São Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009

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Universitários constroem casas em favela

Jovens de classe média de São Paulo atuam em comunidade em Suzano para construir casas mais dignas para famílias carentes

120 voluntários se reuniram para construir dez casas de madeira, com 18 metros quadrados cada uma, durante um final de semana

MÁRCIA PEREIRA
COLABORAÇÃO PARA FOLHA

Sábado ensolarado na Grande São Paulo. Enquanto muitos jovens de classe média ainda curtiam as férias prorrogadas por conta da propagação do vírus da gripe suína no Estado, uma estudante de relações internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) segue com seu carro, um Polo preto, para uma favela em Suzano.
Marina Santos, 20, mora na Granja Julieta (bairro nobre na zona sul de SP), é filha de um auditor e de uma professora. Sua única irmã está cursando arquitetura na Faap.
Ela é uma das personagens que fazem parte da história da ONG chilena Um Teto para Meu País no Brasil. Entidade instalada em São Paulo há três anos e que construiu 195 "casas de emergência" em quatro cidades paulistas: Guarulhos, Itapeva, São Paulo e Suzano.
As casas são de madeira, pré-fabricadas, têm 18 metros quadrados e podem ser erguidas em dois dias de trabalho, com a ajuda de oito a dez voluntários.
Cada unidade sai por R$ 3.500 e a família que recebe a "casa de emergência" paga 10% desse valor, o restante é custeado por meio de doações de empresas e das prefeituras. "Em Suzano, conseguimos um valor melhor. Cada família pagou R$ 150 pela casa", conta Larissa Dantas, 24, diretora social da ONG.
Em Suzano, a favela que recebeu a última empreitada da instituição foi a do Jardim Gardênia: dez casas, construídas por 120 voluntários no último final de semana de julho. Marina é um deles. "Férias, que nada", diz a garota, que fala de sua experiência no "Teto", apelido dado a ONG pelos voluntários, como se estivesse falando de uma paixão. Não, não é apelo. Ela está mesmo encantada.
"Passei julho organizando a construção em Suzano. Quando chegamos lá, chovia muito. Sabia que não seria fácil trabalhar no meio daquela lama toda, mas o clima é tão bom que a gente tira energia nem sei de onde para encarar o trabalho pesado", diz a jovem, que já participou de cinco mutirões de construção e quer trabalhar, no futuro, nesse "mercado".

Jesuíta
Um Teto para Meu País foi criado pelo jesuíta chileno Felipe Berríos em 1997. O Brasil é um dos países em que ONG atua, já são 15, todos na América Latina. Ele percorre esses países e desembarcou no Brasil no último dia 7 para visitar as novas moradias construídas em Suzano.
Berríos conta que aqui as casas são mais precárias e que, além do clima, a maior diferença entre o Brasil e os outros países é a proximidade entre pobres e ricos. "Em quase todos os países, os pobres estão separados", comenta.
Aqui, a entidade é coordenada por seis jovens recém-formados, que trabalham recrutando voluntários em universidades, principalmente de engenharia civil e de arquitetura, fazendo o trabalho de "detecção" das famílias mais necessitadas em favelas, angariando recursos e projetando os trabalhos de intervenção nas comunidades carentes.
"Antes de sermos contratados aqui, fomos voluntários em outros países", conta Larissa.

Chile
O Chile foi o laboratório que deu certo, de acordo com Berríos. Lá, a ONG diz ter mudado o cenário que encontrou há 13 anos. "Eram 135 mil famílias oficialmente vivendo em favelas, hoje, são 20 mil", afirma o sacerdote, que estudou construção civil, teologia e filosofia, e diz ter deixado as missões jesuítas por não lhe agradar ajudar só os católicos.
A ONG chilena financia parte do trabalho feito no Brasil, mas o objetivo é que se mantenha com seus próprios recursos.


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