São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008

Próximo Texto | Índice

Vítima de seqüestro morre em cerco policial

A polícia ainda não sabe quem matou o administrador, mas PMs admitiram que o confundiram com um criminoso

Parentes da vítima dizem que policiais afirmaram no hospital que não era preciso pressa para atender os feridos, já que eram bandidos


Reprodução
Imagem flagra momento em que PMs retiram de forma brusca os dois homens do carro após ação

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, DO RIO

Vítima de um seqüestro relâmpago, um administrador de empresas foi morto ao final de uma perseguição policial após ter o carro atingido por ao menos dez tiros disparados por policiais militares. O funcionário do Infoglobo (que edita jornais do grupo Globo), Luiz Carlos Soares da Costa, 35, era mantido refém no próprio carro por um bandido que fugia da polícia quando foi atingido. Os PMs disseram acreditar que os dois eram criminosos.
Os quatro PMs -três cabos (Vanderlei de Oliveira Acha Jr., Alexandre dos Santos Carvalho e Robson Jesus da Silva) e o soldado Luiz Otávio Vieira Barbosa- afirmaram em depoimento na 17ª DP (São Cristóvão) que perseguiam um carro suspeito quando foram alvejados por "bandidos" e revidaram. Quando falaram à Polícia Civil, ainda não sabiam que um dos mortos era a vítima do assalto.
O crime ocorreu menos de dez dias após outros PMs terem confundido o carro em que estava o menino João Roberto Soares, 3, com o de criminosos. O menino foi morto com um tiro na nuca.
Imagens feitas pelo SBT mostram que os PMs retiraram de forma brusca os dois homens do carro após a perseguição. Costa e Jefferson Santos Leal -o suposto ladrão-, 18, foram puxados pelas pernas e arrastados para fora do veículo. Um policial dá um chute para abaixar o braço de Costa. A gravação também registra que o Siena foi retirado do local antes da chegada da perícia.
As imagens mostram que Costa ainda respirava. Ele chegou morto ao Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), atingido no lado direito do tórax e no braço direito. Leal, alvejado no abdômen, permanecia internado em estado grave até a conclusão desta edição. A família afirma que os PMs disseram aos funcionários do hospital que não havia pressa em atendê-los porque "eram bandidos".
Só após exames será possível saber se o administrador foi morto pelos PMs.
A Polícia Civil apreendeu três fuzis da PM e a pistola 380 usada pelo suposto criminoso.
A gravação do SBT mostra, no entanto, um policial empunhando uma pistola. Peritos afirmaram que há marcas de pistola na traseira do Siena.
"Eles entregaram as armas que disseram ter usado na ação. Caso precise verificar outras armas, vou solicitá-las", afirmou o delegado José de Moraes Ferreira. O caso foi registrado como latrocínio (roubo seguido de morte) e tentativa de homicídio -todas acusações contra Leal. Os PMs aparecem como testemunhas, mas serão investigados, diz o delegado. Segundo a PM, os envolvidos vão continuar trabalhando, mas responderão a inquérito policial.
O roubo aconteceu na avenida Leopoldo Bulhões, em Bonsucesso (zona norte), próximo à Linha Amarela. Costa conversava com a mulher ao telefone quando foi parado por Leal, que assumiu a direção do Siena.
Os quatro PMs em um carro perto do local disseram ter desconfiado de manobra do Siena e iniciaram uma perseguição por mais de um quilômetro. No trajeto, segundo os PMs, o carro policial foi baleado. Eles revidaram, segundo narraram, e furaram o pneu do carro.
Na avenida Brasil, em frente a um posto de gasolina, o Siena parou. Os PMs se aproximaram e retiraram os homens do carro. Eles foram levados por uma ambulância da PM.
Peritos acharam dez disparos no Siena e dois no carro dos PMs. O instituto de criminalística vai apurar se as marcas no carro policial foram feitas no dia do crime ou se são antigas.
A polícia diz que a pistola de Leal tinha capacidade para 15 balas, mas só duas não foram disparadas, -o que reforçaria que atirou contra os PMs.


NA FOLHA ONLINE
www.folha.com.br/081973

Veja a íntegra do vídeo



Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.