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São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

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DIREITOS HUMANOS

Deputado recebeu ameaça um dia após assassinato de homem que prometeu denunciar tortura policial

Mais uma testemunha é ameaçada na PB

EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA

Um dia após um homem ter sido assassinado na Paraíba, em mais um crime atribuído à ação de grupos de extermínio, o deputado estadual Frei Anastácio (PT), 58, recebeu ameaça de morte na última segunda-feira. No domingo, Reginaldo Firmino Alves, 38, foi morto com um tiro na cabeça.
Alves foi morto em uma praça de João Pessoa (PB), ao ser alvejado por dois homens que estavam em uma moto. Na quarta-feira passada, ele havia dito numa rádio de Bayeux, município próximo de João Pessoa, que denunciaria à Justiça um policial militar.
Na entrevista, feita por telefone, disse que havia presenciado um ato de tortura policial contra uma pessoa do seu bairro -os nomes não foram revelados.
Para o deputado federal Luiz Couto (PT-PB), relator de um CPI criada para apurar a ação de matadores de aluguel no Brasil, o crime é semelhante ao ocorrido no último dia 27 -quando Flávio Manoel da Silva, 33, foi morto a tiros perto da sua casa, em Pedras de Fogo (57 km de João Pessoa), pelo garupa de uma moto.
Testemunha de uma CPI estadual que investigou denúncias de ações de grupos de extermínio no Estado, Silva havia prestado depoimento à relatora especial para execuções sumárias da ONU (Organização das Nações Unidas), a paquistanesa Asma Jahangir, quatro dias antes de morrer.
O deputado Frei Anastácio, presidente de uma CPI estadual que em 2001 investigou assassinatos ocorridos no campo, recebeu ameaça de morte por telefone na manhã de segunda-feira, mesmo dia em que entregou à Polícia Federal um relatório com denúncias de um suposto esquema criminoso que envolveria policiais.
No telefonema, o interlocutor apenas disse: "Avisa para o Frei Anastácio que ele pode ser o terceiro assassinado". A ameaça faz referência às mortes de Flávio Manoel da Silva e de Reginaldo Firmino Alves, diz o deputado.
Apesar de andar escoltado dia e noite por policiais militares há cerca de quatro meses, o deputado declarou se sentir vulnerável.
No relatório, o deputado denuncia um suposto esquema de venda de armas e de drogas em barracas do Mercado Central de João Pessoa. Ele diz que policiais e ex-policiais militares, civis e da Polícia Rodoviária Federal integram o esquema, acobertando as supostas ações criminosas.
A assessoria de imprensa do gabinete da Secretaria da Segurança Pública informou que o Gabinete de Gestão Integrada -que congrega as polícias Civil, Militar e Federal- já investigava o caso antes da denúncia do deputado.
Ainda segundo a assessoria, quatro pessoas, sob acusação de integrar o suposto grupo criminoso, foram presas na semana passada. Sobre o crime de domingo, o delegado José Henrique da Silva Filho disse que era muito cedo para elaborar alguma hipótese.


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