São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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PISTA LIVRE

Veículo com até 57 toneladas poderá rodar sem autorização especial a partir de dezembro; limite atual é de 45 toneladas

Caminhão ultrapesado é liberado em estrada

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Caminhão na marginal Tietê, em São Paulo; novas regras entram em vigor em 15 de dezembro


VICTOR RAMOS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo federal decidiu liberar a circulação de caminhões mais pesados nas estradas e municípios brasileiros, depois da pressão das empresas transportadoras de carga. Uma frota superior a 40 mil veículos será dispensada, a partir de 15 de dezembro, da atual exigência de obter uma autorização especial para circular.
Para especialistas ouvidos pela Folha, a medida poderá acarretar em uma piora no estado do asfalto nas rodovias. Além disso, há um risco maior de que pontes e viadutos sejam danificados por conta do peso desses caminhões, que são conhecidos como bitrens.
Estão na faixa dos veículos liberados caminhões que têm de 17,50 metros a 19,80 metros e peso total superior a 45 toneladas e inferior a 57 toneladas -aproximadamente 63 veículos Palio. Antes dessa determinação, somente os de até 45 toneladas não precisavam da autorização especial.
O Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) afirma que os mais de 40 mil caminhões que circulam hoje com essas características (abrangendo ainda outras especificações técnicas) são utilizados principalmente para transportar grãos, como a soja.
"Era uma reivindicação dos transportadores de carga. Havia um impacto no custo Brasil", diz Carlos Eduardo Pini Leitão, coordenador de infra-estrutura de trânsito do Denatran, em referência às dificuldades burocráticas.
A resolução que trata da alteração foi publicada ontem no "Diário Oficial" da União. Ela estabelece 15 de dezembro como limite para que a malha viária do país tenha sinalização específica para esses veículos nos pontos em que eles não puderem trafegar, em razão do peso ou do tamanho.
Atualmente, os veículos nessa faixa de peso são obrigados a conseguir uma AET (Autorização Especial de Trânsito), emitida pelos DERs (Departamentos de Estradas de Rodagem) e pelo Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), onde se determina os locais em que os veículos poderão circular.
Para tanto, devem ser avaliadas questões como peso da carga, a distribuição dela sobre os eixos e as condições das rodovias nos Estados. Na própria autorização já acabam listados lugares por onde os caminhões não podem passar.
Técnicos do governo federal consideravam que muitas dessas "exigências teóricas" não vinham sendo praticadas e que a AET não estava cumprindo seu papel.
O engenheiro Francisco Carlos Barreto, do Instituto de Engenharia de São Paulo, diz que não haverá tempo hábil para que se possa fazer essa sinalização antes do prazo. Ele também afirma que alguns DERs terão problemas com a falta de verba para implantá-la.
Para Barreto, a medida é "temerária, irresponsável". Pela dificuldade de fazer a sinalização, ele considera que a resolução representa praticamente "uma liberação total" a esses caminhões.
O engenheiro Luís Célio Bottura, ex-presidente da Dersa, tem opinião semelhante. Ele afirma, também, que a circulação facilitada dos bitrens pode dificultar a circulação dos carros, em razão do tamanho dos caminhões.
Neuto Gonçalves dos Reis, assessor técnico da NTC (Associação Nacional do Transporte de Cargas), diz que a decisão do governo "foi uma vitória". Segundo ele, a passagem dos caminhões bitrens não é crítica para a malha viária, já que eles têm uma boa distribuição do peso pelos eixos.
O coordenador do Denatran também usa esse argumento para negar os impactos negativos no sistema viário. Diz que a mudança foi resultado de análise de um grupo técnico, que avaliou não haver prejuízo à segurança.
"O pavimento é danificado pelo excesso em um único eixo. A nova configuração é amigável, distribui em até sete eixos. Os bitrens também têm mais estabilidade. Não temos notícia de acidentes com esses veículos", afirma Leitão.
Sobre a sinalização, ele considera haver tempo hábil para os órgãos de trânsito. Leitão diz ainda que a maioria das pontes estaduais e federais tem capacidade para suportar esse peso -ou seja, só uma minoria precisaria implantar novas restrições.


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