São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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EDUCAÇÃO
Capes considera 412 cursos -34% dos 1.290- muito bom ou excelente; área biológica tem mais programas
País tem só 23 pós de nível internacional

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local

Apesar de ser a oitava economia do mundo, o Brasil tem apenas 23 cursos de pós-graduação com padrão de excelência internacional -a maioria deles no Estado de São Paulo, onde está concentrada a produção científica brasileira.
Pela qualidade da pós-graduação se mede a capacidade de um país de gerar inovação científica e tecnológica. Também é um indicador do sistema de formação de mão-de-obra qualificada para o mercado de trabalho -o que inclui desde administradores de empresas até engenheiros.
Esse nível de ensino tem adquirido um papel cada vez mais importante no mundo, devido à competição provocada pela globalização das economias e às mudanças tecnológicas aceleradas (leia nas duas próximas páginas).

Avaliação
O número de pós-graduações com padrão de excelência internacional foi levantado pela nova avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), um órgão do MEC (Ministério da Educação).
Ele explica por que o Brasil produz apenas 0,8% da ciência do planeta, contra 40% nos EUA -segundo dados que apuram o impacto de uma pesquisa pelo número de citações que recebe em trabalhos de outros cientistas.
Mas a avaliação da Capes também revela por que a pós-graduação brasileira é considerada a melhor da América Latina. Dos 1.290 programas avaliados, 412 (34%) receberam notas correspondentes aos conceitos muito bom ou excelente (notas 5, 6 e 7).

Biológicas
A área tradicionalmente conhecida como biológicas -que na avaliação recebe a denominação "ciências da vida"- é a que tem mais programas de pós no país, inclusive de padrão internacional.
No extremo oposto, as ciências tecnológicas têm menos cursos e nenhum com a nota máxima da avaliação (a escala vai de 1 a 7).
Do conjunto, 16 cursos são considerados deficientes (e não teriam, em tese, condição de funcionar), 79, fracos e 350, regulares - o que significa 34% dos programas oferecidos.
"Tivemos a preocupação de refinar e endurecer nossa avaliação", afirma Abilio Baeta Neves, secretário de Ensino Superior do MEC e presidente da Capes.
Segundo ele, o governo está requisitando que comissões internacionais venham ao país para analisar os cursos que, em sua avaliação, tiveram a nota máxima.
"As nossas pós-graduações que receberam nota máxima não podem agora se acomodar. O novo padrão de comparação é internacional", afirma Jacques Marcovitch, reitor da USP (Universidade de São Paulo) -que tem 10 (43%) das pós-graduações nota 7.

Reformulação
Foi a partir de uma avaliação internacional, realizada dois anos atrás, que a Capes reformulou o seu sistema de apuração da qualidade da pós-graduação brasileira.
Na avaliação divulgada em 1996, 79% dos mestrados e 90% dos doutorados receberam notas A ou B em uma escala que ia até E. A explicação para essas notas altas está relacionada à boa qualidade da pós brasileira em relação a outros países em desenvolvimento.
A Capes começou a avaliar a pós-graduação brasileira no final da década de 70. Na época, a avaliação estabeleceu critérios que apontavam o perfil que os cursos deveriam adquirir. Vinte anos depois, quase toda a pós já havia chegado a isso.
É como se o provão (que avalia os cursos de graduação) já estivesse em vigor há 20 anos: sabendo as regras da avaliação, as instituições tendem a adequar o seu trabalho aos critérios de qualidade.
A avaliação reformulada da Capes coloca um novo desafio à pós-graduação brasileira: se equiparar às melhores do mundo.




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