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JUVENTUDE ENCARCERADA
Agressões em unidade de dirigente serão apuradas; Ministério Público pediu à Justiça saída de acusado
Após denúncias, diretor da Febem é afastado
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor), Alexandre de Moraes,
afirmou ontem que afastará da
administração da unidade 27 do
complexo Raposo Tavares o diretor José Christiano Viana.
A decisão foi divulgada no mesmo dia em que o Ministério Público pediu à Justiça a saída de Viana
por denúncias de maus-tratos.
O pedido foi motivado pelo relatório da inspeção da Comissão
de Acompanhamento das Medidas Sócio-Educativas dos Conselho Tutelares de São Paulo, feita
no último dia 13 na unidade, e a
visita da Promotoria de Justiça da
Infância e da Juventude ao local.
Durante a visita, conselheiros e
promotores encontraram adolescentes internos em regime conhecido como tranca -fechados
dentro dos quartos com janelas
gradeadas e sem vidro, sem acesso ao pátio, ao refeitório e ao banheiro. Segundo o promotor Wilson Tafner, os internos estão nessa situação há mais de dois meses.
"Se paira alguma dúvida sobre
ele [Viana], vamos afastá-lo da
administração para fazer as apurações necessárias", disse o presidente da Febem, que também é
secretário da Justiça do Estado.
Na noite de ontem, a Folha tentou
ouvir Viana, mas a assessoria de
imprensa da Febem disse que não
conseguiu localizá-lo.
Moraes contestou a adoção da
tranca na unidade. Segundo ele, a
corregedoria da fundação vistoriou a unidade e não encontrou
nenhum interno nessa situação.
"Se isso realmente ocorreu, foi à
revelia. Tanto que a corregedoria
não identificou a prática", disse.
"De qualquer forma, a denúncia
será apurada."
Segundo a promotoria e a comissão, os internos também estavam sem as atividades socioeducativas (educação básica, profissionalização, acompanhamento
psicossocial, atividades culturais
etc.) previstas no Estatuto de
Criança e do Adolescente (ECA).
Ameaça
De acordo com uma conselheira
tutelar, o caso mais grave é o de
um jovem que diz ter sido ameaçado de morte por um funcionário da unidade 27 da Raposo Tavares (zona oeste da capital).
Segundo o relato feito pelo interno, o funcionário havia dito
que faria com que a morte do garoto "parecesse um suicídio". Os
adolescentes foram entrevistados
separadamente, e um segundo jovem confirmou a ameaça do funcionário ao colega, dizendo que a
presenciou.
Conselheiros tutelares relataram ainda que os adolescentes da
unidade afirmam ser agredidos
com porretes batizados pelos funcionários com os nomes dos
membros da comissão.
Segundo eles, um dos internos
mantidos no regime de tranca tinha escoriações no corpo.
Rojões
Essa foi a terceira inspeção dos
promotores após as denúncias divulgadas no início de agosto de
que adolescentes infratores da
unidade 27 haviam sido torturados com fogos de artifício.
Na ocasião, a promotoria realizou a inspeção acompanhada por
médicos-legistas. As queimaduras que os internos apresentavam
pelo corpo foram documentadas
em fotografias, e os garotos passaram por exames.
Os laudos feitos pelos legistas
identificaram, em pelo menos
dois casos, queimaduras provocadas por explosivos.
A própria Febem realizou exames em 35 internos. O laudo, que
demorou 30 dias para ficar pronto, apontou a utilização de explosivos em dois casos, mas não conseguiu apontar o método em que
eles foram empregados.
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