São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2004

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PERNAMBUCO

Corpo de porteiro estava entre escombros de edifício; três pessoas permaneciam desaparecidas até ontem

Primeira vítima de desabamento é localizada

Alcione Ferreira/"Diário de Pernambuco"
Bombeiros trabalham na busca de vítimas da queda de um prédio em Jaboatão dos Guararapes (região metropolitana de Recife)


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O corpo do porteiro Antonio Félix dos Santos, 38, foi encontrado ontem pelas equipes de resgate em meio aos destroços do prédio que desabou na noite de anteontem, em Jaboatão dos Guararapes (região metropolitana de Recife).
Até o final da tarde, dois operários que trabalhavam na avaliação da estrutura do edifício e um bombeiro contratado como segurança do condomínio continuavam desaparecidos.
Os dois homens atropelados quando tentavam fugir do desabamento foram hospitalizados em Recife. Um deles permanecia em estado grave.
O desmoronamento aconteceu às 20h30. O edifício Areia Branca, situado em uma região de classe média alta da cidade, no bairro de Piedade, a 50 metros da praia, tinha 12 andares, com dois apartamentos de 220 metros quadrados por andar. O prédio ruiu sobre sua base, horas após ser evacuado por decisão dos moradores.
As causas do acidente ainda são desconhecidas. Por precaução, dois prédios vizinhos também foram evacuados.
O clima ontem no local era de comoção. Na calçada, isolados por uma corda, parentes dos desaparecidos choravam e eram atendidos por médicos. Grávida de quatro meses, a mulher do porteiro morto, Girlene Barbosa da Silva, contava que o marido saiu para trabalhar às 15h dizendo não temer a situação, porque o prédio não cairia "de uma vez".
Ex-moradores do edifício acompanhavam de longe o trabalho das equipes de resgate. "Perdi tudo o que tinha. Hoje sou um sem-teto", disse o médico Hugo Marcelo de Brito, 62. Morador há 25 anos do apartamento 401, Brito calculou seu prejuízo em cerca de R$ 250 mil. O médico, hoje hospedado com a mulher e uma filha na casa de um cunhado, conta que o primeiro sinal de risco surgiu na manhã de terça-feira, na forma de um estrondo. "Logo depois, notei que as portas dos elevadores e do lado par do edifício desalinharam." No subsolo, Brito disse que viu fissuras na caixa-d'água.
Na quarta-feira à noite, novos estalos foram ouvidos. Os moradores se reuniram e, às 2h da quinta-feira, decidiram abandonar o prédio. "Saímos somente com a roupa do corpo e os documentos pessoais."
O engenheiro Taufig Asfura, responsável pelos cálculos estruturais do prédio, e a Defesa Civil de Pernambuco foram chamados para avaliar a situação. Asfura, segundo o síndico Celso Mello Júnior, recomendou os serviços de outra empresa, a Jatobeton. Ainda segundo o síndico, a Defesa Civil foi ao local e, após vistoria, informou que não havia risco iminente de desabamento.
Na tarde da quinta-feira, dez funcionários da Jatobeton foram ao edifício para inspecionar sua estrutura. À noite, o prédio ruiu. O coordenador da Defesa Civil, Marco Antonio da Silveira Alves, disse que a avaliação feita pela entidade era "preliminar" e que o exame visual "não mostrava risco de desabamento". No final da tarde, o governo do Estado emitiu nota afirmando que a Defesa Civil "orientou os moradores a não retornarem ao prédio".


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