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Burocracia toma mais tempo de diretor do que pedagogia
Pesquisa mostra que principal queixa dos dirigentes de escola é com atividade administrativa
Para pesquisador que
participou do levantamento,
70% do trabalho do diretor
escolar está ligado a funções
burocráticas do colégio
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais do que salário, violência
e espaço físico inadequado, a
principal queixa dos diretores
da rede municipal de São Paulo
é o excesso de burocracia.
A constatação foi feita em
pesquisa do Sinesp (sindicato
da categoria), que entrevistou
em março 373 gestores. Destes,
53% se queixaram que gastam
mais tempo com papéis e formulários do que com atividades
pedagógicas -reuniões com os
professores, por exemplo.
Segundo os dirigentes, o problema é agravado pela falta de
funcionários nas escolas. Salário foi apontado por 3% da
amostra como um dos principais problemas; 9% citaram
violência e insegurança; e 38%,
deficiências físicas das escolas.
A pesquisa foi feita para representar os 5.000 diretores e
coordenadores pedagógicos do
sistema municipal paulistano.
Algumas das atividades não
pedagógicas que os diretores
fazem são controle de notas fiscais de compras; pagamento de
fornecedores; levantamento de
informações como férias e adicionais por tempo de serviço
dos professores, para serem enviadas à diretoria de ensino.
Sistemas de ensino em outros países decidiram deixar os
diretores focados nas atividades pedagógicas, eliminando
processos burocráticos, aliado
à contratação de funcionários
para cuidar especificamente da
parte administrativa-financeira. Nova York é um exemplo.
"Reconheço que a carga burocrática para os diretores é
muito pesada", disse o secretário municipal da Educação,
Alexandre Schneider. "Mas temos diminuído".
A dirigente de uma escola de
ensino fundamental na zona
sul, que prefere não ser identificada, reclama que qualquer
compra exige três orçamentos
e, posteriormente, o envio dos
documentos a um contador.
"Há ainda sobreposição de
pedidos. Preciso mandar a planilha de bens patrimoniais ao
setor de bens da secretaria e,
depois, ao de compras. Mas são
necessários ajustes em cada
uma, o que toma tempo", disse.
"Quase não dá para conversar
com os professores."
"A vida dos dirigentes é um
inferno. E isso vale para quase o
país todo", afirma Ilona Becskeházy, diretora-executiva da
Fundação Lemann, que capacita diretores de redes públicas.
Ela sugere que as escolas tenham um diretor pedagógico e
outro administrativo.
O pesquisador Rudá Ricci,
consultor do levantamento,
calcula que 70% do trabalho do
diretor está ligado à burocracia.
"Há desconfiança em cima dos
diretores e professores. Por isso tantos relatórios." Para ele, o
ideal seria que as secretarias se
concentrassem em avaliar o
rendimento dos alunos.
Essa foi uma das mudanças
aplicadas em Nova York, diz a
pesquisadora Patrícia Guedes,
que analisou, a pedido da Fundação Itaú e do Instituto Braudel, a reforma daquele sistema.
Ao mesmo tempo que passaram a ser cobrados por resultados (diretores que não melhoram suas escolas não ganham
bônus e podem até perder o
cargo), os dirigentes ganharam
autonomia. Podem, por exemplo, contratar seus professores.
Além disso, foram eliminados órgãos equivalente às diretorias regionais de ensino. "Diminuiu muito a papelada."
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