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DEPOIMENTO
Na Universidade Harvard, você é só um grão de areia em boa companhia
VOCÊ ESTÁ EM UMA MÁQUINA DE ENSINAR BEM AZEITADA QUE JÁ FORMOU MAIS DE 320 MIL PESSOAS ESPALHADAS POR 191 PAÍSES
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GUSTAVO ROMANO
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Vocês só estão aqui porque foram os melhores de onde quer que vocês vieram.
Mas não se esqueçam: aqui,
vocês são todos iguais. E isso
vai deprimi-los."
Foi brincando assim que o
reitor nos recepcionou no
primeiro dia de aula em
2000. Éramos 150 alunos de
mestrado vindos de 60 países. Na minha mesa, havia o
filho de um juiz da Suprema
Corte indiana, o filho de um
dos homens mais ricos da
Arábia Saudita, um sul-africano preso 32 vezes durante
o apartheid e um alemão que
depois foi fazer dois doutorados simultaneamente.
Aqueles dois minutos foram uma boa aula do que é
estudar em Harvard.
Primeira lição: você está
em uma máquina de ensinar
bem azeitada que já formou
mais de 320 mil pessoas espalhadas por 191 países.
Fundada em 1817, a faculdade é a escola de direito
mais antiga dos EUA. Lá se
formaram seis dos atuais nove juízes da Suprema Corte
norte-americana, além de
outros tantos procuradores-gerais e presidentes, incluindo Obama e Kennedy.
Em Harvard, você é apenas um grão de areia em boa
companhia.
INFERIORIDADE
Segunda lição: você vai estudar com pessoas muito
mais inteligentes que você
-e isso é uma situação inédita para a maioria. Para compensar esse recém-adquirido
sentimento de inferioridade,
você acaba estudando o tempo todo. São mais de 260 matérias eletivas com alguns
dos maiores juristas do mundo. Com 16 milhões de livros
espalhados por 70 prédios,
as bibliotecas vivem lotadas.
Terceira lição: apesar da
competição, em um ambiente tão intenso você cria relações de amizade que perduram para o resto da vida. No
futuro, esses amigos acabam
se tornando sua rede de contatos profissionais.
Quarta lição: Harvard atrai
pessoas bem conectadas,
mas só conexão não basta.
Como cartas de recomendação são um critério importante para a admissão, ser filho
de um ministro ou dono de
uma multinacional ajuda,
mas o verdadeiro critério de
admissão é saber o que você
fez com as oportunidades
que teve. Em Harvard a moeda corrente são suas notas.
Pouco importa seu pedigree.
Última lição: ninguém se
leva muito a sério. Ao contrário do estereótipo, os estudantes e professores estão
sempre brincando. Talvez
para aliviar a tensão, talvez
por saberem que tiveram
uma oportunidade única.
O professor GUSTAVO ROMANO , 35, sócio
da Quanta Corporate Citizenship e
fundador do projeto Para Entender Direito
(www.ParaEntenderDireito.org), fez
mestrado em direito em Harvard.
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