São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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Sem verba, Exército deixa de levar água para vítimas da seca

Programa de carros-pipa beneficia 387 cidades em oito Estados que já estão em situação de emergência por causa da estiagem

Programa, que custa cerca de R$ 10 milhões ao mês, já havia sido interrompido no início deste ano também por falta de recursos

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O Exército suspendeu o abastecimento de água às vítimas da seca em oito Estados (CE, BA, MG, PE, PI, PB, RN e TO), prejudicando milhares de moradores de 387 municípios do semi-árido do país que já tiveram decretada situação de emergência justamente por causa da falta de chuvas.
O motivo alegado pelo Exército para interromper ontem o programa de carros-pipa é a falta de repasses pelo Ministério da Integração Nacional, responsável pelos recursos.
O Exército executa a contratação dos carros-pipa e coordena sua distribuição, mas só o faz quando há dinheiro em caixa. Segundo o centro de comunicação social do Exército, o programa "Operação Pipa", custa cerca de R$ 10 milhões por mês.
A distribuição de água vinha sendo feita em 174 municípios, mas outros 213 já estavam com os trâmites legais concluídos para começar a receber a ajuda a partir de agora. O Exército diz não ser possível informar quanto de água deixará de ser distribuído nem o número de pessoas afetadas.
No Piauí, só 2 dos 147 municípios em situação de emergência por causa da estiagem tinham começado a receber os carros-pipa do Exército.
No Ceará, ontem, dos 89 municípios que já vinham recebendo a água, 73 amanheceram sem a ajuda. Nos demais, os estoques devem durar pelo resto da semana. Só em Pernambuco, a Coordenação de Defesa Civil do Estado calcula que sejam afetadas pela falta d'água cerca de 460 mil pessoas.
Nas margens do rio São Francisco ou bem próximo a ele, em municípios como Petrolina, Floresta, Belém de São Francisco e Salgueiro, em Pernambuco, também são necessários carros-pipa, segundo a Defesa Civil do Estado.
A seca hoje afeta até mesmo locais próximos a grandes reservatórios, como é o caso do Castanhão, no interior do Ceará, com capacidade de armazenar 6,7 bilhões de metros cúbicos de água (hoje está com 54,9% de sua capacidade).
Não é a primeira vez que o Exército interrompe a distribuição de água na época de seca. Em janeiro, o mesmo programa já havia sido interrompido por dez dias, também por falta de recursos. Dessa vez, o Ministério da Integração Nacional afirma que a situação será normalizada nos próximos dias (leia texto nesta página).
O período de chuvas nas regiões hoje mais afetadas pela estiagem, que geralmente ocorre no início do ano, não foi anormal neste ano, segundo o meteorologista Namir Mello, da Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos). O problema, diz, é que as chuvas foram má distribuídas e não possibilitaram um acúmulo em reservatórios.
"Houve seca em 2005 e, em 2006, choveu dentro da média histórica, como em 2007. Era preciso chover mais para acumular água", disse.
Os maiores prejuízos são para os pequenos agricultores, que não têm irrigação. Em setembro, em Madalena (190 km de Fortaleza), um grupo invadiu a prefeitura e ameaçou fazer saques -o que só não ocorreu porque após distribuição de cestas básicas.
A maioria desses agricultores não tem acesso ao principal programa de socorro à seca da União, que paga R$ 550 aos agricultores familiares que tiveram perdas de mais de 50% da safra por causa da seca porque nem todos os municípios aderiram ao programa.


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