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Sem verba, Exército deixa de levar água para vítimas da seca
Programa de carros-pipa beneficia 387 cidades em oito Estados que já estão em situação de emergência por causa da estiagem
Programa, que custa cerca de R$ 10 milhões ao mês, já havia sido interrompido no início deste ano também
por falta de recursos
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O Exército suspendeu o
abastecimento de água às vítimas da seca em oito Estados
(CE, BA, MG, PE, PI, PB, RN e
TO), prejudicando milhares de
moradores de 387 municípios
do semi-árido do país que já tiveram decretada situação de
emergência justamente por
causa da falta de chuvas.
O motivo alegado pelo Exército para interromper ontem o
programa de carros-pipa é a falta de repasses pelo Ministério
da Integração Nacional, responsável pelos recursos.
O Exército executa a contratação dos carros-pipa e coordena sua distribuição, mas só o faz
quando há dinheiro em caixa.
Segundo o centro de comunicação social do Exército, o programa "Operação Pipa", custa
cerca de R$ 10 milhões por mês.
A distribuição de água vinha
sendo feita em 174 municípios,
mas outros 213 já estavam com
os trâmites legais concluídos
para começar a receber a ajuda
a partir de agora. O Exército diz
não ser possível informar
quanto de água deixará de ser
distribuído nem o número de
pessoas afetadas.
No Piauí, só 2 dos 147 municípios em situação de emergência por causa da estiagem tinham começado a receber os
carros-pipa do Exército.
No Ceará, ontem, dos 89 municípios que já vinham recebendo a água, 73 amanheceram
sem a ajuda. Nos demais, os estoques devem durar pelo resto
da semana. Só em Pernambuco,
a Coordenação de Defesa Civil
do Estado calcula que sejam
afetadas pela falta d'água cerca
de 460 mil pessoas.
Nas margens do rio São
Francisco ou bem próximo a
ele, em municípios como Petrolina, Floresta, Belém de São
Francisco e Salgueiro, em Pernambuco, também são necessários carros-pipa, segundo a
Defesa Civil do Estado.
A seca hoje afeta até mesmo
locais próximos a grandes reservatórios, como é o caso do
Castanhão, no interior do Ceará, com capacidade de armazenar 6,7 bilhões de metros cúbicos de água (hoje está com 54,9% de sua capacidade).
Não é a primeira vez que o
Exército interrompe a distribuição de água na época de seca. Em janeiro, o mesmo programa já havia sido interrompido por dez dias, também por
falta de recursos. Dessa vez, o
Ministério da Integração Nacional afirma que a situação será normalizada nos próximos
dias (leia texto nesta página).
O período de chuvas nas regiões hoje mais afetadas pela
estiagem, que geralmente ocorre no início do ano, não foi
anormal neste ano, segundo o
meteorologista Namir Mello,
da Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos). O problema, diz,
é que as chuvas foram má distribuídas e não possibilitaram
um acúmulo em reservatórios.
"Houve seca em 2005 e, em
2006, choveu dentro da média
histórica, como em 2007. Era
preciso chover mais para acumular água", disse.
Os maiores prejuízos são para os pequenos agricultores,
que não têm irrigação. Em setembro, em Madalena (190 km
de Fortaleza), um grupo invadiu a prefeitura e ameaçou fazer saques -o que só não ocorreu porque após distribuição de
cestas básicas.
A maioria desses agricultores
não tem acesso ao principal
programa de socorro à seca da
União, que paga R$ 550 aos
agricultores familiares que tiveram perdas de mais de 50%
da safra por causa da seca porque nem todos os municípios
aderiram ao programa.
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