|
Próximo Texto | Índice
TRANSPORTE SOLIDÁRIO
A prefeitura retomou os subsídios em 2003; o governo estadual registra aumento de 1995 para 2004
Marta e Alckmin já subsidiam R$ 700 mi
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os subsídios dos governos estadual e municipal aos passageiros
do transporte público sobre
pneus e sobre trilhos de São Paulo
vão se aproximar de R$ 700 milhões (R$ 280 milhões da prefeitura e R$ 419 milhões do governo
estadual) neste ano, um crescimento de 57% em relação a 2002 e
de 31% na comparação com 2003,
já descontada a inflação.
A quantia, usada para bancar as
gratuidades -idosos, estudantes
e baldeações livres, entre outras- e evitar mais reajustes tarifários (que também tiveram altas
acima da inflação), é suficiente
para, no intervalo de quatro a cinco anos, construir uma linha de
metrô como a 4-amarela (Luz-Vila Sônia), de 12,8 km.
Esse montante revela as prioridades dos governos do PT e do
PSDB -que deixam comprometidos os investimentos públicos
em outras áreas, "amarrando" os
próximos prefeitos e governadores. Essa estratégia, embora seja
alvo de críticas pontuais, é aprovada pela maioria dos especialistas por esse ser considerado um
gasto social, que beneficia os mais
pobres, além de servir de contraponto à priorização aos carros.
O crescimento dos subsídios
nos últimos dois anos é motivado
principalmente pela decisão de
Marta Suplicy (PT) de criar um
novo modelo para ônibus e lotações, prevendo a renovação da
frota e a implantação do bilhete
único, que permite viagens livres
por duas horas pagando R$ 1,70.
Se, em maio de 2001, a prefeita
anunciou a interrupção das subvenções -já decidida no último
ano da gestão Celso Pitta-, em
2003 ela destinou R$ 124,9 milhões para esse fim (distribuídos
em sete meses) e, em 2004, R$ 280
milhões (para os 12 meses).
A contribuição da gestão Mário
Covas/Geraldo Alckmin (PSDB)
foi dada ao longo dos últimos nove anos -de 1995 para cá, as subvenções da CPTM (Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos) saltaram 252%, de R$ 84,1
milhões para R$ 296 milhões, e as
do Metrô, 158%, de R$ 47,6 milhões para R$ 123 milhões. Esses
valores foram atualizados pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE.
Bilhete único
A preocupação com os patamares de subvenção ao transporte
coletivo subiu depois da implantação do bilhete único da gestão
Marta, que, ao lado de outras melhorias do novo sistema, tende a
elevar os gastos públicos com os
operadores de ônibus e lotações.
Oficialmente, a administração
petista nega essa expectativa, mas
técnicos falam reservadamente na
possibilidade de um déficit de até
R$ 1 milhão por dia a partir de
2005 -que iria requerer aproximadamente R$ 360 milhões
anuais, alta de 29% em relação a
2004, mas que poderia ser minimizada com um reajuste tarifário.
No transporte sobre trilhos, a
tendência será de crescimento
quando houver novas expansões
da malha -como a própria linha
4 do Metrô, que deve ter sua primeira fase concluída até 2008.
A ampliação do bilhete único à
rede metroviária -intenção já
manifestada tanto pela campanha
de Marta como pela de José Serra- é outro fator de forte impacto social, mas também econômico, se previr descontos tarifários.
O arquiteto e urbanista Nazareno Affonso, diretor-executivo da
ANTP (Associação Nacional de
Transportes Públicos), é um defensor radical desses subsídios.
"É uma decisão política, de excluir ou não os mais pobres. O
transporte é um serviço essencial,
como a educação e a saúde", diz.
Do lado oposto está Luiz Celio
Bottura, ex-presidente da Dersa e
consultor em engenharia urbana.
"Eu sou contra essa idéia de administração do coitado. Essas subvenções podem levar as pessoas a
usar os ônibus mais do que precisam, além de ser um incentivo para que continuem morando longe
do lugar de trabalho", afirma ele,
para quem esses recursos seriam
mais bem aplicados numa reforma urbana que aproximasse moradias e empregos.
Jaime Waisman, professor da
USP, avalia a evolução dos subsídios como "um avanço" ("quando todos os custos estão embutidos na tarifa, quem paga são os
mais pobres"), mas ressalta a opção de desoneração de impostos
federais para evitar a elevação de
gastos da prefeitura e do Estado.
Especialistas também defendem a revisão dos critérios de
concessão de gratuidades, para
priorizar pessoas de baixa renda.
Próximo Texto: Moacyr Scliar: Olimpíadas mitológicas Índice
|