São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2007

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Traficante diz ter pago R$ 1,6 mi a policiais

Polícia Federal investiga veracidade da declaração feita informalmente pelo colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía

Dinheiro teria sido usado para pagar o resgate de três pessoas do seu grupo que agentes do Denarc teriam seqüestrado em São Paulo

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, 44, contou à Polícia Federal que pagou US$ 800 mil (R$ 1,6 milhão) a policiais do Denarc, o Departamento de Investigação sobre Narcóticos da Polícia Civil de São Paulo.
O dinheiro, na versão de Abadía, serviu como pagamento de resgate de três pessoas do seu grupo que os policiais teriam seqüestrado. O caso ocorreu no segundo semestre do ano passado, ainda de acordo com o colombiano.
A PF investiga a veracidade da informação. Por enquanto, os nomes dos policiais e dos seqüestrados são mantidos sob o mais rigoroso sigilo. O segredo sobre a apuração, porém, foi rompido. Até policiais do Denarc já sabem que a PF rastreia os bens de um delegado e de quatro investigadores. Em tese, eles não deveriam ter conhecimento de nada porque são o alvo da investigação.
A PF busca provar a participação dos policiais por meio da hipótese de enriquecimento ilícito. Caso consiga comprovar o enriquecimento dos policiais, a PF vai pedir a prisão deles.
O colombiano já decidiu que vai formalizar as informações sobre o seqüestro, relatadas numa conversa informal com os delegados que o prenderam no último dia 14. A formalização é necessária para eventual abertura de processo criminal.
A Folha confirmou o depoimento informal de Abadía e a investigação da PF sobre o seqüestro com cinco profissionais que atuam no caso. Abadía contou que, inicialmente, os policiais civis teriam pedido US$ 1 milhão. O cativeiro usado pelos policiais, de acordo com o megatraficante, foi a própria sede do Denarc, no Butantã, na zona oeste.
O próprio Abadía, um engenheiro que fez pós-graduação em Miami, negociou com os policiais e conseguiu um abatimento de 20% -no final, ele disse à PF que mandou entregar US$ 800 mil. O dinheiro foi entregue aos policiais num posto de gasolina.
Abadía é apontado pelo DEA (Drug Enforcement Administration, a agência antidrogas dos EUA) como um dos maiores traficantes do mundo. Ele é acusado de ter levado mil toneladas de cocaína para os EUA e de ter ordenado a morte de 315 pessoas (300 na Colômbia e 15 nos EUA). O dinheiro que ele teria juntado com o narcotráfico é estimado em US$ 1,8 bilhão (R$ 3,6 bilhões).
Os policiais federais envolvidos na investigação acreditam que os três investigadores e o delegado do Denarc não sabiam exatamente o tamanho da fortuna do colombiano.
Na interpretação da PF, os policiais civis sabiam, porém, que ele era colombiano e que havia sido -ou era- um traficante de porte internacional.
Não é o único caso de corrupção policial que o colombiano relatou. Também de maneira informal, Abadía contou que um de seus passaportes falsos foi descoberto por um agente da Polícia Federal num posto na fronteira com o Paraguai.
O traficante disse que resolveu o problema ao pagar US$ 400 (R$ 800). As outras carimbadas teriam custado o mesmo.


Colaborou ANDRÉ CARAMANTE, da Reportagem Local


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