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Traficante diz ter pago R$ 1,6 mi a policiais
Polícia Federal investiga veracidade da declaração feita informalmente pelo colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía
Dinheiro teria sido usado para pagar o resgate de três pessoas do seu grupo que agentes do Denarc teriam seqüestrado em São Paulo
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, 44, contou à Polícia Federal que pagou US$ 800 mil (R$
1,6 milhão) a policiais do Denarc, o Departamento de Investigação sobre Narcóticos da
Polícia Civil de São Paulo.
O dinheiro, na versão de Abadía, serviu como pagamento de
resgate de três pessoas do seu
grupo que os policiais teriam
seqüestrado. O caso ocorreu no
segundo semestre do ano passado, ainda de acordo com o colombiano.
A PF investiga a veracidade
da informação. Por enquanto,
os nomes dos policiais e dos seqüestrados são mantidos sob o
mais rigoroso sigilo.
O segredo sobre a apuração,
porém, foi rompido. Até policiais do Denarc já sabem que a
PF rastreia os bens de um delegado e de quatro investigadores. Em tese, eles não deveriam
ter conhecimento de nada porque são o alvo da investigação.
A PF busca provar a participação dos policiais por meio da
hipótese de enriquecimento ilícito. Caso consiga comprovar o
enriquecimento dos policiais, a
PF vai pedir a prisão deles.
O colombiano já decidiu que
vai formalizar as informações
sobre o seqüestro, relatadas
numa conversa informal com
os delegados que o prenderam
no último dia 14. A formalização é necessária para eventual
abertura de processo criminal.
A Folha confirmou o depoimento informal de Abadía e a
investigação da PF sobre o seqüestro com cinco profissionais que atuam no caso.
Abadía contou que, inicialmente, os policiais civis teriam
pedido US$ 1 milhão. O cativeiro usado pelos policiais, de
acordo com o megatraficante,
foi a própria sede do Denarc,
no Butantã, na zona oeste.
O próprio Abadía, um engenheiro que fez pós-graduação
em Miami, negociou com os
policiais e conseguiu um abatimento de 20% -no final, ele
disse à PF que mandou entregar US$ 800 mil. O dinheiro foi
entregue aos policiais num
posto de gasolina.
Abadía é apontado pelo DEA
(Drug Enforcement Administration, a agência antidrogas
dos EUA) como um dos maiores traficantes do mundo. Ele é
acusado de ter levado mil toneladas de cocaína para os EUA e
de ter ordenado a morte de 315
pessoas (300 na Colômbia e 15
nos EUA). O dinheiro que ele
teria juntado com o narcotráfico é estimado em US$ 1,8 bilhão (R$ 3,6 bilhões).
Os policiais federais envolvidos na investigação acreditam
que os três investigadores e o
delegado do Denarc não sabiam exatamente o tamanho
da fortuna do colombiano.
Na interpretação da PF, os
policiais civis sabiam, porém,
que ele era colombiano e que
havia sido -ou era- um traficante de porte internacional.
Não é o único caso de corrupção policial que o colombiano
relatou. Também de maneira
informal, Abadía contou que
um de seus passaportes falsos
foi descoberto por um agente
da Polícia Federal num posto
na fronteira com o Paraguai.
O traficante disse que resolveu o problema ao pagar US$
400 (R$ 800). As outras carimbadas teriam custado o mesmo.
Colaborou ANDRÉ CARAMANTE, da Reportagem Local
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