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Universitários constroem casas em favela
Jovens de classe média de São Paulo atuam em comunidade em Suzano para construir casas mais dignas para famílias carentes
120 voluntários se reuniram para construir dez casas de madeira, com 18 metros quadrados cada uma, durante um final de semana
MÁRCIA PEREIRA
COLABORAÇÃO PARA FOLHA
Sábado ensolarado na Grande São Paulo. Enquanto muitos
jovens de classe média ainda
curtiam as férias prorrogadas
por conta da propagação do vírus da gripe suína no Estado,
uma estudante de relações internacionais da ESPM (Escola
Superior de Propaganda e Marketing) segue com seu carro,
um Polo preto, para uma favela
em Suzano.
Marina Santos, 20, mora na
Granja Julieta (bairro nobre na
zona sul de SP), é filha de um
auditor e de uma professora.
Sua única irmã está cursando
arquitetura na Faap.
Ela é uma das personagens
que fazem parte da história da
ONG chilena Um Teto para
Meu País no Brasil. Entidade
instalada em São Paulo há três
anos e que construiu 195 "casas
de emergência" em quatro cidades paulistas: Guarulhos,
Itapeva, São Paulo e Suzano.
As casas são de madeira, pré-fabricadas, têm 18 metros quadrados e podem ser erguidas
em dois dias de trabalho, com a
ajuda de oito a dez voluntários.
Cada unidade sai por R$
3.500 e a família que recebe a
"casa de emergência" paga 10%
desse valor, o restante é custeado por meio de doações de empresas e das prefeituras. "Em
Suzano, conseguimos um valor
melhor. Cada família pagou R$
150 pela casa", conta Larissa
Dantas, 24, diretora social da
ONG.
Em Suzano, a favela que recebeu a última empreitada da
instituição foi a do Jardim Gardênia: dez casas, construídas
por 120 voluntários no último
final de semana de julho. Marina é um deles. "Férias, que nada", diz a garota, que fala de sua
experiência no "Teto", apelido
dado a ONG pelos voluntários,
como se estivesse falando de
uma paixão. Não, não é apelo.
Ela está mesmo encantada.
"Passei julho organizando a
construção em Suzano. Quando chegamos lá, chovia muito.
Sabia que não seria fácil trabalhar no meio daquela lama toda, mas o clima é tão bom que a
gente tira energia nem sei de
onde para encarar o trabalho
pesado", diz a jovem, que já
participou de cinco mutirões
de construção e quer trabalhar,
no futuro, nesse "mercado".
Jesuíta
Um Teto para Meu País foi
criado pelo jesuíta chileno Felipe Berríos em 1997. O Brasil é
um dos países em que ONG
atua, já são 15, todos na América Latina. Ele percorre esses
países e desembarcou no Brasil
no último dia 7 para visitar as
novas moradias construídas
em Suzano.
Berríos conta que aqui as casas são mais precárias e que,
além do clima, a maior diferença entre o Brasil e os outros países é a proximidade entre pobres e ricos. "Em quase todos os
países, os pobres estão separados", comenta.
Aqui, a entidade é coordenada por seis jovens recém-formados, que trabalham recrutando voluntários em universidades, principalmente de engenharia civil e de arquitetura, fazendo o trabalho de "detecção"
das famílias mais necessitadas
em favelas, angariando recursos e projetando os trabalhos
de intervenção nas comunidades carentes.
"Antes de sermos contratados aqui, fomos voluntários em
outros países", conta Larissa.
Chile
O Chile foi o laboratório que
deu certo, de acordo com Berríos. Lá, a ONG diz ter mudado
o cenário que encontrou há 13
anos. "Eram 135 mil famílias
oficialmente vivendo em favelas, hoje, são 20 mil", afirma o
sacerdote, que estudou construção civil, teologia e filosofia,
e diz ter deixado as missões jesuítas por não lhe agradar ajudar só os católicos.
A ONG chilena financia parte
do trabalho feito no Brasil, mas
o objetivo é que se mantenha
com seus próprios recursos.
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