasse que estava
trabalhando pela inclusão
racial.
No mês passado, o acordo
e a obrigação do evento de
prestar contas ao MP venceram. Coincidentemente, nesta edição verão 2012, as grifes
relaxaram quanto à adoção
da cota.
100% BLACK
A Osklen, uma das principais grifes do país, desfilou
ontem uma coleção inspirada na cultura negra brasileira. O estilista da marca, Oskar Metsavaht, disse à Folha
que não fez um casting
"100% black" porque não
encontrou profissionais negros no mercado.
A declaração jogou mais
lenha na fogueira racial desta edição, que começou com
um protesto pelo aumento da
presença negra no evento.
"No Brasil, em geral, os negros são pessoas mais modestas. Na hora de procurar a
agência, já ficam com medo
de não serem aceitos", diz
Metsavaht.
"É muita cara de pau falar
que faltam tops negras profissionais". O desabafo é da
modelo Malana, 21, que desfilará para a Neon, seu único
trabalho na temporada. Ela é
a favor do aumento da cota.
"Se não está sendo cumprida, que suba pra 50%."
Samira Carvalho, 22, que é
negra, tem suas ressalvas sobre a cota. "O problema é que
são sempre as mesmas negras nos desfiles. Não foi um
avanço, foi uma forma de
maquiar a situação."
O booker Bruno Soares,
46, culpa as regras de mercado. "Os negros no Brasil, por
razões históricas, são pobres
e não consomem moda. Por
isso as marcas não querem
associá-los a seus produtos."
O estilista Wilson Ranieri,
um dos únicos designers negros de destaque no país, é
contra o regime das cotas,
que considera "preconceituoso".
O designer, ex-SPFW, critica até iniciativas teoricamente simpáticas à questão negra. "É absurdo a Osklen lançar uma camiseta escrito "negro". É o mesmo caso daquela
T-shirt "100% negro", que era
cool há alguns anos. Mas, se
você usar uma camiseta que
diga "100% branco", terá problemas. É uma inversão de
preconceitos."
Metsavaht discorda. "Tenho duas opiniões sobre as
cotas. Acho que a moda é autoral e não deve ter limites.
Por outro lado, essa é uma
questão social que tem que
ser combatida." Polêmica
instaurada.
COLABOROU PEDRO DINIZ
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