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Guarda-civil denuncia ritual de batismo
Segundo seu relato, ele recebeu cassetadas, apanhou no rosto e sofreu agressões e humilhações de conotação sexual
Caso aconteceu em setembro de 2005, mas sindicância da GCM de SP só começou um ano depois; ele se separou da mulher
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O guarda-civil metropolitano
Anselmo (nome é fictício por
questões de segurança), recém-transferido para a tropa de elite
da GCM de São Paulo, trocava
de roupa no vestiário da sua
unidade quando foi abordado
por colegas.
Nos minutos seguintes, Anselmo diz ter sofrido o que é conhecido na corporação como
"chá de manta" ou "batismo".
Tomou, segundo seu relato,
cassetadas em várias partes do
corpo, apanhou no rosto e sofreu agressões e humilhações
de conotação sexual -foi mordido nas nádegas e, com luvas
cirúrgicas, os colegas introduziram o dedo em seu ânus.
Era setembro de 2005. Anselmo denunciou as agressões à
sua chefia na Inspetoria de Mediação e Conflitos. Mas só em
agosto deste ano, segundo a
própria GCM, foi aberta sindicância para apurar o que ocorreu. Ainda não há conclusão.
No dia 15 de setembro de
2005, o inspetor Nelson Tadeu
da Silva Ferreira, chefe imediato de Anselmo, esteve em sua
casa e constatou: "diante dos
fatos, o GCM encontra-se depressivo, não mais compareceu
ao trabalho, tirou licença médica [...], pois sente-se humilhado, com vergonha, não consegue olhar para sua esposa nem
tampouco para seus companheiros de trabalho".
No relatório aos superiores, o
chefe diz que Anselmo precisa
de cuidados médicos especializados e que é necessário apurar
as "eventuais irregularidades
administrativas".
Anselmo ganha R$ 1.200 por
mês e, àquela altura, estava havia dois anos na corporação. Ele
acabara de ser transferido da
Inspetoria da Sé, responsável
pela fiscalização dos camelôs
da cidade. A "iniciação" ocorreu no vestiário da Mediação e
Conflitos, setor conhecido na
GCM como "choque" e sediada
no parque Dom Pedro (centro).
O "choque" tem cerca de 200
guardas, os "boinas azuis", que
atuam em situações nas quais
há risco de confronto.
Depressão
Um ano depois da denúncia
do batismo, Anselmo mora só,
numa casa de dois cômodos
alugada a R$ 180 mensais na
zona leste. A Folha esteve ontem no local, mas não conseguiu localizá-lo. Segundo vizinhos, estava num "bico".
Anselmo se separou de Sandra (nome fictício também),
33, mulher com quem viveu
por 14 anos. Segundo pessoas
de sua convivência, ele tornou-se dependente de álcool.
Desde agosto último também, o guarda responde a um
processo de exoneração da prefeitura. Segundo a GCM, ele foi
flagrado ao consumir bebida
alcoólica em serviço e por faltas no trabalho. A GCM diz que
as infrações são relativas a janeiro de 2005, antes, portanto,
da denúncia do trote, em setembro do mesmo ano.
Investigação
Dentro da GCM, a apuração
da possível violência praticada
contra o agente da guarda começou a ocorrer em maio deste
ano, após o coordenador municipal de Segurança Urbana, Alberto Silveira Rodrigues, receber a denúncia do sindicato dos
guardas-civis metropolitanos.
Na ocasião, um procedimento administrativo foi aberto, segundo o corregedor-geral da
GCM, Paulo Máximo, mas a investigação não conseguiu reunir provas que comprovassem a
autoria do abuso.
Um guarda apontado como
um dos agressores negou a acusação e outro, testemunha de
João, também desmentiu a denúncia de batismo violento.
Em agosto, quase um ano depois do episódio, o coordenador de segurança determinou a
abertura de sindicância, instrumento posterior ao procedimento administrativo.
A investigação está em andamento, afirmou o corregedor-geral, sem entrar detalhes. Paulo Máximo disse que todos serão novamente ouvidos. Caso
haja elementos para comprovação de má conduta, os envolvidos podem ser exonerados.
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