São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011

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31ª SÃO PAULO FASHION WEEK - ÚLTIMA MODA

Negro drama

GRIFES DEIXAM COTA DE LADO E REACENDEM POLÊMICA SOBRE A INCLUSÃO RACIAL NA SPFW

NINA LEMOS
VITOR ANGELO

DE SÃO PAULO

Deu branco na São Paulo Fashion Week. O regime de cotas apoiado pelo evento, que recomenda 10% de modelos negros e indígenas nas passarelas, parece ter sido esquecido por parte das marcas.
Nas passarelas de estilistas consagrados, como Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço, a única representante da cota era a top Bruna Tenório, que se inclui na porcentagem como descendente de índios. Procurados pela reportagem, os estilistas não responderam os pedidos de entrevistas.
Outras marcas, como Cori, Iódice e Movimento, botaram negros na passarela, mas ainda assim não cumpriram a meta recomendada.
A assessoria da SPFW disse que o evento continua seguindo as diretrizes do acordo firmado em 2009 com o Ministério Público do Estado de São Paulo.
O termo obrigava a organização a sugerir às grifes a adoção da cota de 10%. Porém não previa penalidades às marcas que não seguissem a recomendação.
Já o evento poderia ser multado em até R$ 250 mil se não comprovasse que estava trabalhando pela inclusão racial.
No mês passado, o acordo e a obrigação do evento de prestar contas ao MP venceram. Coincidentemente, nesta edição verão 2012, as grifes relaxaram quanto à adoção da cota.

100% BLACK
A Osklen, uma das principais grifes do país, desfilou ontem uma coleção inspirada na cultura negra brasileira. O estilista da marca, Oskar Metsavaht, disse à Folha que não fez um casting "100% black" porque não encontrou profissionais negros no mercado.
A declaração jogou mais lenha na fogueira racial desta edição, que começou com um protesto pelo aumento da presença negra no evento.
"No Brasil, em geral, os negros são pessoas mais modestas. Na hora de procurar a agência, já ficam com medo de não serem aceitos", diz Metsavaht.
"É muita cara de pau falar que faltam tops negras profissionais". O desabafo é da modelo Malana, 21, que desfilará para a Neon, seu único trabalho na temporada. Ela é a favor do aumento da cota. "Se não está sendo cumprida, que suba pra 50%."
Samira Carvalho, 22, que é negra, tem suas ressalvas sobre a cota. "O problema é que são sempre as mesmas negras nos desfiles. Não foi um avanço, foi uma forma de maquiar a situação."
O booker Bruno Soares, 46, culpa as regras de mercado. "Os negros no Brasil, por razões históricas, são pobres e não consomem moda. Por isso as marcas não querem associá-los a seus produtos."
O estilista Wilson Ranieri, um dos únicos designers negros de destaque no país, é contra o regime das cotas, que considera "preconceituoso".
O designer, ex-SPFW, critica até iniciativas teoricamente simpáticas à questão negra. "É absurdo a Osklen lançar uma camiseta escrito "negro". É o mesmo caso daquela T-shirt "100% negro", que era cool há alguns anos. Mas, se você usar uma camiseta que diga "100% branco", terá problemas. É uma inversão de preconceitos."
Metsavaht discorda. "Tenho duas opiniões sobre as cotas. Acho que a moda é autoral e não deve ter limites. Por outro lado, essa é uma questão social que tem que ser combatida." Polêmica instaurada.


COLABOROU PEDRO DINIZ


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