São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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SAÚDE
O mal do humor

JAIRO BOUER
especial para a Folha

Mau humor tem remédio. Carrancudos e desanimados podem estar enfrentando um problema conhecido como distimia, um distúrbio da família da depressão, que melhora, e muito, com o uso de medicação adequada.
Durante muitas décadas, os psiquiatras acreditaram que esse "jeito de ser" fosse uma característica da personalidade e que havia muito pouco a ser feito.
No entanto, nos últimos anos, pesquisas inéditas e a descoberta de um novo arsenal de antidepressivos mostraram que esse mau humor crônico e arrastado poderia ser alterado com tratamento.
A tese da personalidade depressiva perdeu força e as alterações do humor começaram a ser vistas como um desdobramento dos sintomas depressivos.
Hoje, os manuais internacionais mais modernos de classificação das doenças (CID-10 e DSM-IV) definem a distimia como um quadro depressivo mais leve, duradouro (pelo menos dois anos de existência) e, em geral, de início precoce (começo da vida adulta).

As características do mal
As principais características são humor depressivo na maior parte do tempo, cansaço, baixa auto-estima, indecisão, preocupação e desesperança. Podem aparecer também irritação, raiva e sentimentos de culpa. Esses sintomas levam a sofrimentos e a prejuízo afetivo, social e ocupacional.
Mas, então, todo mal-humorado sofre de um distúrbio como a distimia? O psiquiatra Táki Cordás, coordenador do Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, explica que o limite entre mau humor e distimia é, muitas vezes, difícil de ser traçado.
Cordás, que é um dos autores do livro "Distimia: do Mau Humor ao Mal do Humor" (Editora Artes Médicas), explica que alguns parâmetros que podem ser usados nessa diferenciação são a capacidade da pessoa de mudar seu padrão de vida e o nível de comprometimento pessoal, social e profissional.
Segundo Cordás, o mau humor puro e simples é mais circunstancial, episódico e tem um fator desencadeante que o justifica (uma briga, um problema financeiro, uma sobrecarga no trabalho etc.).
A psiquiatra Denise Gama de Souza explica que o mau humor com características de distimia é crônico, arrastado, permeado de sintomas como desânimo, desesperança e com alteração significativa na qualidade de vida.
Na dúvida, Cordás acha que uma prova terapêutica pode ser feita. A pessoa começa a usar antidepressivos para ver se há melhora dos sintomas. Se melhorar, comprova-se que tinha distimia. "Às vezes, a pessoa que era desanimada havia 20 anos toma remédio e sente que está com uma nova personalidade. Na verdade, tratou um distúrbio depressivo crônico."



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