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DANUZA LEÃO
Um homem
Bravo, Zidane. Bravo por ter tido a coragem de arriscar seu passado de jogador. Mas sua honra, essa, está imaculada
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ESTOU com Zidane e não abro.
O fabuloso craque brilhou
na Copa, mas, nos últimos
minutos do segundo tempo da prorrogação do jogo decisivo, aconteceu
o que aconteceu. Teve boas razões
para fazer o que fez.
Zidane contou o que houve; aliás,
contou mas não contou. O que ouviu
deve ter sido tão grave que o pudor o
impediu de repetir. Materazzi provocou, e disse o que um homem não
pode ouvir sem revidar. Revidando,
como o fez, Zidane correu o risco de
ser expulso, como aconteceu, e assim não participar dos pênaltis; deu
certo o plano do italiano, pois é claro
que Zidane teria feito o gol que poderia ter dado a vitória à França.
Mas o povo entende rápido, e depois
da expulsão, a cada vez que a Itália
tocava na bola, o estádio vaiava. E
apesar de a imprensa francesa ter
massacrado o ídolo, na volta a Paris a
Place de la Concorde estava lotada
para aplaudir Zidane.
O ídolo francês é tímido, discreto e
modesto; casado, tem quatro filhos e
uma vida pessoal irretocável. Quem
prestar atenção no olhar dele verá
que é um homem de fibra, seguro e
que sabe o que faz. Sabe tanto que,
em vez de dar um soco na cara de seu
agressor, como poderia ter feito, deu
uma cabeçada no seu peito (e não na
cabeça, o que poderia ter terminado
em sangue).
Materazzi é que devia ter sido expulso, pois existem palavras que
agridem mais do que uma agressão
física.
O ídolo continua sendo ídolo para
todo o povo da França, e a seleção
francesa foi recebida em Paris como
se fosse campeã do mundo.
Ah, ele perdeu a cabeça? E quem
não perde a cabeça, um dia? Seria
muito bom se todos fossem frios e
contidos, mas aí o mundo seria diferente e talvez bem sem graça. O jogador Zidane poderia ter segurado
sua indignação por mais alguns minutos, fazer o belo e último gol da
sua carreira e sair do estádio coberto
de glórias. Mas como se sentiria o
homem Zidane, engolindo um insulto que deve ter sido pesado, por
uma mera partida de futebol, mesmo sendo numa decisão de Copa do
Mundo? Ele sabia o que estava arriscando, sabia das milhares de pessoas
no estádio -e das dezenas de milhões, pela televisão- vendo o que
aconteceu. Mas sua honra, insultada
gravemente, falou mais forte, o que
faz com que ele seja mais respeitado
ainda do que se tivesse feito seu gol e
dado a vitória à França.
É preciso sempre ir mais fundo
nas coisas; pensar nas razões pelas
quais elas acontecem, o que faz um
homem sereno perder a cabeça,
mesmo sabendo das conseqüências
do seu ato. Zidane sabia o que estava
arriscando, mas saiu de bem com ele
mesmo, e não se arrepende do que
fez. Grande Zidane.
Foi por isso -também- que ele
foi eleito o melhor jogador da Copa,
e continua sendo um ídolo, agora
talvez maior do que antes. E tenho
minhas dúvidas se ele algum dia vai
dizer a alguém o que ouviu de Materazzi. Quando a ofensa é grande demais, a gente não consegue contar.
Bravo, Zidane. Bravo por ter tido a
coragem de arriscar seu passado de
jogador que, segundo dizem alguns,
ficou manchado. Mas sua honra, essa, está imaculada, e para as milhões
de pessoas que o aplaudiram na sua
volta, isso é mais importante do que
ganhar a Copa do Mundo. O futebol
precisa de mais Zidanes e menos
moleques que só pensam em usar
Armani e ir às boates.
Seus quatro filhos devem estar
muito orgulhosos de terem o pai que
têm -que, aliás, é um homem lindo.
danuza.leao@uol.com.br
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