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Cartão-postal de Curitiba fecha e espera por reforma
Rua 24 Horas gerava um déficit mensal de R$ 10 mil e só
deverá reabrir se iniciativa privada assumir custos da obra
Novidade no início dos anos
90, espaço com arcos de
vidro foi palco de
inundações e era tomado
por gangues à noite
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Turistas e usuários que procuram um dos principais cartões-postais de Curitiba desde
a última semana dão de cara
com entradas bloqueadas por
tapumes. Oficialmente "fechada para reformas", a Rua 24
Horas, no centro, só deve reabrir se a iniciativa privada assumir o custo de R$ 5 milhões das
obras e a gestão do local.
Inaugurada em 1991, a obra
sobreviveu por 16 anos à decadência gradativa e ao abandono
do poder público, até a prefeitura, administrada por Beto Richa (PSDB), decidir passar para
a frente o que hoje considera
um ponto de prejuízo.
O déficit mensal, estima o diretor de negócios da Urbs (Urbanização de Curitiba), Clodoaldo Pinheiro Júnior, é de R$
10 mil com energia elétrica e
guardas municipais.
E não é só. A Justiça penhorou as contas da Urbs, empresa
pública que gerencia o espaço,
como garantia de dívida de R$ 5
milhões com a construtora
NHF por restos a receber pela
obra. Em acordo, a Urbs conseguiu reduzir o débito para R$
2,6 milhões.
Na segunda, dia em que os
operários chegaram para fechar a rua, as seis lojas que resistiam foram despejadas.
Eram 42 quando a rua foi inaugurada como o primeiro de
uma série de equipamentos urbanos inovadores da gestão Jaime Lerner (hoje no PSB).
Coberta de vidro fixado em
arcos metálicos, a Rua 24 Horas é uma espécie de galeria de
pequenas lojas com mezaninos,
que atravessa o quarteirão da
avenida Visconde de Nacar até
a rua Visconde do Rio Branco.
Fica perto do calçadão, de praças e de hotéis de luxo do centro de Curitiba. Novidade no
início dos anos 90, os arcos de
vidro não impediram a chuva e,
com ela, a corrosão do material
e o transtorno a lojistas e fregueses. A rua inundava a cada
enxurrada mais forte.
Nas entradas da rua, a distração do turista era entender os
complexos relógios que marcam as 24 horas do dia, as duas
únicas coisas que permanecem
funcionando no local.
Sobrevivente
"Perdi quilos de jornais [por
causa da chuva]", diz o advogado Roberto Amaral, 73, que
manteve nos últimos 16 anos a
única revistaria da rua aberta
24 horas por dia. Ele conta que
resistiu à decadência do ponto
turístico apenas por insistência
da mulher, mas que sair agora
"foi um sacrifício terrível".
Mesmo tendo transferido a
banca para um espaço de 200
metros quadrados -o dobro do
anterior-, com o mesmo valor
de aluguel e vizinho à Rua 24
Horas, ele diz que quer voltar.
"A [Rua] 24 Horas é um ícone
que não morre com o fechamento. Já devia ter morrido pelo trato que os administradores
públicos deram a ela ao longo
desses anos. E espero que sobreviva à reforma", disse.
Foi por empenho de Amaral
como presidente da associação
dos permissionários que uma
das lojas da rua virou posto da
PM, há cinco anos, e depois da
Guarda Municipal. A rua havia
sido tomada por gangues e baderneiros nas madrugadas.
A expectativa da Urbs para
solucionar o problema é iniciar
licitação para gestão do local
em 90 dias e reabrir a rua em
oito meses. Pelo modelo previsto, a empresa vencedora deverá
remodelar o ponto turístico
nos moldes previstos pelo IPPUC (Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba) e terá permissão para explorar o espaço por tempo e valor ainda indefinidos.
O novo projeto prevê apenas
seis lojas na rua: restaurante,
farmácia, supermercado, ponto
de artesanato, banca de revistas
e jornais e café.
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