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Para Lembo, SP repete Canudos
Governador paulista diz que PCC arregimenta massa empobrecida para agredir Estado nacional de Direito
Segundo pefelista, onda de violência arrefeceu, mas outros surtos podem ocorrer; facção criminosa "usa tática de guerrilha"
Nerivelton Araújo/AAN
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Familiares de detentos em frente a complexo penitenciário em Hortolândia (interior de São Paulo), onde não houve visitas ontem |
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador de São Paulo,
Cláudio Lembo (PFL), afirmou
ontem que a segunda onda de
violência desencadeada pelo
PCC "arrefeceu", mas não descartou a ocorrência de novos
ataques no futuro próximo. Na
visão de Lembo, São Paulo está
repetindo "uma guerra de Canudos". "Eles [o PCC] atacam e
recuam, utilizando de ondas
humanas extremamente frágeis economicamente."
Ele acredita que outros Estados deverão sofrer episódios
semelhantes. "Tenho muito temor que isso se torne um hábito dos sem-lei. A batalha deles
hoje é utilizar dos desprovidos
economicamente para agredir
o Estado nacional de Direito."
Desde terça, na segunda onda de ataques, o PCC matou pelo menos oito pessoas e promoveu pelo menos 421 atentados,
entre incêndios de ônibus, ataques a bases e casas de policiais
e até mesmo caminhões de lixo.
A primeira onda ocorreu em
maio, sendo que 46 mortes foram atribuídas ao PCC.
A seguir, trechos da entrevista que Lembo concedeu ontem
à Folha, no seu gabinete, no
Palácio dos Bandeirantes.
FOLHA - A onda de violência arrefeceu?
CLÁUDIO LEMBO - Arrefeceu,
mas, tenho dito, nós podemos,
sim, sofrer novos surtos.
FOLHA - O que o leva crer nisso?
LEMBO - A tática da guerrilha, a
forma como estão agindo. Atacam e recuam, utilizando de
ondas humanas extremamente
frágeis economicamente.
FOLHA - Outros Estados podem
também ser atingidos?
LEMBO - Infelizmente. Ainda
hoje [ontem] vi uma pequena
notícia nos jornais de que Belo
Horizonte [MG] sofreu três
atentados. Creio e tenho muito
temor de que isso se torne um
hábito dos sem-lei, que passem
a agredir todos os segmentos da
sociedade. A batalha deles hoje
é utilizar dos desprovidos economicamente para agredir o
Estado nacional de Direito.
FOLHA - Percebe-se que houve
uma mudança de tática do PCC, que
passou a priorizar ataques a ônibus,
bancos e até caminhão de lixo.
LEMBO - É um ataque contra o
Estado de Direito. Não é algo
novo na América Latina. Tenho
conversado com especialistas
internacionais. Tivemos algo
muito parecido, que ainda permanece, na Colômbia, no Peru.
Há uma série de elementos.
Um é a miséria endêmica. Há
uma formação social muito deformada na América Latina. Isso tudo é um caldo cultural dramático. Toda a América Latina
se encontra num risco muito
grande. Os governos precisam
pensar em integração social. A
elite ou é muito americanófila,
ou está, como sempre, com as
costas voltadas para o Brasil e
olhando a Europa. Nunca nos
debruçamos sobre o Brasil. O
que está acontecendo é uma repetição da Guerra de Canudos
em plena cidade de São Paulo.
FOLHA - E até onde vai isso?
LEMBO - Até onde for a consciência daqueles que podem
pensar melhor. Não sei onde
vai. O episódio social se repete
sempre em molduras diferentes. E agora, lamentavelmente,
na moldura urbana onde a
agressão é maior, as situações
são mais complexas.
FOLHA - Na sua opinião, qual a participação do Judiciário nessa crise?
LEMBO - O Judiciário está numa situação muito difícil. É um
Judiciário criado por um Brasil
onde os conflitos eram só de
natureza patrimonial e, portanto, só essa relação conflituosa entre a classe média e as camadas economicamente mais
fortes. E hoje a conflitualidade
é entre o Estado e o crime. As
leis processuais brasileiras
nunca darão a possibilidade de
o Judiciário ser capaz de resolver situações correntes. O Judiciário hoje é refém de suas próprias leis. Não terá condições
de superar com altruísmo a legislação brasileira atual, que foi
elaborada por quem olha o exterior e não o interior. Você
tem cola das leis austríaca, alemã, italiana. Isso vai gerar um
colapso. Não é culpa das pessoas, e sim da própria estrutura
do poder. Ou das leis concedidas ao poder para fazer justiça.
FOLHA - O que poderia ser feito a
curto prazo?
LEMBO - Creio que poderia ser
possível, eventualmente, pequenos mutirões a partir das
áreas mais complexas da execução penal. Talvez pudesse
dar uma solução paliativa.
FOLHA - Houve algum acordo para
esse arrefecimento da violência?
LEMBO - Não houve acordo naquela ocasião, em maio, e nem
agora. Nem contato houve.
Nem os advogados deles [do
PCC] nos procuraram. Muitos
deles estão tão marcados pela
criminalidade que nem nos
procuraram. Se tivesse procurado, eu teria autorizado o comando da PM a levá-los.
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