|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
O mal do humor
JAIRO BOUER
especial para a Folha
Mau humor tem remédio. Carrancudos e desanimados podem
estar enfrentando um problema
conhecido como distimia, um distúrbio da família da depressão,
que melhora, e muito, com o uso
de medicação adequada.
Durante muitas décadas, os psiquiatras acreditaram que esse
"jeito de ser" fosse uma característica da personalidade e que havia muito pouco a ser feito.
No entanto, nos últimos anos,
pesquisas inéditas e a descoberta
de um novo arsenal de antidepressivos mostraram que esse mau humor crônico e arrastado poderia
ser alterado com tratamento.
A tese da personalidade depressiva perdeu força e as alterações do
humor começaram a ser vistas como um desdobramento dos sintomas depressivos.
Hoje, os manuais internacionais
mais modernos de classificação
das doenças (CID-10 e DSM-IV)
definem a distimia como um quadro depressivo mais leve, duradouro (pelo menos dois anos de
existência) e, em geral, de início
precoce (começo da vida adulta).
As características do mal
As principais características são
humor depressivo na maior parte
do tempo, cansaço, baixa auto-estima, indecisão, preocupação e
desesperança. Podem aparecer
também irritação, raiva e sentimentos de culpa. Esses sintomas
levam a sofrimentos e a prejuízo
afetivo, social e ocupacional.
Mas, então, todo mal-humorado
sofre de um distúrbio como a distimia? O psiquiatra Táki Cordás,
coordenador do Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares) do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, explica que o limite
entre mau humor e distimia é,
muitas vezes, difícil de ser traçado.
Cordás, que é um dos autores do
livro "Distimia: do Mau Humor
ao Mal do Humor" (Editora Artes
Médicas), explica que alguns parâmetros que podem ser usados nessa diferenciação são a capacidade
da pessoa de mudar seu padrão de
vida e o nível de comprometimento pessoal, social e profissional.
Segundo Cordás, o mau humor
puro e simples é mais circunstancial, episódico e tem um fator desencadeante que o justifica (uma
briga, um problema financeiro,
uma sobrecarga no trabalho etc.).
A psiquiatra Denise Gama de
Souza explica que o mau humor
com características de distimia é
crônico, arrastado, permeado de
sintomas como desânimo, desesperança e com alteração significativa na qualidade de vida.
Na dúvida, Cordás acha que uma
prova terapêutica pode ser feita. A
pessoa começa a usar antidepressivos para ver se há melhora dos
sintomas. Se melhorar, comprova-se que tinha distimia. "Às vezes, a pessoa que era desanimada
havia 20 anos toma remédio e sente que está com uma nova personalidade. Na verdade, tratou um
distúrbio depressivo crônico."
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|