São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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BOMBAS E GRAVATAS

Assaltante de imóveis da classe média alta do Rio joga granada para furar bloqueio e invade prédio até ser baleado

"Ladrão fashion" morre em fuga espetacular

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O ladrão mais procurado do Rio de Janeiro -loiro, de olhos verdes e nascido em família de classe média- foi morto ontem de madrugada, após perseguição policial da qual tentou escapar detonando até uma granada.
Batizado como "ladrão fashion", Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, 23, filho de ex-policial civil, foi morto com um tiro de fuzil no peito no corredor de um prédio na Lagoa, bairro nobre da zona sul. Eram 4h e ele havia acabado de furar -com o uso de uma granada -um cerco policial montado para prendê-lo na saída do túnel Rebouças (ligação entre as zonas norte e sul).
A ação para capturá-lo foi montada após escutas telefônicas terem flagrado, por volta da meia-noite, conversa de Pedro Dom com o cúmplice Sandro Soares Tavares, o Sandro Batom, em que o assaltante pedia para buscá-lo na favela Vila dos Pinheiros (complexo da Maré, zona norte) e levá-lo à Rocinha (zona sul).
Dom gostava de andar com roupas de grife, costumava ser violento com suas vítimas e tinha preferência em roubar vestimentas e calçados finos. Sem ser traficante, mas viciado em cocaína, integrava a facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos) e vivia refugiado entre as favelas da Rocinha e do complexo da Maré.
Ao saber que Pedro Dom iria para a Rocinha, a polícia cercou a saída do túnel Rebouças na Lagoa pouco depois das 2h. Ao perceber o bloqueio, Pedro Dom, que estava na garupa de uma motocicleta, pilotada por Sandro Batom, atirou a granada e abriu fogo.
Com a explosão, três policiais foram feridos por estilhaços, entre eles o delegado Eduardo Freitas, da 22ª DP (Penha, zona norte), que comandava a operação.
Os policiais passaram a perseguir Pedro Dom pelas ruas da Lagoa. Quando passavam pela rua Alexandre Ferreira, os agentes atiraram no pneu da motocicleta. Sandro Batom foi preso. Pedro Dom, no entanto, conseguiu fugir a pé e entrou no edifício Bauhaus.
Os policiais cercaram o edifício e passaram a fazer buscas pelos andares. Quando os agentes chegaram ao terceiro andar, encontraram Pedro Dom escondido próximo a uma lixeira.
Segundo a polícia, ele efetuou disparos, e os policiais revidaram. Um tiro acertou o peito do assaltante, que morreu no hospital Miguel Couto, para onde foi levado.
O delegado Eduardo Freitas -que foi ferido pelos estilhaços da granada- afirmou suspeitar que Pedro Dom estivesse drogado quando foi morto. Segundo ele, ao ser cercado no túnel Rebouças e no próprio prédio, o criminoso gritou várias vezes que não iria se entregar, que preferia morrer.
Freitas afirma que os policiais já foram para a operação cientes de que o assaltante estava armado com uma granada e pistola porque Pedro Dom havia mencionado isso na conversa grampeada que teve com o cúmplice.
O delegado disse que vinha investigando Pedro Dom havia cerca de dois meses. Apesar de ter sido atingido por estilhaços da granada, ele passa bem.
Embora tenha morrido em conseqüência do tiro no peito, o assaltante foi atingido por outros quatro disparos, todos do lado direito do corpo: no pé, na mão, no braço e no ombro.
A polícia do governo Rosinha Matheus (PMDB) afirmou que Pedro Dom estava com uma mochila e nela trazia jóias roubadas em dois assaltos a residências, um na Barra da Tijuca (zona oeste) e outro na Ilha do Governador (zona norte da cidade), que ocorrera na noite de anteontem. Na ocasião, roubou jóias, dinheiro, um computador e um carro.
Oito pessoas que seriam vítimas do assaltante foram até a 15ª Delegacia de Polícia, na Gávea (zona sul), e reconheceram as jóias como sendo delas.
Sandro Batom permanecia preso na 15ª DP até o final da tarde de ontem. A polícia não permitiu que ele falasse com os jornalistas. Ele seria acusado de fazer serviços para os traficantes.

Enterro
Pedro Dom foi enterrado na tarde de ontem no cemitério do Caju, na zona portuária do Rio. Aproximadamente 20 pessoas acompanharam o cortejo.
Gustavo Almeida, que disse ser primo do morto, foi o único que deu entrevista. Ele disse que Dom foi "executado" pelos policiais. "O meu primo levou um tiro no peito. Isso mostra que ele queria se entregar", disse Almeida.
Ele declarou que a polícia "não o queria vivo". "Nos últimos meses, ele falava que gostaria de se entregar, mas tinha medo de ser morto", afirmou Almeida. Ele disse que seu primo pagou propina a policiais de Copacabana neste ano depois de ser preso no bairro. Segundo Almeida, o preço pago foi de cerca de R$ 50 mil.


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