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Prefeitura de SP economiza pouco com "cidade suja"
Valor poupado com cortes na limpeza pública, de R$ 76 milhões, equivale a apenas 1 mês de subsídio dado às empresas de ônibus
Desde maio, administração desembolsa valor parecido para manter passagem de ônibus a R$ 2,30, promessa de campanha de Kassab
DA REPORTAGEM LOCAL
O dinheiro economizado pelo prefeito Gilberto Kassab
(DEM) com cortes na limpeza
pública da cidade de São Paulo
é hoje suficiente para bancar
apenas um mês dos gastos com
subsídios à tarifa de ônibus.
A prefeitura reduziu os contratos de coleta e varrição de
modo que até dezembro a economia será de R$ 76,4 milhões.
É quase a mesma quantia
mensal que ela tem desembolsado desde maio para que a passagem de R$ 2,30 não suba.
Essa política tem sido adotada para cumprir a promessa de
campanha de Kassab de manter a tarifa de ônibus congelada
pelo terceiro ano consecutivo.
Os subsídios em 2006 para
equilibrar as receitas e as despesas de viações e perueiros
eram de R$ 25 milhões por mês.
Após aumentar esses repasses nos últimos três anos, a gestão Kassab havia fixado um limite mensal de R$ 50 milhões
em subvenções para este ano,
em razão da crise econômica.
Mas ele foi ultrapassado em
quatro dos últimos cinco meses
-alcançando R$ 75 milhões. A
prefeitura alega que os subsídios "extras" se devem à renovação da frota (que neste ano
foi drasticamente reduzida).
Essa tem sido uma das poucas áreas poupadas pelo prefeito diante de um quadro de crise
financeira que reduziu a previsão de receita para este ano.
As empresas de transporte
coletivo têm proximidade com
Kassab. Um irmão do prefeito é
consultor antigo das viações.
O aumento do subsídio ocorreu após as empresas avisarem
a Câmara sobre uma provável
piora dos serviços -alegando
"desrespeito contratual" pela
falta de repasses referentes à
compra de veículos novos.
A economia de R$ 76,4 milhões na limpeza urbana corresponde a 0,3% da arrecadação de R$ 25 bilhões prevista
pela prefeitura para este ano.
Os cortes motivaram críticas
devido à sujeira das ruas, agravando os transtornos com a
chuva da semana passada.
O Selur (Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no
Estado) calcula que a redução
de 20% no valor dos contratos
vai diminuir em 81% a coleta de
entulho e em 32% a varrição.
Além disso, serão demitidos
3.274 funcionários, mais de um
terço do total (antes a entidade
falava na demissão de 1.600).
A prefeitura informou que
não reconhece os cálculos do
Selur. "Esses números não são
homologados pela prefeitura,
que os considera irreais", diz.
Erro administrativo
O cientista político Marco
Antonio Carvalho Teixeira, da
Fundação Getúlio Vargas, avalia que Kassab cometeu um erro político que se converteu em
problema administrativo e gerou desgastes "inimagináveis".
"Cortar a coleta de lixo, um
serviço essencial, gera problemas não só com enchentes, mas
aumenta roedores que transmitem doenças. A impressão é
que a prefeitura negligenciou."
Também houve, diz ele, uma
aposta malsucedida de que a redução dos serviços do lixo ocorreria num período seco, sem
enchentes. "Faltou combinar
com são Pedro."
Fernando Antônio Azevedo,
cientista político ligado à UFSCar, tem opinião semelhante.
"O cálculo que devem ter feito era de que os cortes iriam ter
pequena repercussão estética.
Foi um cálculo ruim, tanto do
ponto de vista político como da
administração pública. Não
adianta cobrir a cabeça e deixar
os pés de fora", diz.
Para ele, a confirmação feita
por Kassab de que a tarifa de
ônibus será reajustada em janeiro de 2010 indica que "a promessa eleitoral" de mantê-la
neste ano foi simbólica, mas
não tecnicamente adequada.
Despesas
O relatório das contas do município do período mais agudo
da crise, de janeiro a abril, mostra que, enquanto a receita de
impostos subiu só 0,3% (já descontada a inflação), as despesas
obrigatórias, como as de manutenção e folha de pagamento,
aumentaram quase 20 vezes.
Kassab gasta mais com manutenção porque, a cada vez
que faz novos postos de saúde,
CEUs, escolas, unidades de
saúde ou parques, por exemplo,
precisa contratar pessoal, manter a limpeza e a segurança.
Além disso, crescem as despesas com a folha salarial.
Neste ano, os gastoS com
custeio da máquina serão cerca
de R$ 500 milhões maiores em
relação ao ano passado. No período foram entregues 12 CEUs
e mais de 60 AMAs (assistências médicas ambulatoriais).
(ALENCAR IZIDORO, EVANDRO SPINELLI e JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)
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