São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Cartão-postal de Curitiba fecha e espera por reforma

Rua 24 Horas gerava um déficit mensal de R$ 10 mil e só deverá reabrir se iniciativa privada assumir custos da obra

Novidade no início dos anos 90, espaço com arcos de vidro foi palco de inundações e era tomado por gangues à noite

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Turistas e usuários que procuram um dos principais cartões-postais de Curitiba desde a última semana dão de cara com entradas bloqueadas por tapumes. Oficialmente "fechada para reformas", a Rua 24 Horas, no centro, só deve reabrir se a iniciativa privada assumir o custo de R$ 5 milhões das obras e a gestão do local.
Inaugurada em 1991, a obra sobreviveu por 16 anos à decadência gradativa e ao abandono do poder público, até a prefeitura, administrada por Beto Richa (PSDB), decidir passar para a frente o que hoje considera um ponto de prejuízo.
O déficit mensal, estima o diretor de negócios da Urbs (Urbanização de Curitiba), Clodoaldo Pinheiro Júnior, é de R$ 10 mil com energia elétrica e guardas municipais.
E não é só. A Justiça penhorou as contas da Urbs, empresa pública que gerencia o espaço, como garantia de dívida de R$ 5 milhões com a construtora NHF por restos a receber pela obra. Em acordo, a Urbs conseguiu reduzir o débito para R$ 2,6 milhões.
Na segunda, dia em que os operários chegaram para fechar a rua, as seis lojas que resistiam foram despejadas. Eram 42 quando a rua foi inaugurada como o primeiro de uma série de equipamentos urbanos inovadores da gestão Jaime Lerner (hoje no PSB).
Coberta de vidro fixado em arcos metálicos, a Rua 24 Horas é uma espécie de galeria de pequenas lojas com mezaninos, que atravessa o quarteirão da avenida Visconde de Nacar até a rua Visconde do Rio Branco. Fica perto do calçadão, de praças e de hotéis de luxo do centro de Curitiba. Novidade no início dos anos 90, os arcos de vidro não impediram a chuva e, com ela, a corrosão do material e o transtorno a lojistas e fregueses. A rua inundava a cada enxurrada mais forte.
Nas entradas da rua, a distração do turista era entender os complexos relógios que marcam as 24 horas do dia, as duas únicas coisas que permanecem funcionando no local.

Sobrevivente
"Perdi quilos de jornais [por causa da chuva]", diz o advogado Roberto Amaral, 73, que manteve nos últimos 16 anos a única revistaria da rua aberta 24 horas por dia. Ele conta que resistiu à decadência do ponto turístico apenas por insistência da mulher, mas que sair agora "foi um sacrifício terrível".
Mesmo tendo transferido a banca para um espaço de 200 metros quadrados -o dobro do anterior-, com o mesmo valor de aluguel e vizinho à Rua 24 Horas, ele diz que quer voltar.
"A [Rua] 24 Horas é um ícone que não morre com o fechamento. Já devia ter morrido pelo trato que os administradores públicos deram a ela ao longo desses anos. E espero que sobreviva à reforma", disse.
Foi por empenho de Amaral como presidente da associação dos permissionários que uma das lojas da rua virou posto da PM, há cinco anos, e depois da Guarda Municipal. A rua havia sido tomada por gangues e baderneiros nas madrugadas.
A expectativa da Urbs para solucionar o problema é iniciar licitação para gestão do local em 90 dias e reabrir a rua em oito meses. Pelo modelo previsto, a empresa vencedora deverá remodelar o ponto turístico nos moldes previstos pelo IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) e terá permissão para explorar o espaço por tempo e valor ainda indefinidos.
O novo projeto prevê apenas seis lojas na rua: restaurante, farmácia, supermercado, ponto de artesanato, banca de revistas e jornais e café.


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